Atraso muda pela quarta vez retorno da Feira Hippie
Previsão dada pela prefeitura aos feirantes é que o espaço seja entregue até junho deste ano | Foto: Wesley Costa
João Paulo Alexandre
Esperançoso. É esse sentimento dos comerciantes da Feira Hippie sobre a finalização das obras na Praça do Trabalhador, no Centro de Goiânia. Os trabalhos já somam 640 dias de atraso e a previsão de entrega do espaço está prevista para acontecer entre o final de maio e o início de junho. Essa é a quarta data dada pela prefeitura aos feirantes para que eles possam voltar a montar as barracas no local.
O presidente da Associação da Feira Hippie. Waldivino da Silva, conta que muitos lojistas estão ansiosos para montar as bancas no novo local. Desde o início das obras, a Feira Hippie funciona no contorno da Praça do Trabalhador. Com isso, muitos feirantes destacam os problemas que a construção levou para os trabalhadores. O principal deles é que, com a chuva, muito barro é levado para os locais onde as barracas são montadas.
“O pessoal está com muita dificuldade. Quando chove, tudo fica alagado e a mercadoria que cai nas poças de lama não podem ser mais ser vendidas”, lamenta. Segundo ele, são cerca de 5,8 mil famílias que dependem do sustento do local e que muitas já não sabem mais o que fazer se o espaço não for entregue por completo.
Um outro problema apontado por Waldivino é a distribuição dos feirantes nos locais provisórios. Segundo ele, houve uma divisão e um muro construído na região contribuiu muito para a diminuição da visibilidade de uma parte das barracas. “O muro dividiu a feira, quem está de um lado, não consegue ver o outro e deixa parte dos feirantes prejudicados com o local menos privilegiado”
O presidente da associação destaca que a situação mais crítica é na região conhecida como “rabo de gato” que fica próximo à Leroy Merlin. Segundo ele, os trabalhadores que ficam no local sofrem com os piores alagamentos e com muita formação de lama. A divisão da Feira em três quadras enfraquece as vendas no local. “Fica parecendo que são três locais diferentes. Quem vai fazer compras em um, não vai ao outro.”
Cronograma
As obras no local começaram em 17 de junho de 2019. O que o mundo não contava era a pandemia do novo coronavírus. Apesar disso, o vírus que assola o Brasil e o mundo não foi justificativa para o atraso das obras. No governo de Iris Rezende (MDB), as obras ficaram a cargo da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Seinfra). Logo depois, as obras passaram para a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano (Seplanh).
A obra está orçada em R$ 6,8 milhões. As obras eram para terem sido entregues em 2019, mas não ocorreu devido às chuvas de final de ano e, por isso, foram adiadas. Logo depois, a nova data prevista era para junho de 2020, mas a empreiteira responsável pela construção solicitou uma nova postergação e a data mudou para o mês de setembro.
Após a responsabilidade passar para a Seplanh, a pasta informou que, segundo o contrato celebrado, o término das obras deveriam ocorrer em dezembro do ano passado, o que seria o terceiro adiamento da inauguração do espaço. A Seplanh disse que o dinheiro para a conclusão da obra está em caixa, mas o que pode atrasar a intervenção urbanística são os trâmites burocráticos dentro da própria Prefeitura.
O projeto do espaço consiste em 83 vagas para motos, 116 para bicicletas e 68 espaços para ônibus ao redor de toda estrutura. Na última quarta-feira (17), a Prefeitura, por meio da Seinfra – que passou a ter responsabilidade sobre a obra novamente, iniciou o asfaltamento nas baias destinadas ao estacionamento dos coletivos em torno da Praça do Trabalhador. Porém, segundo a prefeitura, serão apenas 43 vagas, o que representa a retirada de 25 vagas para ônibus no local. Não foi explicado o porquê da diminuição, mas sabe-se que a obra no local passou por revisão devido estar no meio de outras duas grandes obras: o corredor do BRT e o prolongamento da Avenida Leste-Oeste.
Ainda segundo a prefeitura de Goiânia, a entrada e saída para acesso, através da Rua 44, viela da Rua 44 e Avenida Goiás Norte, que também já estão em construção. O espaço conta com 49 mil metros quadrados e a previsão é ter um posto da Guarda Civil Metropolitana, sanitário e uma enfermaria.
Ele destaca que a expectativa era que todo o espaço das montagem das barracas fosse asfaltado. Porém, a prefeitura decidiu fazer paver de concreto em todo o percurso. “Esperamos que eles se desprendam e acabem criando buracos ao longo de onde foram instalados. Tivemos essa impressão pois vimos isso ocorrer em outros lugares. Mas a prefeitura garantiu que isso não vai acontecer”, destaca.
Pandemia
Waldivino conta que, em janeiro deste ano, houve uma conversa com a Secretaria de Desenvolvimento e Economia Criativa e ficou acertado alguns pontos para o retorno dos mais de 5,8 mil feirantes que atuam no local. O objetivo é a regularização dos espaços. “Nós vamos nos reunir com o Ministério Público de Goiás para que possamos assinar um Termo de Ajuste de Conduta. Uma das mudanças é que antes eram 19 quadras. Agora serão denominados corredores”, explica Waldivino.
Além disso, o anseio do retorno das atividades é para dar mais dignidade aos trabalhadores. Muitos feirantes se adequaram às regularizações dos decretos estaduais e municipais para o funcionamento do local. Entretanto, a queda das vendas é inevitável e alguns já sentiram o impacto. “Muitos tiveram que vender alguns bens, como carros e motos. Muitos tiveram crises de ansiedade e desenvolveram depressão por não trabalharem e não conseguirem sustentar os lares. A gente vem ajudando com o recolhimento de cestas básicas para essas pessoas que estão mais necessitadas”, conta.
Montadores de tendas também estão prejudicados
Os locais provisórios atingidos pela chuva também estão prejudicando os montadores de barracas. Devido às migrações dos feirantes, Gustavo Evangelista da Costa perdeu 30 pontos na quadra onde monta as barracas. Ele trabalha como montador na Feira Hippie e da Madrugada há 20 anos. “A cada mês de atraso da obra eu tenho prejuízo de R$ 3,2”, afirma. Ele relata que os feirantes desistiram de ficar no local onde monta suas tendas.
Gustavo começou seu trabalho nas feiras com apenas 16 pontos de montagem de barracas. Após dez anos, ele conseguiu dobrar o número de pontos. Hoje, depois de 20 anos trabalhando no ramo, o trabalhador regrediu. “Estava com 50 pontos com barracas e por causa da obra tive um retrocesso. Voltei 10 anos no tempo em meu negócio”.
Antes de se tornar montador de barracas, ele trabalhava em uma metalúrgica, onde se feriu e perdeu parte dos dedos da mão. Se a previsão das obras continuar a se prolongar, Gustavo acredita que terá que mudar de profissão novamente. “Não tem outro jeito. Falaram que iam entregar em novembro, depois em maio, agora em julho? Se continuar assim vou ter que arrumar outro serviço”, lamenta. (Especial para O Hoje)