Frio deve atingir 1,2 mil pessoas em situação de rua
Campanhas de agasalhos amenizam esse tempo frio na madrugada e quente durante o dia
O frio que se tornou uma marca entre os meses de maio e julho em Goiânia virou preocupação das autoridades com outro público: pessoas em situação de rua. Segundo levantamento feito pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS) esse período mais gelado pode atingir cerca de 1,2 mil pessoas que vivem nesta situação da Capital.
A pasta destaca que neste número estão incluídas pessoas que trabalham vendendo algo nos sinaleiros e mendigos. Deste total, 40% são pessoas que têm as ruas como o seu lar, 30% são de homens que trabalham em semáforos vendendo produtos para sobrevivência, 20% são mulheres com crianças que mendigam ou vendem balas nos sinais e 10% são casais que decidiram trabalhar pelas ruas da cidade ou mendigam juntos com os filhos.
O grande desafio ressaltado pela pasta é agasalhar e acolher todas essas pessoas que estão expostas a essa condição climática. A SEDHS aponta que a demanda de agasalhos já tem aumentado no Centro de Referência Especializado para População de Rua (Centro Pop). A expectativa é que haja a doação de cerca de 800 cobertores, como o que já ocorreu em anos anteriores. Essas proteções serão distribuídas em pontos com maiores demandas, como as regiões de Campinas, Centro e adjacências.
O Centro Pop fica localizado na Alameda Botafogo, no Setor Central e é um espaço que oferece alimentações diárias, orientação sobre direitos, documentações e encaminhamentos aos demais serviços da proteção social básica. Assim como as demais políticas públicas, instituições afins, conselhos tutelares, delegacias especializadas e demais serviços da rede de proteção dos direitos.
O serviço, segundo a Secretaria, é ofertado para pessoas que adotaram a rua como espaço de moradia ou sobrevivência. O espaço conta com recepção, cozinha, refeitório, banheiros com chuveiro, vestiários, lavanderia, salas de atendimento coletivo e individualizado. Os acolhidos no local recebem kit de higiene pessoal e alimentação. O local conta com uma equipe formada por coordenadores, assistentes sociais, psicólogos, advogados, educadores sociais, recepcionistas, técnicos administrativos e serviços gerais.
Outro trabalho de agasalhamento é feito pelas equipes do Centro de Referência e Assistência Social (Cras). Na unidade do Setor Santo Afonso ocorreu a entrega de 30 coberturas mês passado. Uma campanha para arrecadação de roupas de frio para serem doadas também aconteceu no Parque Atheneu.
Mais ajuda
A Secretaria também destaca o Serviço Especializado em Abordagem (SEAS), que consiste em uma forma continuada e programada com a finalidade de assegurar o trabalho social de abordagem e busca ativa que identifique, nos territórios, a incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes, situação de rua e outras.
Para esse serviço, a prefeitura destaca que a equipe especializada conta com 19 educadores sociais e um coordenador que orienta, supervisiona e acompanha todo o trabalho. As equipes sempre atuam pela manhã nas ruas de Goiânia com o objetivo de convencer essas pessoas a saírem da rua e aceitaram ajuda e acolhimento. A pessoa que consentir é encaminhada para a Casa de Acolhida Cidadã ou instituições parceiras. Moradia, alimentação, higiene pessoal e atendimento psicossocial são alguns dos serviços prestados.
Além disso, a prefeitura destaca que há cinco equipes multidisciplinares que atendem às demandas da Saúde da população em situação de rua com atendimentos presenciais. Esses serviços ocorrem de segunda à sexta-feira e são realizados em duas bases de atendimento: dentro dos Cais Vila Nova e Bairro Goiá.
Tempo
O gerente de do Centro de Informações Meteorológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim, explica que uma frente fria que se desloca do Sul para o Sudeste acaba provocando manhãs mais frias, com temperaturas que giram em torno dos 16º e 17º graus. Porém, por não se tratar de uma massa mais intensa, acaba que, com o decorrer das horas no dia, a temperatura vai aumentando.
“Isso acaba não acompanhando aquela expectativa de ter um dia todo frio. Com temperaturas mais baixas. Também não temos incidências de chuvas e isso acaba contribuindo para que a amplitude térmica dispare e as temperaturas ultrapassem os 30º graus”, explica.
Hipotermia
Outro problema que pode atingir pessoas em vulnerabilidade social, a hipotermia, que consiste na queda da temperatura corporal abaixo dos 35º graus. A dermatologista Luisa Koch explica que, por mais que não seja uma causa de morte muito comum no Brasil, pelo fato do inverso aqui não ser rígido, há possibilidade de acontecer.
“O inverno no Brasil não é tão rígido como na Europa. O índice é pequeno, mas pode acontecer. Muitas das causas da morte por hipotermia estão associadas a outro fator, como o uso de drogas, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e tuberculose. Situações em que muitas pessoas vulneráveis estão expostas mais facilmentes”, conta.
Luísa destaca que o frio contribui com o aparecimento e agravamento de doenças, principalmente do sistema respiratórios. Os programas sociais voltados para a arrecadação de agasalhos, cobertores e oferecimento de abrigos são de extrema importância para ajudar essas pessoas.
A dermatologista pontua que há comportamentos que devem ser observados para saber que a pessoa está sofrendo hipotermia. “A pessoa pode apresentar o rebaixamento de nível de consciência, confusão mental, letargia, insuficiência cardíaca e braquicardia, que pode ser desenvolver em parada cardiorrespiratória”, reforça.
Luísa também sublinha que é de extrema importância fazer o contato com uma ambulância, mas que há coisas que podem ser realizadas até a chegada do resgate. “Deve-se tirar a pessoa do local gelado e é muito importante manter essa pessoa aquecida, envolvê-la com um cobertor para fazer o aquecimento do tronco e dos órgãos vitais. Se estiver com roupa molhada, também é importante tirá-la, pois a água absorve a água do corpo”, destaca.