Um horizonte adiante
Confira a crônica deste domingo (13/06) do advogado e escritor Lucas Montagnini
A gente vive com de medo de morrer, né? Principalmente depois de uma certa idade, que para cada indivíduo é relativa. Pra alguns é quando aparecerem rugas, para outros quando não mais se dança, em alguns quando se para de desejar, em outros quando se atinge certo tempo cronológico. O erro é enxergar o envelhecer graficamente como uma ladeira que descamba na morte. Não deixa de ser verdade, mas podemos pensar melhor.
A morte é um horizonte distante, uma projeção. Um olhar adiante. Acontece que tem gente que morre em vida, temerosos da ideia de um dia deixar de viver. Mas e hoje? E enquanto penso isso? O quanto de vida me consome pensar em amadurecer, ou, em outra ótica, deixar de ser “jovem”? O que é jovialidade, afinal? Viver é lidar com pequenas mortes de momentos do tempo. A nostalgia nada mais é do que a lembrança do bem vivido, da abundância que representa existir.
Perdemos tanto em autocrítica quanto ao que não temos e ao que não somos, que a partir dessa perspectiva o envelhecimento adquire uma carga brutal, uma sensação de perda de potência, de vazio, de improdutividade, de não gozar a vida. Não que a gente não deva pensar no que falta, mas ao fazer isso, ter consciência de tudo que há de vivo e construído no aqui, no eu, e no agora.
A finitude é o horizonte que espelha a vida. É o eu melhor de cada dia. É o esforço diário que constrói uma persona. Ninguém é, a gente sempre está. Aqui e ali. Antes e agora. Hoje e adiante, em algum futuro radiante. Quando o ritmo cessar, te convido a dançar todo o resto de vida que há em você. Seja hoje, pra sempre.
Lucas Montagnini