Sertanejo como representação cultural: a construção da música caipira goiana
Em Goiânia recebemos a fama de ser o berço do sertanejo, mas compartilhamos essa paixão por música caipira com todo o coração do Brasil, incluindo Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná
Se existe algo capaz de unir pessoas, esta coisa é a música. Ela se estende além de fronteiras terrestres, faz qualquer um cantarolar e também carrega o poder de marcar fases da vida, momentos com a família e amigos ou com namorado e esposa. Por exemplo, nós aqui em Goiânia recebemos a fama de ser o berço do sertanejo, mas compartilhamos essa paixão por música caipira com todo o coração do Brasil, incluindo Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
Isso porque a música sertaneja é a cara do Brasil Central. Segundo o mestre em música pela Universitaet Mozarteum, MOZ, na Áustria, e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Wolney Alfredo Arruda Unes, toda essa região carrega essa característica cultural desde os anos 1940 e 1950. Ele afirma que esse traço cultural é novo, mas se adaptou bem ao nosso clima por estar fortemente ligada à economia pecuarista predominante nestes Estados centrais.
Essa economia foi inserida na cultura goiana após o século XVIII. As primeiras cabeças de gado foram trazidas de Cabo Verde ao Brasil ainda no século XVI, porém, pelos portos nordestinos, onde iniciou a gênese da cultura pecuarista no Brasil. Somente a partir do século XVIII, com o crescimento dessa economia, os pastos bovinos se estenderam pela bacia do São Francisco e pelo Cerrado do Planalto Central, alcançando os rios Tocantins e Araguaia.
Foi então que o Brasil Central passou a ter destaque nessa economia pecuarista. Uma economia que é carregada de hábitos caipiras, como o fogão a lenha e a música sertaneja. Entretanto, o professor da UFG destaca que o boom da música caipira foi no século XX, com a ascensão dos grandes frigoríficos no oeste paulista e a engorda do gado nos estados de Minas, Goiás e Mato Grosso. A cultura do boi está ligada aos famosos carros de boi, aos boiadoeiros, aos berrantes e à moda de viola.