Capoeiristas de Goiás integram campanha do IPHAN pela valorização dos patrimônios culturais
O projeto tem como objetivo incentivar a venda de produtos associados a bens registrados em todo o país
Berimbau, atabaque, caxixi e agogô. Esses e muitos outros produtos relacionados à Capoeira ganharam espaço de divulgação na campanha Conectando Patrimônios: redes de artes e sabores, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em parceria com comunidades detentoras o projeto foi lançado em Goiás na quarta-feira (16). O objetivo é promover o Patrimônio Cultural Imaterial, incentivando a venda de produtos associados a bens registrados em todo o país.
Diante da situação de emergência em saúde pública, decorrente da pandemia do novo coronavírus, shows, apresentações e todo tipo de evento tiveram de ser adiados em todo o Brasil. Isto impactou o cotidiano de festas e rituais realizados por mestres e mestras de bens registrados como Patrimônio Cultural do Brasil.
Neste cenário, essas comunidades buscaram alternativas para lidar com o isolamento social. O Ciclo do Marabaixo (AP), por exemplo, foi realizado por meio de lives e bailes do Fandango Caiçara tiveram transmissão on-line. Grupos de carimbó também realizaram rodas transmitidas pelas redes sociais.
Com o objetivo de criar um espaço de visibilidade para detentores e suas respectivas manifestações culturais, a campanha possui um site, que vai apresentar coletivos de detentores de vários estados com os seus respectivos contatos de telefone e redes sociais disponíveis na página da ação. Quem se interessar, poderá entrar nas páginas virtuais dos coletivos e adquirir produtos desses grupos, como gêneros alimentícios e biojóias produzidas por indígenas do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro (AM), bem como livretos de artistas da Literatura de Cordel (SE e DF). A compra, o pagamento e a entrega dos produtos são realizadas diretamente entre o detentor e o comprador.
CAPOEIRISTAS EM GOIÁS
A Capoeira envolve canto, dança e golpes numa brincadeira de origem africana com movimentos e expressões que foram recriados no Brasil. A manifestação é registrada como Patrimônio Cultural Imaterial desde 2008: tanto a Roda de Capoeira quanto o Ofício dos Mestres de Capoeira. Além disso, foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014.
Hoje, a Capoeira está presente em todo o território nacional e em mais de 150 países. Profundamente ritualizada, a Roda de Capoeira engloba cantigas e movimentos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia e um código de ética que são compartilhados pelo grupo. Nas rodas, se batizam iniciantes e se consagram os grandes mestres, transmitindo e reiterando práticas e valores afro-brasileiros.
Vanderly Oliveira, conhecido como Mestre Vermelho, atua há mais de 40 anos na capoeira, e representa a Associação de Capoeira Angola do Estado de Goiás e o Ponto de Cultura Buracão da Arte. “As coisas estão muito difíceis, pois estamos há praticamente dois anos sem realizar atividade nenhuma, sem roda de capoeira, sem aula. Então a campanha do Iphan é de grande importância para ajudar não só a capoeira da Angola, mas a capoeira de um modo geral”, ressalta o mestre capoeirista, que reside em Goiânia.
Da mesma forma, Ademercino Tome, o Mestre Guerreiro, um dos fundadores da Capoeira Luanda, em Goiânia, relata as dificuldades que têm sido enfrentadas neste cenário de pandemia: “Antes da pandemia o nosso trabalho era muito forte, tínhamos muitos eventos, viagens, oficinas e uma venda onde comercializávamos instrumentos, roupas, camisetas e outros produtos associados à capoeira. Hoje, isso tudo está parado quase totalmente”, destaca o mestre, que trabalha com capoeira há 26 anos.
Visando promover a sustentabilidade de bens registrados como Patrimônio Cultural, a campanha é uma ação de salvaguarda inserida na Política Nacional do Patrimônio Imaterial que, em 2020, completou 20 anos de criação.
Para a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, a Capoeira representa uma importante expressão da cultura e da identidade brasileira: “A Roda de Capoeira é reconhecida internacionalmente como um símbolo do Brasil. Ações como o Conectando Patrimônios visam promover a salvaguarda desse bem, ao mesmo tempo em que busca fortalecer seus detentores social e economicamente”, ressalta.
Para viabilizar a ação, as superintendências do Iphan nos estados mobilizaram coletivos de mestres e mestras que participam da ação. Mas a chamada continua. Os grupos que tiverem interesse em participar devem entrar em contato com a superintendência do Iphan em Goiás que dará os detalhes sobre como aderir à ação.