Pesquisa aponta que pequi pode desaparecer do Oeste Goiano
Estudo mostra que principal fruto de Goiás pode desaparecer devido à falta de germinação e rebrotas causadas pela plantação e extrativismo
“É pra acabar com os pequis de Goiás!” A expressão popular nunca fez tanto sentido quando falamos do fruto na região Oeste do Estado. Isso porque uma pesquisa realizada pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano) mostrou que, ao longo de dois anos, que o fruto mais amado pelos goianos pode desaparecer da região devido à falta de germinação e rebrotas.
A pesquisa realizada pelo instituto foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e coordenada pela professora e bióloga Vânia Sardinha dos Santos Diniz. Segundo ela, a pesquisa abrangeu sete hectares de áreas entre reserva ambiental e as que são utilizadas como pastagem de gado. Com isso, notou-se que os espaços contavam com pouca quantidade de mudas de pequizeiros.
“Para qualquer espécie, a população jovem é muito importante para o desenvolvimento de novas gerações. Com as plantas não é diferente. E faltam plantas jovens de pequis na região Oeste de Goiás. A gente realizou o estudo em 2019, mas pensamos que precisávamos esperar cerca de 11 meses, que é o tempo de germinação do pequi, mas notamos a pouca presença de mudas no ano passado e neste ano também. As que existem já são plantas adultas”, pontua.
De acordo com Vânia, dois fatores estão contribuindo para a extinção do fruto no local: o aumento de áreas voltadas para o plantio de soja e o extrativismo irregular. “Muitas áreas de pastagens estão sendo arrendadas para o plantio de soja, com isso, muitas árvores são retiradas do local para dar espaço à plantação”, reforça. A bióloga destaca que o modo com que os frutos são retirados dos galhos também contribui para o seu desaparecimento.
“A gente percebe que há pessoas que retiram os frutos verdes, cortam o galho e, com isso, o fruto não consegue germinar. Outras pessoas pegam os que caem no chão e não deixam nenhum para fazer as rebrotas. Estudos mostram que tem que ficar, em média, 60% dos frutos para que haja uma semeadura: ou seja, das 1 mil sementes que dá numa árvore, 400 devem ficar no chão para ver se, ao menos, 250 conseguem germinar. Isso sem que haja nada de interferência, como a por meio da fauna”, explica.
A bióloga destaca que os estudos sobre o assunto são recentes. Além disso, é feito um levantamento para mostrar qual foi a perda de árvores até o momento e quanto tempo resta para que algo seja feito para que a situação não se torne irreversível. “Tem muitas espécies que foram negligenciadas. Que estão presentes na região, mas que muitas pessoas não prestaram atenção nelas e nem sequer um mapeamento existe”, reforça.
Vânia pontua que o pequizeiro não deve sofrer com o impacto de mudanças climáticas, já que conta com uma resistência muito grande em solos mais áridos. De acordo com ela, varia entre cinco a dez anos o tempo para que a árvore consiga produzir frutos. Além disso, reforça que o impacto da perda do pequizeiro vai além dos frutos. “Isso é muito preocupante para quem se é goiano, mas também há uma mudança de habitat dessas plantas e isso pode acarretar no crescimento de novas pragas, vírus e bactérias que podem migrar desses espaços e atingir a todos nós”, reforça.
Mudanças
Para evitar que isso ocorra, a professora lembra da importância da conservação do Cerrado, preservando suas áreas de reserva. Ela também aposta na implantação de novas áreas de plantio, mesmo que sejam consorciadas com a pastagem – desde que o manejo seja correto na fase inicial de crescimento. “Tivemos resultados positivos com o plantio de sementes diretamente em campo ao invés de produzir as mudas e transplantar”, revela a pesquisadora.
Segundo Vânia, após um ano de plantio das sementes, 60% das plantas sobreviveram, sem adubação, correção do solo, uso de herbicidas ou agrotóxicos. “Fizemos apenas o controle das formigas e a capina manual das plantas daninhas e da braquiária em torno das plantas. Algumas mudas foram atacadas por lagartas, mas elas rebrotaram, tanto o caule, quanto as folhas”, explica.
O fundamental, conforme a pesquisadora, é controlar o crescimento de outras plantas, para que não haja sombreamento das mudas. “Principalmente a braquiária, que realiza forte competição por recursos com as espécies nativas”, especifica. É necessário, ainda, fazer o controle de formigas cortadeiras, pois elas prejudicam o crescimento e aumentam a mortalidade da espécie em áreas de plantio.
A pesquisadora também observou a estrutura populacional do baru, mas os resultados não foram tão preocupantes quanto os do pequi. Isso porque possivelmente o extrativismo do baru ainda não é tão intenso e a espécie conseguiu se reproduzir bem tanto em área de pastagem quanto na reserva legal, além das taxas de germinação das sementes serem maiores.