Ros4 lança álbum sobre a realidade da mulher travesti negra no país
Cantora usa arte visual e coloca o dedo em várias feridas e celebra existências marginalizadas
A artista, rapper e ativista Ros4 lança ‘Deyse Ex Machina’, um EP visual de cinco faixas que unem artes visuais, performances e música. Com influências do boombap, trap e sonoridades afro-brasileiras, os beats são produzidos por Beats by Velhot, Bixurdia e Carrapixo. Partindo do princípio que arte é política, nesse seu segundo EP, Ros4 continua colocando o dedo em várias feridas e celebrando existências marginalizadas.
“’Deyse Ex Machina’ é sobre arte como ferramenta de decolonização, é sobre oralidade e a necessidade de se expressar em uma sociedade que tenta silenciar e desumanizar pessoas marginalizadas”, explica Ros4. “É sobre celebrar o corpo, o gozo, a vida, a rima, o repente, as origens, sem desconsiderar as fronteiras entre a hipersexualização de corpos negros e trans, e a liberdade individual guiada pelo desejo”.
‘Brazilian Girl Underground Vibes’ abre o EP celebrando a parceria de longa data entre Ros4 e o produtor Beats By Velhot e fala sobre afeto e desafeto, além da situação da artista no contexto pandêmico. Em seguida, ‘Submissa Só Na Cama’, também produzida por Beats By Velhot, aborda a autoestima e o processo de se reconectar.
Participações e parcerias
Com participação de Ísis Zavlyn, com Sierra Veloso como modelo e produção de Bixurdia, ‘Boneca de Negócios’ traz o sentimento de travestis negras que são massacradas no Brasil. ‘Never Call a Wich Before Asking’, Sierra Veloso continua como modelo no vídeo. Produzida por Carrapixo, é um salve à todas as pessoas que estão junto de Ros4 na caminhada. Fechando a obra, ‘Piranha Articulada’, também produzida por Bixurdia, fala sobre gozar a vida, sem se apagar no processo.
“Fiquei muito feliz com a construção desse EP, foi um processo tranquilo com pessoas que admiro o trampo, e que respeitam meu corre. A parte visual foi dirigida pela LYV e fomos muito inspiradas pela lógica do looping, estéticas de beleza, photoshoots de internet, looks de mulheres pretas na vibe dos anos 90, iluminação conceitual como na série ‘Euphoria’ foram alguns dos elementos essenciais na construção visual”, diz Ros4.
‘Deyse Ex Machina’ foi produzido com o apoio financeiro da ULTRA (União Libertária de Pessoas Trans e Travestis). “Em um contexto político e social onde ser trans e negra é sinônimo de marginalização, prostituição e pecado, foi imprenscindível o apoio financeiro de uma organização que trabalha na defesa dos direitos humanos de pessoas trans como a ULTRA para poder financiar esse trabalho”, explica Ros4.
“Fazer minha voz visível em um contexto onde a transfobia e racismo no mercado musical e artístico ainda é um reflexo social dessas questões e intersecções, sem desconsiderar a liberdade de expressão como um elemento a ser negociado como se fosse advocacy, finalizando versos como se fossem negócios”, completa.
A capa
Inspirada por maquiagens do black metal e sets de photoshoot de moda, a imagem dialoga com as fronteiras da moda urbana e o vestuário de pole dancers e stripers, através do uso da Choker e do Harness, por exemplo, evidenciando questões identitárias do universo da artista Ros4, que fez direção, composição e edição dos clipes, e de LYV, que fez direção de arte. Ambas pole dancers. (Especial para O Hoje)