4 mil motoristas de aplicativos abandonam plataformas em Goiânia
Dados são da associação que representa a classe. Números impactam no tempo de espera pelos usuários
Enquanto muitos usuários têm que esperar horas por um motorista de aplicativo, por outro lado, há uma grande quantidade de profissionais abandonando essa função pela disparidade entre custo-benefício em se manter dirigindo um carro de app. De acordo com a Associação de Motoristas de Aplicativos de Goiás (Amago), somente em 10 dias de agosto foram mais de 4 mil motoristas que deixaram de rodar em Goiânia. Estima-se que existam 15 mil motoristas por aplicativo na Região Metropolitana.
De acordo o presidente da entidade, Leidson Alves dos Santos, muitos motoristas estão deixando a profissão por causa do valor do combustível e das tarifas defasadas pagas pela plataforma. Segundo ele, os motoristas estão pagando para trabalhar dessa forma que as coisas estão rodando atualmente.
Leidson destaca que a demanda de viagens não diminui, mas o motorista está cancelado mais para ver qual é o trajeto que poderá lhe render um ganho mais razoável. “Não compensa realizar as corridas por questão de valores repassados pelos aplicativos. Realmente, a cada dia que passa fica pior, pois combustível sempre está flutuando e as tarifas estão há seis anos defasadas. A conta não fecha”, pontua Leidson.
Ele, que também atua no ramo, exemplifica um caso que ocorreu no último fim de semana. Segundo o líder sindical, em um trajeto que deu R$ 79, conseguiu receber apenas R$ 40 da Uber, plataforma pela qual opera. Ou seja, quase 50% do valor da viagem ficou para o aplicativo. “A plataforma sempre fala a mesma coisa: que está tentando dar incentivo para os motoristas”, explica.
Com isso, explica que há muitos motoristas que fazem contas antes de aceitar a corrida ou pegar determinado passageiro para saber se aquela viagem vai compensar. Diante de tal situação, Leidson afirma que a categoria está precisando de uma ajuda urgentemente.
Reflexo nos passageiros
A onda de cancelamentos de viagens reflete nos passageiros que precisam usar o transporte por aplicativo. A social media Cristiane Santos, 25 anos, destaca que a dificuldade de pedir uma corrida já perdura dias. “Meu chamado fica uns 10, 15 minutos procurando o motorista. Quando acha, o motorista gasta, em média, mais 10 minutos para chegar até mim. E na maioria das vezes, cancela faltando 4 minutos”, conta.
Com isso, ela destaca que já passou por algumas situações embaraçosas. “Outro dia saí meia hora mais cedo do trabalho porque tinha um compromisso pela noite. Fui chamar e ficou uns 15 minutos procurando, os motoristas aceitavam a corrida e faltando uns três minutos, eles cancelaram. Isso aconteceu umas três vezes só nessa tentativa. Até que, por fim, um veio, parou na porta e quando fui pra entrar, ele simplesmente acelerou. Quase passou em cima do meu pé. Fiquei igual besta sem entender nada. Mas fui lá tentar chamar de novo até que consegui um carro velho onde o cinto de segurança estava estragado, um motorista sem educação e que dirigia mexendo no celular. Cheguei atrasada ao compromisso e ainda revoltada com tanto desgaste”, desabafa.
A professora Thayslanne Alves Borges Conceição conta que também passou dificuldade ao tentar chamar um motorista pelo aplicativo da Uber durante o final de semana. “Eu sai no final de semana e, quando deu de madrugada, não tinha um motorista que aceitasse a corrida. Eu não uso a plataforma com muita frequência no meio da semana, mas preciso dela quando vou sair no final de semana. Comigo foram duas vezes”, destaca.
Thayslanne pontua que a situação fica mais complicada quando adentra a noite e quando o setor é mais distante da região central de Goiânia. “Eu moro no Recanto do Bosque e sempre é um sofrimento voltar para casa. Outra coisa que noto é a mudança de taxa a todo momento. Não há estabilidade em manter determinado valor. Para você ter uma ideia, da última vez, eu comecei a chamar às 3h. Consegui um motorista às 4h30. Isso depois de muita desistência e esperar ficar com a tarifa mais barata.”
Com isso, a professora diz que começou a se questionar se vale a pena usar a plataforma. “Depois de esperar 1h30, eu fiquei me questionando se eu estivesse em um lugar fechado? Teria ficado na rua sozinha por esse tempo todo. Por causa disso, estamos até voltando ao uso de táxis ou até repensamos se vai sair mesmo de Uber, porque não acha para voltar para casa depois”, ressalta.
Para Thayslanne, a culpa não é do motorista, e sim do alto preço da gasolina. Com isso, ela diz perceber que tem corridas que realmente não compensam para eles. “Acredito que se diminuir o valor absurdo de gasolina e a Uber proporcionar condições de trabalho, o motorista vai se sentir motivado e com estabilidade”, pontua.
A autônoma Mirian Cristina Santos de Lima Cordeiro afirma que fica muito desapontada quando se depara com tantos cancelamentos já que, segundo ela, a viagem não é de graça. “A única mensagem que aparece é que não tem motorista disponível. Eu fico muito desapontada porque não é um serviço de graça, né? E, se a gente pede naquele determinado horário, é porque está precisando para aquela hora. Eu tenho medo de ir para algum lugar e não conseguir voltar”, afirma.
“Motoristas têm autonomia para aceitar viagens”, diz Uber
Por meio de nota encaminhada ao O Hoje, a Uber afirma que “opera um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, por isso buscando sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda que é fundamental para a plataforma.”
Além disso, a plataforma reforça que, com a pandemia, pessoas que antes não usavam a Uber no dia a dia agora estão optando pelo app. Uma pesquisa feita pelo Datafolha mostrou que os brasileiros consideram os apps de mobilidade um dos meios mais seguros para se locomover no contexto da pandemia e, dentre as empresas no mercado, a mesma pesquisa identificou que os entrevistados consideram a Uber a mais segura.”
“Esse contexto de alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades. Nesse sentido, os usuários estão tendo de esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens”, continuou o texto.
A empresa segue o posicionamento falando dos ganhos de quem trabalha na plataforma, tido como um dos maiores desde o início do ano. “Em Goiânia, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.100 a R$ 1.200 por semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior aos rendimentos mensais de várias atividades no país.”
Taxa Uber
Sobre a taxa, a empresa afirma que, “no passado, a taxa de serviço cobrada dos motoristas parceiros pela intermediação de viagens era fixa em 25%, mas desde 2018 ela se tornou variável para que a Uber tivesse maior flexibilidade para usar esse valor em descontos aos usuários e promoções aos parceiros. Em qualquer viagem, o motorista parceiro sempre fica com a maior parte do valor pago pelo usuário – há confusão entre os parceiros sobre o valor da taxa porque em algumas viagens pode aumentar enquanto, em outras, pode diminuir.” (Especial para O Hoje)Legenda01: Cristiane destaca que a dificuldade de pedir uma corrida já perdura dias. “Meu chamado fica uns 10, 15 minutos procurando motorista”