O setor de análise técnica e seleção de projetos da Agência Nacional do Cinema (Ancine) arquivou, desde o dia 02 de julho, o projeto de lançamento comercial do filme “Marighella”. Segundo o processo, a 02 Cinema Ltda, que é a produtora do longa, havia desistido da Chamada Pública, porém, não havia documento de solicitação anexado e, em nota, a empresa desmentiu a informação.

O produtor do filme, Wagner Moura, afirmou que esta ação da Ancine é, claramente, uma censura prévia do Estado brasileiro ao filme, pois o presidente da República, Jair Bolsonaro, possui diferenças com o personagem central, Carlos Marighella. O longa, que está pronto desde 2019, não conseguiu ser lançado mesmo tendo sido aprovado pela Diretoria Colegiada da Agência e selecionado na Chamada Pública.

“A Ancine censurou o filme. É uma censura diferente, que usa instrumentos burocráticos para dificultar produções das quais o governo discorda. Não tenho dúvida de que ‘Marighella’ não estreou ainda por uma questão política. […] Quando a Agência é aparelhada pelo bolsonarismo, qualquer pedido com relação a um filme como este será negado”, afirmou o diretor em entrevista ao portal UOL Notícias.

Carlos Marighella, que, no filme, é interpretado por Seu Jorge, é considerado o inimigo número a Ditadura militar brasileira (1964 a 1985) devido ter sido o organizador da luta armada contra o regime. Em 2018, Bolsonaro tentou incluir-se no longa metragem  como um dos perseguidores ao guerrilheiro, mas não foi aceito, pois, na época, o atual presidente possuía apenas 14 anos de idade.

De acordo com Wagner Mouro, este não é um caso isolado. “A cultura está sob censura. Não estou apenas defendendo meu filme, estou aqui como cidadão que está vendo o que está acontecendo no Brasil”, disse. “Marighella” está sendo exibido em festivais de cinema internacionais, como o Festival de Berlim, mas, no Brasil, já teve o lançamento adiado duas vezes.