Agroecologia: a perspectiva que se opõe ao agronegócio e desafia os paradigmas da agricultura moderna
Caracterizada pela retomada de saberes e práticas milenares, essa forma de produção de alimentos valoriza a biodiversidade e a conexão com a natureza
Prática agrícola predominante em Goiás, o agronegócio se caracteriza pela monocultura em grandes propriedades e pela modernização do campo, com o uso de tecnologias que possibilitam o aumento da produção, a exemplo dos agrotóxicos. Esse formato, proporcionado pela Revolução Verde, possibilitou significativo crescimento econômico da região Centro-Oeste, inclusive de Goiás, o que serve como base para o discurso que apresenta o agronegócio como algo positivo.
Mas a agricultura praticada dessa forma tem grandes impactos, tanto no meio ambiente quanto na sociedade, que se torna refém das grandes corporações que dominam a produção de alimentos. Conforme explica Marcelo Mendonça, professor do Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), o agronegócio é um modelo que destrói o metabolismo da natureza, além de envenenar os alimentos que chegam à mesa do consumidor.
“A agricultura chamada moderna, que usa agrotóxicos, que usa apenas máquinas, que destrói a natureza, que afoga as nascentes, que contamina a água, que polui o ar, que mata os bichos, não pode ser uma agricultura que dê certo por muito tempo, porque ela fere brutalmente a essência da nossa existência, ou seja, a natureza”, defende Marcelo.
Por esse motivo, é importante considerar outras possibilidades de produção de alimentos. Uma dessas alternativas, que se opõem ao agronegócio, é a agroecologia, uma ciência que pressupõe a prática da agricultura orgânica e o emprego de tecnologias limpas, gerando menos impactos negativos ao meio ambiente, além de lidar diretamente com as questões sociais, políticas, culturais, energéticas, ambientais e éticas.
“A gente entende a agroecologia como uma estratégia importante pra mostrar pra sociedade um outro jeito de fazer, uma outra forma de se relacionar com a natureza”, esclarece o professor. São exemplos de iniciativas agroecológicas as agroflorestas, a implantação de corredores ecológicos, as hortas urbanas e as propriedades de agricultura familiar, de forma que a prática está estritamente ligada à atuação de caráter social, gerando efeitos também nesse âmbito.
A Organização da Sociedade Civil (OSC) EcomAmor, por exemplo, realiza projetos de educação socioambiental em Goiânia e região metropolitana, com o objetivo de promover cidades mais sustentáveis, por meio da educação socioambiental, da alimentação, e da agroecologia, como explica a diretora de comunicação marketing da instituição, Jordana Oliveira. “Nós estamos localizadas em Goiás, um estado conhecido pela monocultura, pelo agronegócio, e a gente propõe a agroecologia em contraponto a isso, defendendo a biodiversidade, a valorização dos saberes tradicionais, a conexão com a natureza, a conexão com a terra”, conta.
A atuação da EcomAmor, que, tendo a agroecologia como um de seus pilares, procura entender a educação de uma maneira integrada e sistêmica, reverbera na alimentação, na merenda escolar, que muitas vezes é precária, e que é a principal alimentação de muitos estudantes da rede pública. Esse exemplo demonstra um aspecto importante das práticas agroecológicas, que é a conquista da soberania alimentar, um princípio crucial para a garantia de segurança alimentar e nutricional.
Dessa forma, além de garantir produtos saudáveis, livres de agrotóxicos, as práticas agroecológicas promovem a soberania dos povos camponeses, a soberania alimentar, e o controle das sementes pela sociedade, retirando esse poder das mãos das grandes corporações.
Em um país marcado pela fome e pelos massacres a povos tradicionais, que lutam pelo simples direito à própria terra, a agroecologia se apresenta como uma via para a superação desses problemas. “Nós não podemos aceitar um país onde menos de 5% da população controla 70% da terra, isso é inaceitável”, argumenta Marcelo. “As populações indígenas, quilombolas, as populações tradicionais, eles praticam em sua maioria a agroecologia, e estão sendo cercados, violentados, exatamente porque têm uma relação diferenciada com a natureza, e nós temos que inverter esse paradigma”, conclui.