Alta nos materiais de construção deixa reforma mais cara
De acordo com a FGV, em um ano, os itens apresentaram alta de 32,92%. Aço é o produto mais caro
Quem pensa em construir ou reformar está tendo que desembolsar mais dinheiro. Os materiais de construção registraram alta acumulada de 32,92%, entre julho de 2020 a junho de 2021, segundo o Índice Nacional de Custo da Construção – Disponibilidade Interna (INCC-DI) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Se levar em consideração o custo de mão de obra e de serviço, a alta é menor, de 17,34%. Porém, mesmo assim, está acima da inflação oficial de 8,35%.
Ainda de acordo com a pesquisa, tubos e conexões de ferro e aço são as que registraram maiores altas: 91,66%. Em seguida, os vergalhões e arames de aço ao carbono (78,35%), condutores elétricos (76,19%), tubos e conexões de PVC (64,91%), eletroduto de PVC (52,06%), esquadrias de alumínio (35,21%), tijolo/telha cerâmica (33,82%), compensados (30,47%), cimento portland comum (27,62%) e produtos de fibrocimento (26,96%).
Os dados INCC/Sinapi que foram apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o custo do metro quadrado da construção chegou a R$ 4.421,87 em junho, sendo R$ 829,19 de materiais e R$ 592,68 de mão de obra.
O aço, justamente, foi o material mais caro listado pela engenheira civil Brenda Rocha Cunha, de 26 anos. Sendo o que mais utiliza na obra, ela destaca que a alta no preço foi o que mais lhe chamou atenção. “A gente utiliza muito na fundação, para falar a verdade toda a parte de fundação a gente faz com aço e os altos preços nos assustaram um pouco”, revela.
Segundo ela, antes da pandemia, o quilo do aço era encontrado por R$ 4,80. Atualmente, esse valor está em média a R$ 10. Apesar de tudo, Brenda destaca que adquirir um bom estoque antes da pandemia lhe ajudou a não interferir nas obras. “A nossa saída foi adquirir antes para evitar possíveis atrasos nas obras. Claro que tem alguns materiais que faltaram de maneira pontual e que a gente teve que comprar após o aumento, mas o orçamento foi o nosso principal aliado”, conta.
Para ela, não há muito o que fazer sobre a alta nos valores. “Eu creio que o valor não deve voltar ao patamar pré-pandemia. Para evitar não atrasar as obras, é importante adquirir os materiais com os valores que estão. Quem for construir tem que estar preparado para os altos preços. Mas, acima de tudo, deve pesquisar muito”, destaca.
Marlus Franco, especialista em construção civil, destaca que os preços estão andando de acordo com a demanda. “O mercado funciona dessa forma. Se você tem muita demanda, o preço é um. Se você tem pouca demanda, o preço vai ser diferente. Então, é o próprio mercado que regula essas questões de custo. Claro que tivemos problemas de escassez de matéria-prima, mas que foi solucionado ao longo deste ano”, destaca.
O especialista, assim como Brenda, não acredita que os preços vão voltar à normalidade. “A gente está numa estabilidade de pico, com pequenas quedas. A gente tem que aguardar esse período passar, assim como o período chuvoso que impacta no início das obras e a demanda, que realmente faz o curso reduzir. Ou seja, temos que aguardar realmente o comportamento”, destaca.
Segundo Marlus, todo o segmento vive de altos e baixos. Ele destaca que há muitas construções que impulsionaram as vendas. “Chegou um tempo em que a indústria e o comércio estagnaram com a produção, mas com aumento da demanda de produtos. O mercado também contou com uma surpresa agradável: o aumento da procura por casas, pela construção de condomínios horizontais. Até mesmo hospitais. Só em Goiânia temos a previsão de cinco hospitais acima de 20 metros quadrados de área construída”, afirma.
Apesar disso, segundo Marlus, apesar de estagnado, alguns produtos tiveram uma leve queda. “O aço mesmo, que foi vilão, começou a ter uma discreta queda, de 10%. Não é o valor que a gente queria, mas já é alguma coisa. Esperamos que caia mais, mas reforço, não deve ser o mesmo valor que estava no período pré-pandêmico”, reforça. (Especial para O Hoje)
Setor refaz estimativas e prevê crescimento em 2021
O setor da construção civil está funcionando “como se fosse uma Ferrari com o freio de mão puxado”, na análise do presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC), José Carlos Martins. Isso porque, apesar dos bons resultados e das perspectivas de alta para este ano — com previsão de melhor resultado para o ano desde 2013, quando a alta foi de 4,5% —, ainda existem muitas incertezas “e medo dos empresários de continuar contratando”. Também atrapalha a alta do preço dos insumos, que vem sendo observada desde o início da pandemia, dos juros e da política do governo de liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
De acordo com os dados do estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção do 2º trimestre de 2021, o setor da construção começou 2021 com expectativa de crescer 4% no ano. Com os desafios decorrentes da pandemia e a continuidades dos aumentos nos custos dos materiais, esse número foi reduzido para 2,5% em março. “Agora, apesar da capacidade de produção limitada, principalmente em função do desabastecimento e do aumento do preço do aço, a expectativa da CBIC para o PIB do setor voltou a subir para 4%, o que seria seu maior crescimento desde 2013”, informa o estudo.
O levantamento aponta, ainda, que, em junho, o nível de atividade do setor chegou a 51 pontos, o melhor desempenho desde setembro do ano passado (51,2 pontos) e também o melhor mês de junho desde 2011, quando o indicador alcançou 51,7 pontos. O resultado alcançado em junho de 2021 também foi o melhor observado no primeiro semestre do ano e é superior à média histórica do índice (45,6 pontos), com base nos números são da Sondagem Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o apoio da CBIC.
Impacto dos insumos
A falta ou o alto custo de matéria-prima continua sendo o principal problema enfrentado pelos empresários da construção pelo quarto trimestre consecutivo, para 55,5% dos pesquisados na Sondagem. Desde o terceiro trimestre de 2020, o setor vem sentindo os efeitos do aumento expressivo nos custos dos seus insumos. A CBIC cita o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), da Fundação Getulio Vargas (FGV), que apontou que, no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em junho, teve alta de 17,36%.
Resultado do INCC, reforça a CBIC, foi justificado pelo incremento expressivo no custo com materiais e equipamentos, que no período registrou alta de 34,09%, um recorde histórico desde o início da série histórica, iniciada em 1996 pela FGV. A elevada carga tributária foi apontada pelos empresários como o segundo principal problema enfrentado no segundo trimestre de 2021. Na comparação com o trimestre passado, esse foi o item com maior crescimento nas assinalações, passando de 24,7% para 31,5%.