Poderes imperiais: recondução necessária
Confira o artigo, desta terça-feira (24/08), por Antônio Carlos de Almeida Castro
Sou um crítico ferrenho do Bolsonaro e do seu governo.Escrevohá meses sobre o desmanche que esse nazifascista está fazendo no Brasil em todas as áreas. Assinei junto à Comissão de Juristas do Conselho Federal da OAB um aditamento a uma representação dirigida ao Procurador-Geralda República,Augusto Aras, pleiteando a apresentação de denúncia criminal contra o presidente da República pela morte, por omissão, de pelo menos 1/3 dos brasileiros que perderam a vida em decorrência do Coronavírus. Também fui um dos advogados que assinou o que a imprensa chamou de “super pedido de impeachment”caracterizado pela imputação de vários crimes de responsabilidade ao Bolsonaro. Sempre defendi que o presidente da República é um serial killer em termos de crime de responsabilidade.
Tenho escrito sobre a necessidade de se retirar os poderes imperiais das mãos do presidente da Câmara e do Procurador-Geral da República. Acabo de debater com o Senador RandolfeRodrigues essa minha posição. O Brasil está parado acompanhando a CPI e aguardando o relatório final que, certamente, apresentará provas contundentes contra o presidente da República, tanto por crime comum como de responsabilidade. Porém, se não houver mudanças legislativas, todo o trabalho da CPI poderá ficar dormindo nas gavetas de quem tem o poder imperial.
O Procurador-Geral da República é o dominus litis; só ele pode apresentar uma denúncia formal perante o Supremo Tribunal Federal contra o presidente da República. No momento anterior à formação do processo, o PGR tem mais poder do que os 11 ministros do Supremo. O Judiciário é um poder inerte; só age se provocado. Se o PGR pedir o arquivamento do parecer final da CPI ou simplesmente não se manifestar, nada poderá ser feito. É necessário mudar isso.
A CPI tem os poderes para propor mudanças, e não apenas para investigar. É necessário que seja feita uma mudança eque faça constar expressamente, por exemplo, que, na inação do PGR por 30 dias ou no pedido de arquivamento, a questão seja levada a um conselho de 5 subprocuradores, que dará a palavra final. Na Câmara é só prever umrecurso necessário ao plenário da Casa, que é soberano. Esse é um debate necessário. E urgente.
Na próxima terça-feira, dia 24, o Senado irá analisar, sabatinar e votar a recondução do Procurador-Geral da República, Dr. Augusto Aras. Até como um crítico ácido da postura dele – ou de sua não postura – frente aos inúmeros crimes cometidos pelopresidente Bolsonaro, sinto-me à vontade para defender a necessidade de aprovação de sua recondução à frente da Procuradoria-Geral da República.
A história fará justiça ao seu trabalho técnico, à sua independência e coragemno enfrentamento da verdadeira máquina que a tal força-tarefa de Curitiba,instrumentalizando o Ministério Público, montou dentro da Procuradoria,em obscuro conluio com um ex-juiz de triste memória. Foi numa live do grupo Prerrogativas que o Dr. Aras apresentou os números alarmantes de uma verdadeira Procuradoria paralela. E ele teve a coragem de fazer o enfrentamento. Não devemos esquecer que foi a Lava Jato que pariu e embalou esse governo nazifascista. Foi esse grupo que, por umprojeto de poder, prendeu o então candidato Lula e deixou abertas as portas para o Bolsonaro. Foi o ex-juiz, chefe de fato da força-tarefa, que, ainda com a toga nos ombros, aceitou ser ministro da Justiça do Bolsonaro. Mercadejou a toga e esbofeteou o Judiciário. Depois brigaram, mas típica briga de quadrilha na luta por poder.
A não recondução do Dr. Aras significa a volta e a vitória do grupo lavajatista. O mesmo grupo que criminalizou a política, destruiu parte das empresas brasileiras e que a Suprema Corte apontou como oresponsável que corrompeu o sistema de justiça. Talvez o mais grave caso de instrumentalização do Judiciário e do Ministério Público que se tem notícia. Essa é a decisão que o Senado terá que tomar na sabatina. Basta retirar os poderes imperiais de se decidir solitariamente que estaremos afastando o risco de ter um Procurador-Geral que possa ostentar mais poderes do que o próprio Supremo Tribunal. Mas se voltar o grupo da Lava Jato, teremos que, novamente, enfrentar um projeto de poder que vai muito além do Judiciário e do Ministério Público.
O Senado Federal tem a responsabilidade de fazer uma sabatina séria, profunda e exaustiva. Esse é o seu papel. A sociedade inteira está acompanhando. Quem conhece Brasília sabe que para a crítica, séria e grave, de proteção ao Presidente por parte do PGR, a saída é uma mudança legislativa. Repito:é preciso retirar os poderes imperiais incompatíveis com o sentimento republicano. Mas, para enfrentar a volta do lavajatismo, pai e mãe desse governo assassino, é importante relembrarmos aquela época da força sem limites e do uso do aparato judicial para exercer o poder. Para evitar esse retrocesso, é preciso reconduzir o Dr. Aras.
Como lembrava Lord Acton, em 1887: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente..”