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sábado, 23 de novembro de 2024
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Econômia

Projetos de reutilização de água ganham mais espaço no país

Em Goiânia, novos empreendimentos já são lançados com mecanismos de captação das águas das chuvas por meio de calhas, por exemplo

Postado em 25 de agosto de 2021 por João Paulo
Projetos de reutilização de água ganham mais espaço no país
Em Goiânia

A baixa quantidade de chuvas fez com que cinco estados brasileiros ficassem em alerta sobre a crise hídrica na bacia do Rio Paraná: São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). A seca já é considerada a mais grave dos últimos 91 anos. Dessa forma, já é notório um efeito dela, como a falta de água nas torneiras, aumento no preço da energia elétrica e da produção de alimentos. A reutilização de água do período chuvoso é uma medida apontada por especialistas como uma forma de evitar o agravamento de outras crises hídricas.

Segundo o arquiteto e urbanista Paulo Renato Alves, além de medidas de reuso da água para estimular o consumo racional, a falta de uma política de educação ambiental também contribui para o agravamento desse problema. Em contramão a isso, ele pontua que novos empreendimentos já são lançados com mecanismos de captação das águas das chuvas e ou do reuso da água fornecida pela concessionária de saneamento.

“Hoje você recebe uma água potável na sua casa que é toda descartada só com um primeiro uso, sendo que atualmente existem tecnologias super acessíveis e que irão pegar essas águas, como por exemplo a água usada no banho, que será armazenada e tratada numa subestação, podendo ser tranquilamente usada para outros fins. Isso, além de bom para o meio ambiente, é economia para as famílias”, afirma Paulo Renato.

O arquiteto pontua que essas tecnologias são mais caras, mas proporcionam um retorno de economia imediato para o morador e ao meio ambiente. Mesmo assim, infelizmente, essas novas formas de inovação ainda não são obrigadas nos novos empreendimentos. A discussão já ocorre em Goiânia, mas ainda necessita de avanços. “Esses sistemas de reuso e captação da água da chuva ainda não são uma obrigação, mas espera-se que seja em breve. Já há muitas cidades Brasil afora que já discutem isso. Em Goiânia mesmo, há um projeto de lei municipal que propõe tal obrigatoriedade”, revela.

Além disso, o arquiteto destaca que a falta de incentivos por parte do poder público acabam inibindo os empresários a adotarem esses sistemas mais benéficos ao meio ambiente. “As prefeituras podem perfeitamente implantar políticas de incentivo fiscal ou de desconto no IPTU para quem implantar na sua casa, por exemplo, uma canalização para captação de água da chuva, que é algo muito simples”, sugere.

O urbanista aponta que, não somente para com as empresas, mas também falta maiores investimentos para incentivar as pessoas a adotarem esses sistemas nas suas residências.  “Acho que aqui no Brasil a população só irá fazer alguma coisa se houver de fato algum incentivo. Só pela conscientização, pura e simplesmente, eu não acredito que a grande maioria da população o faça”.

Alysson Marques, engenheiro civil da AMG engenharia, destaca que, muitas vezes, os gestores municipais acabam ficando refém do sistema de captação já existente na cidade. Dessa forma, acaba tendo um comodismo. Mas, assim como destacado por Paulo Renato, o engenheiro afirma que não há políticas de consciencialização de consumo de água e reaproveitamento de água em prédios públicos e edificações particulares.

“A reutilização em tempos de escassez, colabora para o sistema como um todo, visto que o volume utilizado naquela unidade consumidora será minorado, contribuindo com os baixos níveis de reservatórios municipais”, pontua.

Além disso, ele explica brevemente como funcionam esses sistemas de reaproveitamento. “Ele é muito simples para ser implantado. Ele é um investimento, no meu ponto de vista, relativamente baixo e pode ser instalado em projetos de pequeno, médio e grande portes. Uma residência unifamiliar, por exemplo, pode requerer um investimento de R$ 7 mil para a implantação. Mas isso já vai levar a redução de até 50% no volume de utilização mensal. E outros cálculos estudados mostram que o sistema se paga em até seis anos.”

Experiências

Paulo Renato destaca que as medidas que vagarosamente chegam ao Brasil já são implantadas há anos em outros países.  “Na Alemanha, por exemplo, já desde os anos 1980 as casas e prédios contam com sistemas de reuso da água da chuva. Essa água é armazenada e depois utilizada para irrigação, para descarga, para limpeza e outros usos. Em todo o Japão, por exemplo, usa-se água da captação das chuvas. Inclusive, em várias cidades japonesas você encontra empreendimentos, que não só captam a água da chuva, mas a tornam potável”, exemplifica.

Ainda de acordo com o especialista, a adoção desses sistemas nessas nações têm um denominador comum: o fato dessas nações terem passado, em algum período da história, por alguma experiência de escassez de água. Dessa forma, houve a mudança de comportamento da população.  “A Alemanha, por exemplo, viveu uma Grande Guerra, e por isso eles sabem bem o que é escassez, não só de água, mas de alimento e outras coisas vitais. Nesses países eles sabem que a falta de água potável gera mortes.”

CORRELATA

Vazão do Meia Ponte chega ao nível crítico 2

De acordo com meteorologistas, três fenômenos explicam a falta de chuvas no Brasil: o desmatamento da Amazônia; o aquecimento global causado por queima de combustíveis fósseis e o fenômeno natural La Niña. Em Goiás, devido à estiagem, a vazão do Rio Meia Ponte chegou à vazão de 3.861 litros por segundo, nível considerado crítico 2. Este ano, o rio chegou a seu nível crítico um mês antes que em 2020. Para recuperar nascentes e aumentar o nível de vazão no rio, ações ambientais de reflorestamento e recuperação de nascentes estão sendo realizadas no Estado.

Entre as ações ambientais em andamento, o Projeto Fundo Socioambiental (FSA) Caixa para a recuperação de nascentes e regeneração de Áreas de Preservação Permanentes (APP) na sub-bacia do Ribeirão Meia Ponte deve ser destacado. A iniciativa visa ampliar a oferta de água para a Região Metropolitana de Goiânia.

Com investimento de R$ 2,45 milhões, o projeto vai recuperar 84 nascentes e reflorestar 276 trechos de mata ciliar, passando por 172 propriedades rurais, localizadas em nove municípios: Brazabrantes, Damolândia, Goianira, Inhumas, Itauçu, Nerópolis, Nova Veneza, Ouro Verde e Santo Antônio de Goiás. O projeto de recuperação já foi concluído em Brazabrantes, Goianira, Nerópolis e Santo Antônio de Goiás. A proteção de nascentes do Meia Ponte exige um total de 580 mil metros quadrados de cercamento e 70 mil mudas para reflorestamento.

Segundo a Saneago, as mudas devem vir de empresas contratadas, mas a companhia também dispõe de um viveiro próprio, com capacidade para produzir mais de 60 mil mudas nativas por ano. As mudas produzidas nesse viveiro são distribuídas a parceiros que atuam em projetos de proteção de nascentes e matas ciliares em todo o estado de Goiás.

Em outra iniciativa, a Saneago realizou levantamento da situação de mananciais em 11 municípios goianos, que enfrentam situação de escassez hídrica. O estudo identificou a necessidade de investimentos de R$ 897,1 mil para recuperar 123 nascentes, que receberão 1,2 milhão de metros quadrados de cercamento e mais de 54 mil mudas para reflorestamento.

Outro projeto a ser destacado é o “Projeto ReNascentes”, que consiste em contribuir na disponibilidade de água para abastecimento. Por meio deste projeto, proprietários rurais – que possuem áreas de proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares na sub-bacia do Rio Meia Ponte e do Ribeirão Piancó – podem se cadastrar para receber mudas e disponibilizar áreas para cercamento de rios e nascentes do Estado. (Especial para O Hoje)

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