Artista Yuko Mohri traz a filosofia japonesa para suas apresentações no Brasil
A artista japonesa Yuko Mohri valoriza em sua arte a beleza dos objetos cotidianos
Poucos enxergam a beleza nas pequenas coisas, na mesmice do cotidiano ou em objetos do dia a dia. Chega ao Brasil, com a proposta de exaltar tudo que parecer despercebido, a artista Yuko Mohri com a exposição ‘Parade – um pingo pingando, uma conta, um conto’, a partir desta terça-feira (31). As esculturas cinéticas inéditas são expostas no segundo andar Japan House São Paulo e segue até o dia 14 de novembro. A jovem artista carrega em sua arte a vontade de levar a cultura nipônica aos mais diversos lugares.
Tendo como ponto de partida duas de suas principais obras: ‘Parade’ e ‘Moré Moré’, ‘Parade – um pingo pingando, uma conta, um’, instalação criada especialmente para a Japan House São Paulo exalta a filosofia japonesa do [you no bi], ressignificando objetos e utensílios comuns em suas obras, ressaltando o belo no ordinário. Do filósofo japonês Soetsu Yanagi, o conceito [you no bi] valoriza a beleza dos objetos cotidianos. Isso, diz muito sobre como as pessoas percebem o mundo com outros olhos a partir das dificuldades dos últimos meses.
As delicadas, porém potentes, instalações da artista japonesa apresentam ideias como transitoriedade e impermanência, conceitos muito presentes na cultura nipônica, criando ecossistemas compostos por esculturas cinéticas e sonoras. Esta exposição integra a rede de colaborações da ‘34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto’, que ocorre a partir de 4 de setembro. Com crescente reconhecimento no circuito artístico, Yuko já apresentou suas obras no Japão, França e Inglaterra, além do Brasil.
O delicado equilíbrio presente nas obras da jovem artista, que hoje leciona na Universidade de Artes de Tóquio, é fruto de anos de pesquisa em colaboração com profissionais de diversas áreas. A obra ‘Parade’ por exemplo, consiste em uma máquina desenvolvida pela artista com ajuda de engenheiros, baseada em uma placa de prototipagem eletrônica de código aberto que lê os desenhos de uma toalha de mesa estampada com frutas coloridas. As imagens são traduzidas em correntes elétricas que percorrem diversos fios.
Essa experiência dentro da arte de Yuko provoca reações inesperadas como uma luz que liga e desliga, espanadores que pulam no chão, um acordeão que parece ganhar vida própria. Os diversos objetos que compõem o trabalho são fruto das coletas da japonesa ao redor do mundo. Esse ecossistema criado pela artista foi inspirado no jardim botânico que Yuko costumava frequentar quando criança e onde observava a natureza semiartificial e sua transformação nas diferentes épocas do ano.
Ainda dentro das questões envolvendo a impermanência e a transitoriedade, temas recorrentes na trajetória da artista, a obra ‘Moré Moré’, Yuko causa vazamentos propositalmente para, então, tentar obstruí-los e fazer com que a água circule novamente pelo sistema danificado. A ideia surgiu a partir dos registros fotográficos que a artista fez dos frequentes vazamentos de água no metrô de Tóquio, em 2009. As equipes das estações atingidas usaram uma variedade de recipientes incluindo garrafas, baldes, guarda-chuvas e tubos para conter o fluxo.
Como uma homenagem à composição de Tom Jobim, ‘Parade – um pingo pingando, uma conta, um conto’ é uma releitura da artista de sua própria obra, uma versão tropicalizada feita a partir da relação estabelecida por ela entre os objetos de sua instalação e a letra da famosa canção. Para a Diretora Cultural da Japan House São Paulo e curadora da individual, Natasha Barzaghi Geenen, “a ideia é causar curiosidade e maravilhamento, com os objetos retirados de suas funções primárias e costurados numa teia poética, valorizados nessa colagem espacial”.
Yuko ainda surpreende
A arte peculiar de Yuko Mohri lhe conferiu um reconhecimento em países como Japão, França e Inglaterra, algo que só tem crescido nos últimos anos. Entre suas apresentações de destaque, em 2015 ela ganhou o grande prêmio no ‘Nissan Art Award’ e, em 2016, conquistou o ‘Culture and Future Prize’. No ano seguinte, recebeu o Prêmio de Melhor Artista Jovem do ‘67º Prêmio do Ministro da Educação para Belas Artes’ do governo japonês. Em 2018, foi escolhida como representante japonesa do Programa de Intercâmbio Cultural para o Leste Asiático.
Nascida em 1980, no Japão, Yuko vive e trabalha em Tóquio, Japão, mas este ano, ela também é uma das artistas internacionais convidadas para integrar a 34ª Bienal de Arte de São Paulo, que ocorre de 4 de setembro a 5 de dezembro, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque Ibirapuera. A artista também esteve presente na exposição coletiva Vento, realizada em 2020 como parte da programação da 34ª Bienal. Sua forma visceral de traduzir o cotidiano em forma de arte, conquistou o Brasil.
A parceria entre as duas instituições culturais representa um reconhecimento à relevância do trabalho desenvolvido pela Japan House São Paulo na difusão da cultura nipônica e da arte japonesa no Brasil, já que desde 2006, a Bienal não trabalha mais com representações nacionais. “Esta é uma oportunidade dupla para o público poder ter um entendimento e um contato mais amplo com as obras de Yuko, tanto na exposição da Japan House São Paulo ainda em agosto, quanto na exibição da 34ª Bienal”, comenta Natasha Barzaghi Geenen.