Moro no Podemos expõe mais um racha do partido em Goiás
Cinco anos após dizer que jamais entraria para a política, Sergio Moro embarca em campanha à presidência
“Jamais entraria para a política”, disse o então juiz Sergio Moro, responsável por julgar em primeira instância os casos da Operação Lava Jato, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em novembro de 2016.
Cinco anos depois, Moro está prestes a se filiar ao Podemos. O anúncio oficial será feito durante evento em Brasília nesta quarta-feira (10).
Nesse meio tempo, o ex-juiz ocupou o Ministério da Justiça e Segurança Pública por mais de um ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Moro saiu do cargo brigado com Bolsonaro, acusando o presidente de interferir na Polícia Federal (PF). Muito se falava que ele poderia ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), mas agora o caminho é o de tentar viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto, diferentemente do que havia prometido ao Estadão.
No Podemos, o ex-juiz e ex-ministro se coloca como uma alternativa não só a Bolsonaro, mas também ao ex-presidente Lula (PT), talvez o seu principal adversário.
Trata-se, portanto, de mais uma nome da chamada terceira via, que tem mais candidatos do que votos. Porém, ainda escorado no lavajatismo, Moro já aparece bem-colocado nas pesquisas e, embora tenha resistência no meio político, deve conquistar uma boa parte do eleitorado de direita.
Goiás
Há quem acredite que a política nacional influencie a local. Alguma relevância tem, de fato. Se será determinante para definir as alianças das eleições de 2022, essa é uma outra história.
Em Goiás, o Podemos já estava dividido antes mesmo de Moro. A filiação do ex-juiz ao partido expõe apenas mais um racha.
Deputado federal e presidente estadual do Podemos, José Nelto segue como aliado do governador Ronaldo Caiado (DEM), apesar de se mostrar insatisfeito com a indicação de Daniel Vilela (MDB) à vaga de vice na chapa caiadista do ano que vem.
Nelto também é apoiador declarado de Moro e, inclusive, especula-se que ele possa ser o coordenador em Goiás da campanha presidencial do ex-ministro de Bolsonaro.
Por outro lado, o vereador de Goiânia Ronilson Reis (Podemos), que não terá janela partidária em 2022 para trocar de partido, garante que ficará ao lado do presidente e contra Moro.
Há, ainda, uma outra discordância entre Nelto e Ronilson. Diferentemente do deputado federal, o vereador é entusiasta da candidatura do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido), ao governo estadual em oposição a Caiado.
Ex-MDB, Mendanha é cotado para se filiar ao Podemos. Ele teria preferência por estar em um partido com presidenciável de centro. Como Moro é de direita, talvez isso mude um pouco a opinião do prefeito de Aparecida de Goiânia.
Um dos articuladores da possível ida de Mendanha ao Podemos é o seu secretário municipal de Relações Institucionais, Felipe Cortez, presidente do diretório metropolitano do partido e com influência junto à executiva nacional.
Se Mendanha for mesmo para o Podemos, Nelto tende a deixar a legenda. Com isso, a coordenação da campanha de Moro em Goiás passaria para outras mãos, possivelmente as de Cortez.
Para deixar a situação ainda mais complexa, o deputado federal Delegado Waldir (União Brasil) é lavajatista declarado e mais um apoiador de Moro. O problema é que ele busca a vaga de senador na chapa de Caiado. Além disso, a União Brasil pode ter o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta como candidato a presidente. (Especial para O Hoje)