Juros podem afetar tendência de crescimento nos Estados
A ata do Copom sugere mais uma alta dos juros básicos na reunião programada para os dias 5 e 6 de novembro
Na visão nem sempre isenta do setor financeiro, a ata da reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central (BC), sugere mais uma alta dos juros básicos na reunião programada para os dias 5 e 6 de novembro. Possivelmente, com a taxa saindo de 10,75% para 11,25% – o que corresponderia a uma taxa real de juros, descontada a inflação esperada para 12 meses, acima de 7,0% ao ano. A se confirmar, o movimento de alta dos juros deverá contribuir para desaquecer a atividade econômica, com efeitos negativos sobretudo sobre as decisões de investimento no setor privado.
Ao longo deste ano, de toda forma, a perda de ritmo na agropecuária, afetada pela quebra da safra, vinha sendo compensada pela tendência de aquecimento no mercado de trabalho, com avanço constante do emprego, trazendo a desocupação para baixo – tendência acompanhada de ganhos reais de renda para os trabalhadores em todas as regiões do País. O resultado tem sido, até o momento, um crescimento expressivo da massa de renda total das famílias, turbinada ainda pelo pagamento de precatórios no começo de 2024, numa injeção próxima de R$ 93,0 bilhões, pelas transferências de renda do setor público e pela política de valorização do salário mínimo.
A combinação daqueles fatores, numa visão praticamente unânime entre os economistas Thais Zara, da LCA Consultores, Camila Saito, da Tendências Consultoria Integrada, Gabriel Couto, do Santander, e Pedro Duarte de Souza Andrade, do Itaú Unibanco, havia trazido surpresas favoráveis para a economia, obrigando consultores e analistas a revisarem suas projeções. O Santander decidiu elevar a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano de 2,0% para 2,3%, segundo Couto, enquanto a Tendências alterou sua estimativa de 1,8% para 2,3%, adianta Camila. Enquanto o Itaú projeta avanço de 2,5%, com forte contribuição do consumo das famílias, que tem seu crescimento estimado em 4,0% para este ano, registra Andrade, a LCA passou a trabalhar com uma estimativa de 2,6% frente a 2,0% na previsão anterior, na avaliação de Thais.
Em linhas gerais, considera Andrade, as economias regionais surgem com crescimento relativamente sólido neste ano, considerando o indicador de atividade do BC. Nos 12 meses encerrados em junho deste ano, registra o economista do Itaú Unibanco, o índice de atividade cresceu 3,4% no Sudeste e no Centro-Oeste, 3,2% no Norte, 2,6% no Nordeste e 2,0% no Sul, já contabilizados, ao menos em parte, os estragos gerados pelas enchentes de maio. Daqui em diante, não se pode destacar a possibilidade de mudança naquelas tendências, dado o impacto dos juros sobre a economia.
Revisões
No cenário nacional, as revisões tornaram-se mais disseminadas a partir da primeira semana de julho, como mostram as edições mais recentes do relatório Focus, produzido pelo Banco Central (BC). Desde lá, as estimativas para o crescimento da economia neste ano foram elevadas de 2,09% para 2,39% na penúltima semana de agosto, ao mesmo tempo em que reduzia as apostas para 2025 de 1,90% para 1,84%, mexendo sempre na dezena após a vírgula. Neste caso, a piora relativa nas perspectivas, observam os quatro economistas, está relacionada a uma política monetária mais apertada do que aquela esperada no começo deste ano, à perda de fôlego do impulso fiscal, com menor impacto de precatórios e das transferências de renda, e ainda a uma expectativa de menor crescimento da economia mundial, na visão compartilhada por Thais e Camila.