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sábado, 23 de novembro de 2024
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Mercado erra longe (de novo). Agora, na previsão do IPCA-15 de setembro

O que acontece quando o termômetro não consegue aferir a temperatura corretamente, já abusando da retórica médica?

Foto: Rafa Neddermeyer/ABr

Reconhecidamente, uma das principais variáveis adotadas pelo Banco Central (BC) e por seu Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir os rumos da política monetária sempre foi a expetativa dos mercados em relação ao comportamento da inflação. E o que acontece quando o termômetro não consegue aferir a temperatura corretamente, já abusando da retórica médica? Bem, no caso do BC, nada. Ainda que as medições realizadas pela autoridade monetária por meio do relatório Focus induzam o Copom a tomar decisões equivocadas, desconectadas da realidade.

A inflação, como já se antecipava desde a mudança na chamada bandeira tarifária da energia elétrica no começo de setembro, voltou ao terreno positivo nas quatro semanas encerradas em 13 de setembro, avançando de 0,02% negativos no final de agosto para 0,13% nas duas semanas seguintes, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas veio muito abaixo do que esperava o setor financeiro, detentor exclusivo das “expectativas inflacionárias” (já que o setor real da economia não tem voz nem vez no Focus). Na mediana das apostas dos mercados, as apostas giravam ao redor de uma taxa de 0,28% para o período, com algumas instituições, a exemplo do Itaú Unibanco, antecipando uma variação de 0,30%.

Se confirmadas, as projeções do mercado teriam resultado numa inflação muito próxima de 4,30% para os 12 meses terminados na sexta-feira, 13 de setembro. Mas o IPCA-15 acumulou variação de 4,12% ao longo daquele período, um pouco mais distante do teto da meta inflacionária fixada para este ano, na faixa de 4,50% (considerando 1,5 ponto percentual de tolerância em relação ao centro da meta, definido em 3,0%). Mais uma vez, a decisão de aumentar a taxa básica de juros, tomada na semana passada pelo Copom, trafega na contramão da tendência muito bem-comportada apresentada pelos preços em geral, reafirmada pelo dado parcial de setembro. Para comparar, o índice havia alcançado 4,50% em 12 meses até o final de julho deste ano, o que reforça uma tendência de recuo nessa medição.

Focos de pressão

Uma comparação lastreada nos dados do IBGE mostra, por exemplo, que a maioria acachapante dos preços teve um comportamento muito positivo entre 15 de agosto e 13 de setembro. Entre os principais focos altistas, cinco produtos contribuíram com 0,13 ponto percentual na formação do IPCA-15 deste mês. Quer dizer, praticamente toda a inflação do período teve como origem a variação de preços daquele grupo de produtos, que incluiu energia elétrica, com variação de 0,84%, mamão (mais 30,02%), passagem aérea (elevação de 4,54%), plano de saúde (avanço de 0,58%) e gastos com hospedagem (mais 2,61%). Todos os demais itens e produtos, tomados em conjunto, tiveram influência virtualmente nula sobre o IPCA-15 de setembro, principalmente em função da queda nos preços da gasolina, do etanol, da cebola, da batata-inglesa e do tomate.

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