Bullying não tem como ‘deixar pra lá’: Especialista orienta sobre como lidar com violência
Uma das formas de combater a violência escolar, segundo o professor, está relacionada à compreensão e análise deste fenômeno
Por Elysia Cardoso
Criado no dia 7 de abril de 2016, o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola foi instituído como uma iniciativa para chamar a atenção para os problemas causados pelo bullying e estimular a reflexão sobre o tema. Sancionada no exato dia do massacre em Realengo, ocorrido cinco anos antes (2011), a Lei nº 13.277/2016 estabelece e reforça o apelo por mais empenho em medidas de conscientização e prevenção ao bullying.
Para o professor de psicologia da Estácio, mestre em psicologia social e doutorando em psicologia, Gervásio de Araújo, a data reforça a importância de dar atenção para este problema. “Os danos sociais e individuais são inúmeros por conta da violência escolar. As pessoas que sofrem têm consequências ligadas, principalmente, ao sofrimento psíquico e, em casos extremos, ao suicídio”, complementa o especialista. Segundo dados do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios, em parceria com o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em uma pesquisa de 2021, oito em cada dez jovens presenciam pelo menos uma situação de violência contra adolescentes nas escolas do Brasil.
Gervásio destaca que entre os danos sociais pode estar a reprodução das violências nos diversos ambientes sociais e em situações graves ataques armados a escolas e comunidades. “A violência na escola pode ocorrer como indisciplina, delinquência, problemas na relação professor-aluno e aluno-aluno, entre outras. Há autores que classificam as formas de violência em conceitos, como, por exemplo, conduta antissocial, distúrbio de conduta e bullying. Ou seja, o bullying é uma das formas de violência no ambiente escolar, caracterizado como comportamentos agressivos, físicos ou psicológicos, que resultam em chutes, empurrões, colocar apelidos, discriminação e exclusão”, detalha o professor.
O psicólogo salienta que estes comportamentos ocorrem, geralmente, contra grupos com características físicas, socioeconômicas, étnicas e sexuais, específicas. Estes grupos sofrem mais ataques do que aqueles considerados ‘padrões’ pela sociedade. “É importante abordar esse problema social para refletir sobre as suas causas, consequências e formas de combate. E mais do que ter um dia para tratar este assunto, é preciso discuti-lo cotidianamente. A discussão da violência e do bullying deve visar à conscientização da comunidade escolar e da população em geral, para a promoção de uma consciência social sobre este problema e se buscar, coletivamente, combater a violência”, orienta o especialista.
Combate
Uma das formas de combater a violência escolar, segundo o professor, está relacionada à compreensão e análise deste fenômeno. “A causa da violência e do bullying envolve aspectos sociais e individuais: fatores econômicos, sociais e culturais e influência de familiares, colegas e comunidade; temperamento do indivíduo. Por isto, o combate à violência escolar requer reflexão e ação junto ao indivíduo e à sociedade. Em geral, quando se aborda o bullying e outras violências há uma tendência de tratar apenas o indivíduo violento, ou seja, apenas o aspecto particular. Com isto, se individualiza ou psicologiza a violência, de forma a esconder os processos sociais inerentes aos comportamentos violentos ou classificados como bullying”, argumenta Gervásio.
“As violências no ambiente escolar são apenas uma expressão das violências da sociedade. A causa da violência não está no indivíduo, mas na sociedade que nos constitui seres humanos. Apenas em casos raros, resultado de algum transtorno psicológico grave, a causa da violência deve ser localizada somente no indivíduo. Assim, é importante educar os indivíduos para a solidariedade e para a construção de uma sociedade para a liberdade”, complementa.
Pais e familiares podem ajudar no combate à violência por meio da educação humanizada das crianças e adolescentes, como explica o psicólogo, fundamentada no respeito à diversidade, fomento de atitudes dialógicas e democráticas na resolução de problemas e conflitos, incentivo à solidariedade. “Além disso, podem contribuir construindo um ambiente familiar acolhedor, onde as pessoas se sintam seguras para compartilhar suas experiências de vida sem se sentirem julgadas ou serem punidas”, indica. (Especial para O Hoje)