Santa Casa cumpre paralisação anunciada e suspende atendimentos por 24 horas
Suspensão foi realizada ontem (19); atendimentos já foram retomados hoje
A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia suspendeu, ontem (19), os atendimentos eletivos, como consultas, exames e cirurgias. Segundo informou a entidade, a paralisação durou 24 horas e fez parte de um movimento nacional das Santas Casas, que alerta para o risco de fechamento definitivo destes hospitais diante da pior crise enfrentada por eles. Ainda de acordo com a Santa Casa, todos os atendimentos agendados para ontem (19) já foram remarcados e o funcionamento hoje (20) já está normalizado.
Nos últimos dias, em diversas entrevistas à imprensa, em reuniões com colaboradores, em publicações do hospital e em um encontro com o presidente da Santa Casa, arcebispo metropolitano de Goiânia, Dom João Justino, e com o vice-presidente, Dom Levi Bonatto, a superintendente falou sobre a crise enfrentada. “É um pedido de socorro, pois precisamos de recursos para manter o funcionamento das Santas Casas”, afirma a superintendente Geral da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, Irani Ribeiro de Moura.
O assunto também foi abordado em uma audiência com o prefeito da capital, Rogério Cruz, e com o secretário municipal de Saúde, Durval Pedroso. “Agora, com essa mobilização, queremos chamar a atenção de toda a sociedade, do poder público e de parlamentares sobre as dificuldades vividas pela rede filantrópica de hospitais e a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia”, diz Moura, enfatizando que se nada for feito, os hospitais podem fechar definitivamente, deixando milhares de pessoas sem assistência.
“Nossas entradas de recursos não batem com as saídas e, a cada dia, estamos nos endividando mais e, sem apoio, vamos fechar. E as Santas Casas não podem fechar”, aponta. A superintendente destaca também que as contas estão à disposição de toda a população. “Estão disponíveis de forma transparente para que vejam como são aplicados os recursos disponíveis, e contamos com o apoio de todos para que possamos continuar atendendo, salvando vidas com qualidade e, sobretudo, de forma humanizada”, diz a superintendente.
Entenda
Conforme dados divulgados pela entidade, uma olhada rápida nos números já deixa clara a gravidade da crise enfrentada pelas Santas Casas: nos últimos 28 anos, desde o início do Plano real, a tabela Sistema Único de Saúde (SUS) e seus incentivos foi reajustada em média em 93,77%. No mesmo período, o INPC subiu 636,07%, e o salário-mínimo 1.597,79%.
Este descompasso representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviços ao SUS pelas filantrópicas. Moura destaca que há uma enorme discrepância entre os valores recebidos e os custos da assistência prestada, principalmente à parcela mais carente da população que depende do SUS e representa mais de 95% dos atendimentos da Santa Casa.
“A Santa Casa de Misericórdia de Goiânia é responsável por mais 70% do atendimento do SUS na capital. Somos o hospital de alta complexidade do município”, frisa Moura, ressaltando que, em contrapartida, a Santa Casa recebe do SUS R$ 10 por uma consulta médica.
Aumentos e atrasos
Para agravar a situação gerada pela defasagem da tabela do SUS, a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia ainda enfrenta o reajuste de medicamentos e o atraso nos repasses dos pagamentos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Segundo afirma, o Governo Federal repassa os valores aos municípios 60 dias após a prestação dos serviços, mas, em Goiânia, os repasses ao hospital estão demorando mais de 100 dias.
“E todos os casos cirúrgicos que chegam judicializados à SMS de Goiânia são encaminhados à Santa Casa, sendo que nem todos temos condições de atender”, diz a superintendente, ressaltando que já comunicou esse fato à SMS, mas os encaminhamentos continuam sendo feitos.
No início da semana, a reportagem de O Hoje já havia questionado a Prefeitura sobre o assunto. Em nota, a Prefeitura de Goiânia, por meio da SMS afirmou que a tem feito um esforço concentrado para quitar, com recursos próprios, todos os contratos ou convênios com prestadores de serviços na área da saúde.
Segundo a pasta, os repasses junto à Santa Casa de Misericórdia de Goiânia foram colocados em dia, mas recentemente um problema no sistema do SUS levou a liberação de apenas uma parte dos recursos, o que provocou um mês de atraso. “A situação vem sendo discutida entre a Secretaria Municipal de Saúde e gestores da Santa Casa e caminha para uma solução”, destaca o comunicado.