Donos de lotes baldios serão multados se houver criadouro do mosquito da dengue
O dono do loteamento deverá além de pagar a multa que aparecerá no boleto de ITU ficar responsável em arcar com as despesas a ser realizada pela Comurg.
Por Sabrina Vilela e Maiara Dal Bosco
A determinação da multa no valor de R$26 mil reais é determinação da Prefeitura de Goiânia aos donos de lotes propensos a criadouro de focos do mosquito Aedes aegypti. O dono do loteamento deverá além de pagar a multa que aparecerá no boleto de Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana (ITU) ficar responsável em arcar com as despesas a ser realizada pela Companhia de Urbanização do Município de Goiânia (Comurg). A decisão começa a valer a partir da próxima semana. O objetivo é que com a iniciativa a população passe a ter mais consciência e diminua o número de casos de dengue na Capital – que está entre as cidades com maior número de óbitos pela doença.
A dona Valdirene das Graças Fernandes, sentiu na pele o que é perder um ente querido por causa de um mosquito. Ela enterrou a tia – que mora em Caiapônia na última quarta-feira (20) por complicações de dengue hemorrágica. “Na minha família quase todos deram dengue. Eu dei a Chikungunya há mais ou menos um mês e a minha filha ainda está se recuperando da doença”, relata.
Valdirene mora no setor América Parque em Aparecida de Goiânia e acredita que o aumento do número de casos da doença na região seja justamente por causa de uma casa abandonada ao lado de onde mora. “Só na minha rua, sete famílias deram dengue e eu fiquei sabendo de mais casos ao redor. Na casa abandonada tem muita coisa jogada e até uma caixa d’água aberta que pode fazer aumentar os casos de dengue”, queixa. Valdirene aluga barracões que ficam próximos a sua casa e segundo ela as famílias também foram picadas pelo mosquito Aedes aegypti.
Ana Lúcia Curado, 40, também foi uma das vítimas da dengue recentemente. Ela nunca havia pegado a doença antes e se sentiu muito mal a ponto de ter que parar na emergência do hospital três vezes na mesma semana por causa de extrema fraqueza. “Os três primeiros dias foram mais dores no corpo e dor de cabeça. Em seguida, além das dores comecei a sentir muita fraqueza, diarreia e vômitos, sem contar com a febre alta, chegando a 39,6”, conta a microempreendedora.
Ela acredita ter pego a doença no interior do estado durante uma viagem porque sentiu os sintomas assim que voltou para a Capital. “Assim que retornei de viagem, no mesmo dia comecei a sentir mal, começando com uma dor nas costas. Fiquei dez dias péssima, sendo os mais difíceis a partir do segundo dia assim que recebi o diagnóstico de dengue”, ressalta.
A decisão da prefeitura com relação a punições a donos de lotes sem a devida limpeza foi acordada junto ao Ministério Público Estadual, a fim de reduzir casos da doença em Goiânia. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), a Capital lidera como o município com o maior número de óbitos, nove até a semana 15, seguidos de Aparecida de Goiânia (3), Inhumas (3), Alexânia (1), Itaberaí (1) e Itapaci (1) totalizando 18 mortes pela doença. Com relação ao número de casos notificados Goiânia possui 30.141 casos e Aparecida de Goiânia vem em seguida com 6.271. Até a semana 155 em Goiás tiveram 48.941 casos confirmados, 103.930 casos notificados e o recorde de variação de notificações em relação ao ano anterior de 271,92%.
Segundo dados do Ministério da Saúde, até a semana epidemiológica 14, ocorreram 393.967 casos prováveis de dengue – taxa de incidência de 184,7 casos por 100 mil habitantes – no Brasil. Em comparação com o ano de 2021, houve um aumento de 95,2 % de casos registrados para o mesmo período analisado. A Região Centro-Oeste apresentou a maior taxa incidência de dengue, com 732,6 casos/100 mil habitantes, seguida das regiões Sul, Norte, Sudeste e Nordeste.
O boletim epidemiológico destaca ainda que, até a semana epidemiológica 14, foram confirmados 280 casos de dengue grave (DG) e 3.473 casos de dengue com sinais de alarme (DSA). Ressalta-se que 271 casos de DG e DAS permanecem em investigação.
Situação de Aparecida de Goiânia também é preocupante
Além de Goiânia, a situação de Aparecida de Goiânia com relação ao aumento de casos de dengue também é preocupante. Dados do último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde (MS) apontam que Aparecida de Goiânia ocupa a 6ª posição no ranking de municípios brasileiros com mais registros de casos prováveis da doença. De acordo com o boletim, o município totaliza 5.470 casos prováveis de dengue, com uma taxa de 908,9 casos/100 mil habitantes.
Neste cenário, Aparecida fica atrás somente da capital Goiânia, Brasilia (DF), Palmas (TO), Votuporanga (SP) e São José do Rio Preto (SP). Com relação ao número de casos confirmados de dengue no município, a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida destaca, por meio do último boletim epidemiológico divulgado que, o respectivo número já passa de 4 mil, somente nos quatro primeiros meses do ano. A pasta destaca que o índice representa quase metade dos 8.470 casos que foram registrados em todo o ano de 2021 na cidade.
Agora, a Secretaria de Saúde do Município tem intensificado as ações preventivas de combate ao mosquito Aedes Aegypt, transmissor da dengue, do zika vírus e da chikungunya. A pasta ressalta, entretanto, que as ações preventivas da Prefeitura só terão efeito se vierem acompanhadas do compromisso da população em exterminar os criadouros dentro das casas. E é com essa mensagem que os agentes de combate a endemias da Vigilância Ambiental de Aparecida têm buscado conscientizar os moradores na luta coletiva contra a proliferação do mosquito.
Para Iron Pereira, coordenador de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde de Aparecida de Goiânia, a situação é mesmo preocupante. “O número de casos aumenta diariamente. Já temos quatro óbitos confirmados e outros sete óbitos em investigação”, afirma.
O coordenador explica que o trabalho da Prefeitura de Aparecida na prevenção à dengue é contínuo, ocorre o ano inteiro, e tem sido intensificado por conta do atual quadro de contágio da doença. A Vigilância Ambiental também reforça a importância de cada morador conferir, semanalmente, o quintal, vasos de plantas, caixas d’água e recipientes de água dos animais de estimação para certificar de que não há larvas do mosquito. Entre os agentes de endemias, há o entendimento de que 80% dos casos são provocados por mosquitos que nascem nas casas.
Reforço
Além das visitas regulares feitas aos domicílios de segunda a sexta, os agentes retornam aos sábados às casas que eles encontraram fechadas durante a semana. Um outro recurso que se soma a este trabalho é a roçagem regular dos lotes baldios na cidade, serviço feito pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SDU).
E, conforme o coordenador Iron Pereira, Aparecida ganhará na próxima semana o reforço do carro de fumacê, que lança no ar um produto inofensivo às pessoas, mas eficaz no combate ao mosquito Aedes Aegypt. Esse serviço estava suspenso desde 2015 em todo o estado de Goiás. “É um serviço auxiliar, que não dispensa, claro, a importância de cada morador continuar fazendo sua parte em casa. A luta contra a dengue é de todos nós”, pontua Iron.