Exposição ‘Marco Alessandro’ revela, por meio de suas obras a arte goiana dos anos 1990
A exposição trata-se de um projeto póstumo e, por essa razão ganha uma atmosfera de homenagem e saudade
Homenagear é relembrar e é nessa energia que a Galeria Parede e a Rebellium Coletiva apresentam a exposição ‘Marco Alessandro’. Para quem não o conhece, te apresento: O artista e sua história confunde-se com a própria história de Goiânia. Suas pinturas, desenhos, colagens e os mais diversos trabalhos em técnica mista foram recuperados pela Alda Alexandre com apoio de sua família. Após nove anos de sua morte precoce, a iniciativa chega carregada de afeto e permanece na cidade até o dia 11 de outubro.
Que falta faz Marco Alessandro para a arte goiana! Talvez seja para amenizar esse sentimento de perda que Alda Alexandre se propôs o desafio de trazer à tona o imenso acervo de obras do artista. Uma maneira encontrada para resgatar seu processo criativo, a exposição que leva seu nome, ganha outro apoio. A digitalização de uma agenda repleta de registros que marcaram suas experiências artísticas reforça o compromisso dos envolvidos em o apresentar por inteiro para aqueles que têm sede de arte.
A exposição ‘Marco Alessandro’ trata-se de um projeto póstumo e, por essa razão ganha uma atmosfera de homenagem e saudade. O artista plástico Marco Alessandro Luziardi Salgado, apesar de carioca de nascimento, passou a maior parte da vida em Goiânia. Desde a infância vivenciou a essência de Goiânia, isso por meio das ruas que pisou no Centro da Capital. Morando aqui e ali, mas sempre na região, ele era frequentador assíduo de bares no coração da cidade. Ali, sua personalidade artística já ganhava referências.
Deixou de estudar arquitetura por não se adaptar ao ambiente acadêmico, considerado esnobe pelo jovem artista. Nesse período, sua tensão com o mundo e um certo traço romântico na busca por uma vida mais autêntica se delineavam, tanto na sua arte. Chegou a ter uma livraria e um sebo, EAV e MAC respectivamente. Movimentos musicais, como punk e pós-punk, também tiveram grande influência na construção da sua subjetividade artística, assim como a linguagem das HQ’s, o cinema, a televisão, e a cultura pop de modo geral.
Tudo que viu, ouviu, viveu e aprendeu resultou em técnicas distintas e uma quantidade de obras que impressiona. Devido ao limitado espaço da Galeria Parede, o recorte que Alda fez ao lado de sua esposa Marta Pinheiro dos trabalhos expostos fisicamente é bastante reduzido se comparado à quantidade de obras deixadas por Marco. Sua produção intensa e diversificada de arte pode ser entendida como um contraponto à tendência da cena artística local da época de valorizar, ou mesmo de folclorizar as obras mostradas dentro dos espaços institucionais.
Segundo o filósofo e professor, Charliston Nascimento, Marco Alessandro é “um dos artistas mais significativos e representativos da arte goiana das décadas de 1990 e 2000”. Nesse sentido, acrescenta ele, que esta exposição póstuma seja também a primeira individual do artista deixa algo a ser questionado. Para Charliston, “esse fato diz mais respeito às deficiências institucionais da arte que a cultura e os artistas goianos historicamente enfrentam, do que propriamente alguma carência referente à qualidade da obra de Marco Alessandro”.
Na visão de Alda Alexandre, a arte de Marco sintetiza a cena artística e cultural goiana dos anos 1990. O acervo deixado por ele revela sua busca por um ponto de inserção no mundo. Essa tensão da relação do artista com o mundo, na arte contemporânea, baliza com o papel da arte enquanto meio de encontrar uma existência autêntica. Nesse contexto, conforme Nicholas Bourriaud, é como se os estilos de vida fossem modos de fazer arte e vice-versa. Se há uma constante na obra de Marco, esta seria a ideia de scrapbook, terminologia em inglês para definir um livro de recortes personalizado com fotos, anotações, coisas achadas e guardadas.