Consumidores abandonam produtos na boca do caixa por não ter como pagar
Entre os meses de janeiro e junho de 2022 cerca de 4,997 milhões de itens foram abandonados no Brasil
Encher o carrinho de compras com itens básicos do dia a dia e levar toda a comida que escolhe para casa é rotina de poucos no País. Com a inflação apertando o orçamento das famílias, o mais comum é ver vários itens ficando para trás na boca do caixa porque o valor ultrapassou o esperado. No Brasil, cerca de 5 milhões de itens foram deixados para trás entre os meses de janeiro e junho de 2022. Essa quantidade representa 704,9 mil itens a mais em relação ao mesmo período do ano anterior – um aumento de 16,5%. Os produtos que são abandonados vão de itens básicos como carne e ovos até doces e bebidas.
Para a coleta de dados foram autorizadas as análises de 982 supermercados de médio e pequeno porte no país. Foram levados em consideração para a amostragem estabelecimentos que atendem a todas as faixas de renda e que faturam mais de R$5 bilhões por ano. A pesquisa envolveu itens cancelados, isoladamente e cupons fiscais inteiros, com aqueles produtos que o consumidor consultou o preço no caixa e desistiu da compra antes de registrar no caixa, conforme destaca o fundador da empresa de levantamento de dados, Juliano Camargo.
Planejamento é essencial para economizar
A justificativa apontada pelo economista Luiz Carlos Ongaratto para explicar a situação é a falta de pesquisa e não ir com a calculadora para o mercado. “O que acontece muito aqui no Brasil é que as pessoas são surpreendidas pelo valor da compra porque acaba que não tem controle do que comprar e não sabe exatamente o preço”.
Ele afirma ainda que é comum as pessoas simplesmente irem colocando itens no carrinho sem ao menos ver o que está na promoção, fazer comparação de preços, marcas ou verificar o tamanho da embalagem. O especialista salienta que o ideal é fazer um planejamento, olhar na despensa, geladeira e anotar os itens mais importantes para uma semana, 15 dias ou mês – de acordo com o hábito de compras.
O economista esclarece que é importante aproveitar as promoções do dia, visto que existem mercados com ofertas específicas para dias da semana promocionais como de promoção da carne, hortifrutti e se programar para ir nesses períodos. “Outras estratégias são importantes como o uso de aplicativos de descontos ou até mesmo aplicativos do mercado para ativar as promoções do item que quero comprar”.
Ongaratto afirma que pequenas economias fazem grande diferença ao final de cada mês. Algo que é importante levar em consideração é um orçamento menor do que a lista de compras , levar em consideração o que está mais barato no mercado como levar a fruta e legumes de época.
Inflação
A inflação continua presente nos alimentos, até porque tem relação com os custos de produção, fatores cambiais e o mercado internacional. Ongaratto explica que por mais que haja uma deflação, essa redução de preços não tem origem no custo dos alimentos, ela foi muito mais ligada aos preços dos combustíveis. É importante ressaltar que os alimentos permanecem em tendência de alta e a causa não tem sido combatida.
Para o economista, a política de aumento da taxa de juros veio para frear a economia como um todo, mas os aumentos de custos são uma questão que não está ligada à taxa de juros. “Na verdade pode ser até um agravante desse aumento de custos, então essas estratégias que estão sendo utilizadas para baixar a inflação não interferem diretamente no preço dos alimentos, por isso eles têm uma tendência de alta”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as compras de mercado estão cerca de 10% mais caras. Os primeiros sete meses do ano registraram aumento de 9,83% em alimentos e bebidas. A preocupação é porque o valor está mais que o dobro da inflação do período medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) que está em 4,77%.
No mês de julho o Brasil registrou deflação de 0,68%, mas apesar da queda a alimentação subiu 1,3%. No último mês o leite chegou a subir cerca de 25,46%. Essa taxa interferiu em seus derivados como queijo (aumentou 5,28%); manteiga (5,75%); leite condensado (6,66%).
Outro aumento que pesou no bolso do brasileiro foi o hortifruti. As frutas tiveram alta de 4,40%. A cebola subiu 40%; a batata inglesa, 29,89%; o café, 15,24%; e o morango, 103,81%.