Servidores do Censo 2022 planejam greve em diferentes estados e denunciam más condições de trabalho
Entre as reclamações, os servidores relatam a falta de assistência da supervisão, desligamentos de recenseadores sem justificativa, além de ausência de ajuda de custo
Trabalhadores do Censo 2022 de diferentes estados planejam parar a coleta de informações como forma de protesto contra a direção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo os recenseadores, os trabalhos estão sendo feitos sob condições precárias.
Entre as reclamações, os servidores relatam a obrigação de se deslocar em áreas perigosas ou de difícil acesso; ameaças e agressões e físicas e verbais sofridas durante o serviço; falta de assistência da supervisão; desligamentos de recenseadores sem justificativa; ausência de ajuda de custo, além de divergências de informações prestadas durante o treinamento e a prática.
Em entrevista ao O Hoje, um ex-recenseador de Goiânia afirmou que não recebeu informações importantes para a coleta de dados e sobre a forma de remuneração. Ele foi dispensado pelo IBGE no último dia 12 e pediu para não ser identificado por receio de represálias.
“Ainda não recebi nada. A gente que monta a carga horária com um mínimo de 25 horas semanais. Temos acesso à um simulador do site do IBGE, mas ele não corresponde com a realidade. A gente recebe por produtividade. Só consigo fechar se tiver 95% de questionário fechado, com [no máximo] 5% de recusas e ausências de moradores. Isso não foi falado no treinamento e não está no manual do recenseador”, disse o ex-recenseador.
“O Censo deste ano está mal planejado. Desde o concurso público, treinamento, contratação e durante a coleta dos dados”, completou.
Também ao jornal O Hoje, uma liderança dos recenseadores do estado da Bahia relatou que as negociações com o IBGE pouco avançaram. “Nós estamos nos organizando para de fato iniciar um movimento grevista. Estamos no momento numa etapa de tentar negociação com IBGE. Já noticiamos formalmente através de e-mail e por meio da imprensa para que o pessoal do IBGE passe a respeitar nossos direitos, mas até o momento a resposta que a gente tem é o silêncio”, relatou.
Pelas redes sociais, os servidores já definem o dia 1 de setembro como uma possível data de paralização. Os movimentos se concentram nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.
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Carta de reivindicações
Na última segunda-feira (22/8), representantes dos recenseadores enviaram uma carta expressando as reivindicações da categoria. Entre outros pontos, o texto relata atrasos nos pagamentos e falta de informações. Confira:
Inicialmente, gostaríamos de pontuar os frequentes e costumeiros atrasos em relação aos pagamentos da categoria. Diversos recenseadores têm nos relatado que não receberam a ajuda de custo relacionado ao treinamento, tão pouco a ajuda de custo relacionada ao deslocamento para executar o recenseamento. Essa falta de regularidade nos pagamentos está comprometendo a execução do serviço, onde uma grande parcela da categoria necessita deslocar-se através do transporte coletivo, local e ou regional.
Não obstante, as desencontradas informações têm gerado insegurança e ansiedade para toda a categoria. Tratando-se de repercussão geral, chegou ao conhecimento dos recenseadores, que só poderíamos encerrar o trabalho no setor censitário se tivermos aplicados questionários a 95% de todo o setor.
A categoria é unânime em solicitar a reconsideração deste critério, tendo em vista que a informação não nos foi passada em treinamento e também não consta no manual do recenseador. Somos remunerados por produção, logo nosso interesse seria fazer “110%” do setor censitário; paradoxalmente encontramos, nos debatemos com diversas situações onde o cidadão é taxativo em afirmar que não vai prestar as informações ao IBGE, não nos dando outra escolha.
Outrossim, gostaríamos que V.Sª, analisasse a concessão de um valor de ajuda de custo que seja superior ao transporte coletivo, exercemos atividade penosa, estamos expostos na rua onde muitas vezes temos a necessidade de comprar uma água ou fazer um lanche para postergarmos o trabalho de coleta.
Face ao exposto, que temos orgulho em integrar uma das fundações mais respeitadas do país. O Censo é fundamental para alimentar a base de dados da administração pública, e desta forma os entes federativos poderão gerir os recursos públicos da melhor maneira possível. Certo de sermos atendidos, gostaríamos de agradecer antecipadamente vossos esforços“, finalizou a carta.
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Resposta
Na tarde desta terça, o IBGE se pronunciou nas redes sociais sobre as denúncias dos recenseadores. Em nota, o órgão reconheceu os atrasos nos pagamentos e informou estar comprometido para solucionar os impasses. Confira:
O IBGE reconhece e pede desculpas pela demora na liberação do pagamento do trabalho de coleta dos recenseadores. O Instituto informa que está comprometido em reduzir esses prazos. Acompanhe as mudanças nos processos que, em breve, serão divulgadas.
Em relação aos pagamentos solicitados até dia 18/8, referentes a ajuda de locomoção e diárias, já foram regularizados. Sobre os pagamentos de ajuda de treinamento, há ainda algumas demandas residuais que estão sendo resolvidas caso a caso pelo IBGE em suas respectivas unidades estaduais. Dessa forma, o IBGE demostra o compromisso de honrar as suas obrigações em remunerar aqueles que vêm trabalhando na operação censitária.
Todos sabemos que realizar um recenseamento em cerca de 75 milhões de domicílios distribuídos em 5.570 municípios não é tarefa fácil. O IBGE reafirma o respeito pelo papel fundamental dos recenseadores e dos outros servidores temporários que fazem os questionários do Censo chegarem até todos os domicílios deste país“, finalizou a nota.
Em três semanas de coleta de dados, aproximadamente 43 milhões de pessoas já responderam ao questionário do Censo Demográfico 2022. Cerca de 19 milhões de domicílios já foram visitados em todo o território nacional brasileiro, conforme dados do Portal Brasileiro de Educação.