Mercado de seminovos recupera força com baixa dos preços
Apesar do aumento no número de vendas, o mercado ainda não voltou à normalidade. A queda anual está em 20%
Entre 2020 e 2021, o segmento de carros usados passou por uma das piores crises em décadas. No ano passado, o preço dos veículos seminovos chegou a crescer 24%. O cenário, no entanto, tem mudado e os preços já estão retomando patamares anteriores ao da pandemia. Segundo dados da Federação Nacional dos Revendedores de Veículos (Fenauto), a média dos preços dos veículos usados caiu 7,5% no intervalo de três meses entre abril e junho de 2022.
Especialistas afirmam que essa tendência se deu devido à falta de componentes e a desistência das pessoas de comprarem o veículo por conta da alta. Levantamento da Serasa e Opinion Box aponta que a renda da população brasileira teve queda de 34% pelos impactos financeiros gerados pela Covid-19.
Outra realidade atual é com relação a contratação de seguros, com aumento de 40,4% nos últimos 12 meses conforme mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a partir do monitoramento da inflação oficial medida no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Gerente de vendas, Renato de Castro Moreira, atua no ramo de comercialização de carros há 13 anos. Ele afirma que durante a pandemia a empresa passou dificuldades devido à falta de produtos e lojas fechadas, as poucas que conseguiram fazer foram por telefone. “Ainda não recuperamos o volume de vendas, a indústria automobilística falta componentes eletrônicos”.
Para ele, o volume de vendas está estável, mas não tem previsão de voltar a crescer. Moreira afirma que a indústria não tem componentes eletrônicos suficientes, por isso não é possível aumentar o volume de vendas no momento. “O movimento para os próximos meses terá um pequeno, um crescimento de 10%”.
Impactos
Economista, Everaldo Leite destaca que o mercado de carros novos sofreu o impacto da escassez de semicondutores em todo o mundo no início deste ano. Ele explica que semicondutores são imprescindíveis em carros que receberam novas tecnologias. As medidas protetivas contra a pandemia de Covid-19 desorganizaram as cadeias produtivas em todo o planeta e as fábricas desses componentes reduziram ou paralisaram a sua produção por algum tempo, conforme o especialista em finanças declara.
Leite explica que como essa produção está concentrada especialmente em Taiwan, poucas alternativas foram possíveis. “Alguns carros novos tiveram de ser vendidos sem acessórios que já vinham sendo oferecidos anteriormente. Tais dificuldades e a queda na escala de produção ajudaram a elevar o custo de montagem dos carros. Em especial, o preço dos carros importados, com o câmbio muito desvalorizado, ficou bastante alto”.
Segundo ele, o efeito inicial foi o de elevação na demanda por carros novos, em 2021, pois os consumidores de classe média e mais alta aproveitaram os ganhos financeiros do período para comprar novos lançamentos e atualizações antes que os preços dos veículos aumentassem ainda mais. Neste momento, explica Everaldo, a queda observada tem relação com as dificuldades das pessoas em realizar novos negócios, seja porque a renda não permite, ou aumentos de barreiras ao crédito.
“A taxa de juros está cada vez mais alta e as atividades econômicas estão seguindo a passos muito lentos. São incertezas que afetam tanto as decisões do consumidor, quanto as das instituições financeiras. O mercado de carros usados, que também sofreu aumentos significativos de preços desde o ano passado, agora também é impactado pela mesma situação do país”.
O especialista afirma ainda que a inflação tem praticamente o mesmo impacto nos carros novos e nos usados, mas é o comportamento da demanda que tem determinado mais fortemente o aumento ou a queda nos preços dos usados. A tabela FIPE, observada a longo prazo, apresenta sempre muitas oscilações, típicas de um mercado competitivo e regionalizado.
Dicas para quem deseja adquirir um carro ou trocar
O especialista pontua que o consumidor precisa ter em mente os motivos que o levam a comprar o carro. Segundo Leite cada perfil exige um tipo de carro, se for para o trabalho o perfil do veículo será um – eficiência do motor, consumo de combustível, tipo de câmbio, tamanho do porta-malas etc -, se for para a família o perfil será outro, se for para o trabalho e para a família, o perfil será outro também.
Outro fator importante é verificar os gastos que virão ao longo do tempo, inerentes à marca e ao modelo a ser adquirido. “Hoje não é difícil encontrar carros importados luxuosos, com dez anos de uso, sendo vendidos a preços de carros novos ou usados simples, chamados “de entrada”, especialmente porque sua manutenção é caríssima, praticamente proibitiva. O Consumidor precisa procurar empresas idôneas ou boas concessionárias e buscar procedências, garantias e outras informações sobre o estado do carro. Existem empresas que também, quando contratadas, podem fazer esses levantamentos para o consumidor, caso ele não tenha condições de fazê-los”.
Para quem já tem um carro, mas quer trocar por um modelo mais atual é preciso conhecer quais as preferências do consumidor, suas condições orçamentárias e observar o impacto econômico familiar face a uma possível nova dívida (financiamento), se for o caso. O especialista orienta que o mais vantajoso em sentido econômico é adquirir um seminovo, ou seja, com um ano de uso porque seu valor cairá pelo menos 20% em relação ao novo.
Mas, as condições de mecânica, de estado de conservação e quilometragem – o quanto rodou – precisam ser verificadas, “pois há muitos carros de locadoras com um ano de uso sendo vendidos no mercado, estando a maioria com quilometragem altíssima e desgastes mecânicos”.