Alimentação saudável pode reduzir risco de depressão em até 16%
Quem já possui algum transtorno pode agravar sintomas de estresse, ansiedade e até depressão.
A má alimentação além de desencadear problemas com relação a saúde física também pode gerar ansiedade, depressão e até transtornos alimentares. O artigo publicado em julho de 2022 pelo jornal científico da Academia Americana de Neurologia aponta que se alimentar de forma adequada e praticar atividades físicas são essenciais para a saúde do cérebro. Outras pesquisas também mostram que as bactérias do intestino podem influenciar no bem-estar de uma pessoa de várias formas.
Outro fator que está ligado à alimentação saudável é a depressão acarretadas muitas vezes pela obesidade, conforme mostra a pesquisa da University College London. Um aumento da incidência de obesidade em pessoas com estresse crônico e em indivíduos que se tornaram obesos são os que têm mais chances de desenvolverem a depressão, de acordo com o estudo.
No caso de quem já possui algum dos transtornos pode agravar ainda mais os sintomas de estresse, ansiedade e até depressão. Em entrevista para Telavita, a endocrinologista, Cintia Cercato afirma que “pesquisas apontam que indivíduos que possuem um padrão de dieta saudável são capazes de reduzir 16% o risco de transtorno depressivo”.
Mudança de hábito
A ansiedade e a dificuldade para dormir eram problemas que perturbavam a consultora de vendas, Marivan Silva de Souza Oliveira,48. Mas, a situação mudou quando ela passou a adotar um estilo de vida mais saudável. “Antes eu tinha o costume de comer muito à noite e comida pesada. Isso atrapalhava muito meu sono, me causava desconforto e refluxo. Agora me alimentando de forma correta consigo dormir bem e a noite toda”.
Ela também passava mal com frequência devido a algumas alimentações que ela não podia ingerir, além da ansiedade. Atualmente ela não usa nenhum medicamento ou faz algum tratamento para saúde mental. O que ajudou Marivan a ter mudanças significativas em sua rotina alimentar foi uma amiga chamada Kely Xavier, que por oito anos “pegou no meu pé” para aprender a se alimentar de forma saudável sem muitas restrições e a criar uma rotina de atividade física. Para as práticas de atividades físicas regulares, ela conta com a ajuda do professor Luiz Carlos, além de fazer corrida.
Relação com a comida
Nutricionista Clínica e Comportamental, Victória Ramos Pereira destaca que um padrão dietético ruim está associado a piora de sintomas de doenças como depressão e ansiedade devido a aumento da inflamação e estresse oxidativo, além de deficiências nutricionais específicas. “Os nutrientes formam o substrato para os processos biológicos essenciais do corpo e cérebro, de modo que garantir que os níveis de nutrientes sejam adequados em pacientes que sofrem de transtornos mentais é importante”, explica.
A especialista destaca que a alimentação afeta a saúde mental e cerebral por quatro vias principais: fornecendo nutrientes, melhorando a saúde intestinal, reduzindo ou aumentando a inflamação e fazendo a modulação do estresse oxidativo que é decisivo para a manutenção da saúde mental. Um outro aspecto importante dessa conexão é a obesidade, segundo ela, que aumenta a chance de quatro vezes desenvolver depressão. “Os aspectos nutricionais são tão importantes na saúde mental que têm inspirado pesquisadores para um novo campo de investigação multidisciplinar chamado Psiquiatria Nutricional, permitindo um olhar transdisciplinar sobre a relação nos aspectos mente/cérebro e metabolismo, estilo de vida e nutrição nas doenças crônicas”.
Contudo, Pereira reafirma que de maneira nenhuma a alimentação deve ser vista como um substituto para o acompanhamento psicológico ou até mesmo para o tratamento psiquiátrico. Embora os estudos na área sejam considerados promissores, ela esclarece que aspectos nutricionais estão relacionados à melhora da saúde mental, não são responsáveis por ela. O tratamento é multidisciplinar e a alimentação deve entrar como “coadjuvante”.
Ela esclarece que sinais como ansiedade, irritabilidade, memória ruim, agitação, depressão ou dificuldade de concentração podem estar relacionados a excesso de consumo de carboidratos simples e deficiências nutricionais específicas, por exemplo. No entanto, é difícil atribuir exclusivamente a alimentação a causa de qualquer delas.
Doenças crônicas
A alimentação inadequada está envolvida no desenvolvimento de uma série de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão e dislipidemias. “Hoje sabemos também que nutrientes específicos e um perfil alimentar típico do oriente – a chamada Dieta do Mediterrâneo – pode ajudar a prevenir e/ou amenizar sintomas de desordens mentais como depressão, ansiedade, autismo e TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade]”, destaca.
Já no que se refere a transtornos alimentares, envolve questões de saúde mental que tem a alimentação como componente principal. Em termos de prevenção, a nutricionista alerta que é necessário estar atento aos sinais de comer transtornado que envolvem preocupação excessiva com a comida e com o corpo, restrições alimentares severas, hábito de compensar possíveis deslizes na alimentação, entre outras coisas.
Em pessoas que já possuem o transtorno diagnosticado, o papel da nutrição é fornecer substrato para o correto funcionamento do corpo, sem regras rígidas, em conjunto com o acompanhamento psicológico. “Nesse caso, não trabalhamos com dietas específicas e sim com comportamentos”.
Para iniciar mudanças mais saudáveis, Victória Pereira afirma que em vez de pensar no que tirar, deve-se pensar primeiro no que pode ser adicionado à alimentação. Ela orienta o consumo de mais frutas e vegetais, aumentar as proteínas magras – ovos, frango e peixes. Também procurar consumir peixes com frequência, usar azeite de oliva como gordura na cozinha, aumentar o consumo de alimentos integrais, ricos em fibras. Outro fator destacado pela especialista é a redução de alimentos industrializados como salgadinhos de pacote, doces, refrigerantes, pães, bolachas e fast food. (Especial para O Hoje)