Alunos aprendem a metade do esperado durante a pandemia
Após o fechamento das escolas em meio à pandemia, o Brasil registra níveis muito abaixo da média, principalmente nas etapas da alfabetização
O nível de aprendizado de português e matemática caiu em todas as etapas do ensino nos últimos dois anos. Evine Nunes, 11, enfrentou muitas dificuldades para acessar as aulas durante a pandemia e teve seu aprendizado prejudicado. A mãe, Adnilda Lima dos Santos, 40, conta que a filha ainda não consegue copiar as tarefas do quadro nem ler os exercícios dos livros. “O desenvolvimento dela está sendo muito ruim. As aulas voltaram, mas não teve uma aula de reforço para poder acompanhar o desenvolvimento”, conta.
“Com as aulas online, minha filha não aprendeu nada. Às vezes a gente não tinha condições de pagar a internet. “Minha filha hoje está no 6º ano, mas se fosse avaliar realmente, ela deveria voltar para o 2º ano, eles sempre vão passando, mas as crianças não estão aprendendo”, lamenta.
Após o fechamento das escolas em meio à pandemia, o Brasil registra níveis muito abaixo da média, principalmente nas etapas da alfabetização. Os resultados são do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021 e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021 pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A pontuação obtida pelos alunos do 2º ano do ensino fundamental em língua portuguesa passou de 750 pontos em 2019, em média, para 725,5.
As pontuações são distribuídas em 8 níveis, de acordo com os conteúdos aprendidos. A queda de 24,5 pontos entre um ano e outro significa que a média brasileira caiu em um nível.
Os resultados também informam que os alunos do 2º ano que estão nos 3 primeiros níveis, ou seja, que não conseguem sequer ler palavras isoladas passou de 15,5% em 2019 para 33,8% em 2021. Ao mesmo tempo, os que estão no nível 8, o mais alto, caiu de 5% para 3%.
Matemática
Quanto ao ensino de matemática a percentagem dos estudantes nos três primeiros níveis passou de 15,9% em 2019 para 22,4% em 2021. São alunos incapazes de resolver problemas de adição ou subtração o que trouxe uma queda de 9 pontos, nesta avaliação. A média nacional era de 750 pontos em 2019 e hoje é de 741.
“Não foge do esperado, acho que era uma expectativa, a gente sabe que para essa faixa etária nessa especificidade da alfabetização, essa mediação presencial é especialmente importante”, diz, a coordenadora-geral do Saeb, Clara Machado, para a Agência Brasil, durante apresentação dos resultados. “[O resultado] permite entender o que aconteceu nesse período de pandemia e planejar a melhor intervenção na alfabetização, que é ponto de atenção”, acrescenta.
Outro importante estudo mostra também que os alunos aprenderam somente metade do esperado durante a pandemia, justamente por conta do fechamento das escolas e a transferência para o ensino remoto.
Em média, 65% do que geralmente era aprendido em aulas presenciais. Isso equivale a cerca de quatro meses de aulas perdidas. Crianças em situação de maior vulnerabilidade social aprenderam, em média, quase a metade, 48%, do que seria esperado em aulas presenciais.
Realidade semelhante em diferentes países
Levantamentos que medem o impacto da pandemia no aprendizado dos estudantes foram realizados em outros países, mas esse é o primeiro feito no Brasil com foco na educação infantil. Os dados divulgados mostram quanto a interrupção das atividades presenciais nas escolas aumentou a desigualdade de aprendizagem durante o ano de 2020 e causou impacto sobretudo nas crianças de famílias com perfil socioeconômico mais baixo.
A mesma publicação mostra que entre as crianças com famílias que apresentam um perfil socioeconômico alto as perdas na aprendizagem foram menores. Em média, o aprendizado desses alunos foi de 75% do esperado, o que demonstra uma diferença de 3 meses entre o aprendizado desse grupo com o de perfil menor poder socioeconômico.
Duas etapas
As crianças participantes fizeram testes individuais em dois momentos: no início e no fim do ano letivo. Assim, foi possível medir o aprendizado delas ao longo dos respectivos anos letivos, 2019 e 2020, e compará-las. Os professores das escolas e os responsáveis pelas crianças também responderam a um questionário sobre o desenvolvimento infantil.
Os resultados mostram que as crianças que cursaram o segundo ano da pré-escola em 2020, a maior parte do tempo no formato remoto, aprenderam 66% em linguagem e 64% em matemática em comparação com o aprendizado em 2019.
A pré-escola é a etapa que antecede o ensino fundamental e os aprendizados ali influenciam o processo de alfabetização, que se iniciará na etapa seguinte. No teste feito pelos pesquisadores foi considerada, por exemplo, a identificação das letras e dos números.
A pesquisa ainda está em andamento e os autores continuam coletando dados para estimar os impactos da pandemia na educação em médio prazo durante o ano de 2022 e está sendo financiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. (Especial para O Hoje)