Adeus a Gal Costa: Com quase seis décadas de carreira, cantora era considerada uma das maiores vozes da música brasileira
Cantora Gal Costa morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos, em sua casa, em São Paulo
Conhecida por ser extremamente afinada e por seu timbre de voz agudo característico, Gal Costa, uma das maiores cantoras do Brasil, morreu aos 77 anos, em São Paulo, na manhã desta última quarta-feira (9). A informação foi confirmada pela assessoria da cantora. Ela havia dado uma pausa em shows, após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita.
O procedimento afastou Gal dos palcos nos últimos meses. Seguindo as orientações médicas, a intérprete de ‘Baby’ cancelou todas as apresentações que tinha até o final de novembro, incluindo no festival Primavera Sound, onde faria uma apresentação inspirada em ‘Fa-Tal’, disco gravado ao vivo em 1971, eleito como um dos melhores álbuns brasileiros de todos os tempos pela revista Rolling Stone. De acordo com a agenda, ela ainda tinha dois shows previstos para os próximos meses.
Foram 57 anos de carreira, iniciada em 1965, quando a cantora apresentou músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ela ainda era Maria da Graça quando lançou ‘Eu vim da Bahia’, samba de Gil sobre a origem da cantora e do compositor.
História de Gal Costa
Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gal, nasceu em Salvador, na Bahia e começou a cantar na adolescência em festas escolares e trabalha em uma loja de discos, onde conheceu a bossa nova. Em 1964 ela se junta aos artistas cantores Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia em ‘Nós, Por Exemplo’, show de inauguração do Teatro Vila Velha, em Salvador. No mesmo ano, ainda como Maria da Graça, gravou um disco com as faixas ‘Eu Vim da Bahia’ e ‘Sim, Foi Você’.
De acordo com a Enciclopédia da Música Brasileira, projeto do Itaú Cultural, depois de 1967 ela gravou duas músicas do álbum ‘Tropicália’ ou ‘Panis et Circencis’, de Caetano.
A capacidade de se reinventar foi uma característica marcante da cantora e sua carreira foi marcada por mudanças. A primeira delas acontece em 1968: com colar de espelhos, penteado black power e o canto agudo e provocador, Gal defende a canção ‘Divino Maravilhoso’ no 4º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record e fica em terceiro lugar.
Em 1969, lançou dois álbuns, ‘Gal Costa’ e ‘Gal’, com canções de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, ícones da jovem guarda. Na voz da cantora, as composições de apelo pop ganham interpretação enérgica. Ao longo do exílio de Caetano e Gil, iGal torna-se representante do tropicalismo. Em 1970, a cantora vai para Londres para visitar os dois músicos e, de volta ao Brasil, lança ‘LeGal’
Tocando na questão política, a capa do álbum ‘Índia’ traz um close da virilha da cantora, vestida com um biquíni e, na contra capa, ela aparece de seios nus. O LP foi vendido nas lojas dentro de um plástico escuro por causa da censura. Com o disco ‘Cantar’, Gal se reaproxima da MPB e muda a postura vocal, amenizando a agressividade e priorizando a voz límpida, um retorno à referência de João Gilberto.
Em 1975, Gal, Gil, Caetano e Bethânia se reúnem para o espetáculo ‘Os Doces Bárbaros’, que dá origem ao disco homônimo. No mesmo ano, interpreta ‘Modinha para Gabriela’, do compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e tema de abertura da adaptação do romance Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado (1912-2001). Menos experimentais, Gal Canta Caymmi (1975) e os dois álbuns seguintes, Caras e Bocas (1977) e Água Viva (1978), são sucessos de público.
Em 1980, ela revisita a obra do compositor Ary Barroso (1903-1964) com o álbum ‘Aquarela do Brasil’. Com ‘Fantasia’ (1981), alcança sucesso nas rádios com a faixa ‘Festa no Interior’, de Moraes Moreira (1947- 2020) e Abel Silva.
Em 1988, recebeu o Prêmio Sharp de melhor cantora. Na década de 1990, retoma a parceria com Salomão no disco ‘Plural’, e em 1993, lança ‘O Sorriso do Gato de Alice’. No álbum ‘Recanto’, de 2011, Gal se reinventou novamente. O trabalho, composto e produzido por Caetano, traz um repertório com música eletrônica e o funk carioca.