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quarta-feira, 16 de outubro de 2024
FRAUDE

Justiça suspende benefícios de mais de 600 pessoas por fraudes envolvendo contaminação por césio-137, em Goiânia

Segundo a Procuradoria Geral do Estado (PGE), laudos médicos apresentados para comprovar a contaminação do Césio-137 eram falsificados, resultado de uma investigação conduzida pela Polícia Civil

Postado em 16 de outubro de 2024 por Thaynara Raquel
Césio-137 — Foto: Reprodução/Fantástico
Césio 137 — Foto: Reprodução/Fantástico

O Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) iniciou a suspensão dos benefícios de 644 pessoas que obtinham isenção de imposto de renda alegando falsamente contaminação pelo césio-137, radiação envolvida no maior acidente radiológico do mundo, ocorrido em Goiânia em 1987.

A operação, intitulada Fraude Radioativa, revelou que advogados envolvidos no esquema apresentavam laudos falsos para obter isenção fiscal indevida. Um policial militar reformado teve seus benefícios suspensos após a descoberta das fraudes, com um prejuízo estimado em R$ 31.601,76. Ao todo, os 644 beneficiários teriam causado danos milionários aos cofres públicos.

“Se as isenções baseadas em laudos médicos falsificados continuarem, o Estado de Goiás continuará sofrendo prejuízos milionários, além de o Poder Judiciário estar sendo utilizado de maneira indevida”, afirmou o desembargador Carlos França, responsável pela decisão.

A operação foi deflagrada pela Polícia Civil em 30 de setembro e visa combater fraudes que totalizam R$ 20 milhões, relacionadas aos benefícios pagos às vítimas do acidente com o césio-137. Durante a ação, foram cumpridos três mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Goiânia. Entre os investigados estão um procurador e dois militares aposentados, que negam envolvimento nas fraudes, alegando que foram enganados pelas advogadas responsáveis.

O procurador Carlos Alberto Fonseca, um dos investigados, admitiu falta de cautela ao confiar nas advogadas. Ele declarou: “Não fomos ao processo verificar os exames, o que foi um erro de cautela, mas não ingenuidade.”

Duas advogadas estão presas por suspeita de liderarem o esquema. Ana Laura Pereira Marques está em prisão domiciliar, enquanto Gabriela Nunes Silva foi solta e responde em liberdade. A defesa de Ana Laura afirmou que só se pronunciará em juízo, e o advogado de Gabriela, Jonadabe Almeida, declarou que ela desconhecia a existência dos documentos falsificados.

De acordo com o delegado Leonardo Dias Pires, responsável pela investigação, os suspeitos alegavam que o material coletado das supostas vítimas seria enviado a um laboratório nos Estados Unidos para análise, justificando que não havia laboratório no Brasil capaz de realizar tais exames.

Além disso, um policial militar reformado foi preso por captar clientes para as advogadas, e outros cinco advogados estão sendo investigados.

Relembre o acidente com o Césio-137

ACIDENTE RADIOATIVO, CÉSIO-137, EM GOIÂNIA./ Foto: Divulgação
ACIDENTE RADIOATIVO, CÉSIO-137, EM GOIÂNIA./ Foto: Divulgação

O acidente radiológico que ocorreu em Goiânia, em 1987, é considerado o maior do mundo. No dia 13 de setembro daquele ano, dois catadores de materiais recicláveis encontraram um aparelho de radioterapia abandonado, desmontaram o equipamento e o venderam a um ferro-velho. Eles desconheciam que o aparelho continha césio-137, um material altamente radioativo. A substância, um pó de cor azul, acabou contaminando 249 pessoas e resultou na morte de quatro delas.

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