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sábado, 23 de novembro de 2024
História do Brasil

André Rebouças é incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria

Engenheiro, intelectual e abolicionista, Rebouças é homenageado por suas contribuições técnicas e sociais, marcando um avanço no reconhecimento de figuras negras na história do Brasil

Postado em 20 de outubro de 2024 por Luana Avelar

Reconhecido oficialmente como um “herói da pátria” nesta semana, André Rebouças (1838-1898) foi mais do que um engenheiro; destacou-se também como intelectual e abolicionista. Sua inclusão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria marca um momento importante na história do Brasil, ao valorizar figuras históricas além de suas contribuições técnicas.

O baiano foi um dos engenheiros mais influentes do século XIX no Brasil, responsável por obras como pontes, docas, estradas de ferro e sistemas hídricos. No entanto, sua atuação não se limitou à engenharia; ele também se dedicou a causas sociais e políticas, principalmente ligadas à abolição da escravidão. A inclusão no livro, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reconhece seu impacto como defensor da igualdade racial.

Historiadores afirmam que essa homenagem é fundamental para corrigir a imagem do intelectual como monarquista que se exilou após o fim do Segundo Reinado. Antonio Carlos Higino, autor de André Rebouças no Divã de Frantz Fanon, explica que a República, nascida de uma elite escravocrata, não ofereceu as condições necessárias para a liberdade dos negros no Brasil, segundo o engenheiro. Sua inclusão no livro é vista como parte da reparação histórica.

Jorge Santana, professor do Instituto Federal do Paraná, destaca que a presença do abolicionista no Livro dos Heróis é importante para incluir figuras negras e outros grupos historicamente excluídos. “É um avanço na revisão histórica, permitindo que protagonistas antes ignorados sejam finalmente reconhecidos como agentes de transformação na história do Brasil”, comenta.

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, criado em 1992, homenageia personalidades que contribuíram para a liberdade e democracia no Brasil. Feito de aço, o livro está no Panteão da Pátria, em Brasília. A inclusão de novos nomes depende de aprovação pelo Congresso, e a Lei nº 15.003, que oficializa a homenagem ao engenheiro, foi publicada no Diário Oficial da União.

Trajetória de Rebouças

André Pinto Rebouças nasceu em Cachoeira, na Bahia, e formou-se engenheiro militar, junto com seu irmão Antônio, no Rio de Janeiro. Eles trabalharam em projetos como o porto do Maranhão e as fortificações costeiras. O profissional também participou da Guerra do Paraguai, retornando ao Brasil para liderar as obras do porto do Rio de Janeiro e das Docas de Pedro II.

Ele evitava o uso de mão de obra escravizada em suas construções e buscava garantir proteção aos trabalhadores. Segundo Higino, o abolicionista desenvolveu um “projeto moderno” que refletia seu engajamento social e político. A partir da década de 1870, suas viagens à Europa e aos Estados Unidos influenciaram suas convicções, levando-o a atuar na luta contra a escravidão no Brasil.

Na década de 1880, o intelectual ajudou a fundar a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Confederação Abolicionista. Em seus escritos, criticava a escravidão como um “cancro” que impedia o desenvolvimento do Brasil. Mesmo fazendo parte da classe média negra e contando com a proteção da família imperial, posicionou-se publicamente contra a escravidão e defendeu uma reforma agrária para os ex-escravizados.

Com a proclamação da República, Rebouças se exilou com a família imperial, acreditando que a nova forma de governo perpetuaria as injustiças da elite escravocrata. No exílio, trabalhou na África, mas enfrentou dificuldades e se desiludiu com a exploração colonial. Ele faleceu em Portugal, em 1898, em circunstâncias não esclarecidas.

Reconhecimento

O engenheiro deixou um legado de escritos e análises que buscavam um Brasil mais igualitário. Ele alertava para a necessidade de ações concretas após a abolição da escravatura, como a distribuição de terras para os libertos. Santana reforça que o pensador social vislumbrava um “Brasil do futuro”, onde a proteção social, a educação e a infraestrutura fossem prioridades.

Hoje, sua inclusão no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria resgata a memória de um dos principais intelectuais e abolicionistas do país, reconhecendo sua visão e luta pela igualdade.

 

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