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domingo, 24 de novembro de 2024
Data

Dia da Consciência Negra: celebrando a resistência e a luta por justiça social no Brasil

Entenda o significado da data e seu impacto na sociedade brasileira

Postado em 15 de novembro de 2024 por Eduarda Leão
consciência negra
Happy African American parents having fun while talking and carrying their small kids on shoulders during spring day in nature. Copy space.

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, representa uma oportunidade única de reconhecer e valorizar a contribuição da população negra para a formação cultural, social e econômica do Brasil. É também um momento de reflexão sobre o impacto do racismo e das desigualdades que ainda persistem, convidando a sociedade a debater sobre temas cruciais como reparação histórica, igualdade de oportunidades e respeito à diversidade. Com raízes que remontam a séculos de luta e resistência, o feriado é mais do que uma homenagem, é um símbolo de resistência e um marco na busca por justiça social.

Contexto histórico

O Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão, em 1888, após quase 350 anos de tráfico de africanos e exploração de suas vidas e corpos. Durante esse período, milhões de homens, mulheres e crianças foram arrancados de seus lares, submetidos a jornadas desumanas e forçados a trabalhar em condições degradantes em plantações, minas e na construção de cidades.

Embora a abolição da escravidão tenha sido uma vitória formal, ela não foi acompanhada de políticas públicas que oferecessem suporte à população negra. Após a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, muitos ex-escravizados foram deixados à própria sorte, sem acesso à terra, emprego ou educação. 

A resistência sempre foi uma característica marcante das comunidades negras no Brasil. O Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi, é um dos maiores exemplos dessa luta. Localizado na região hoje conhecida como Alagoas, Palmares foi um refúgio para escravizados fugidos, funcionando como uma comunidade autônoma onde se praticavam valores de igualdade e liberdade. Zumbi, morto em 20 de novembro de 1695, tornou-se um símbolo de resistência, inspirando gerações de movimentos negros.

A escolha do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra ocorreu na década de 1970, promovida pelo Movimento Negro Unificado (MNU). Essa data foi selecionada por sua conexão com a morte de Zumbi dos Palmares, um líder que resistiu bravamente ao sistema escravagista. Antes disso, o 13 de maio, dia da assinatura da Lei Áurea, era considerado uma referência para celebrações relacionadas à população negra. No entanto, ativistas argumentavam que o 13 de maio simbolizava uma abolição “incompleta”, realizada sem participação efetiva dos negros e sem reparar as injustiças cometidas durante a escravidão.

O Dia da Consciência Negra, por sua vez, não apenas celebra o fim da escravidão, mas também promove a memória de resistência e luta que caracteriza a história dos negros no Brasil. Ele serve como um convite para que toda a sociedade reflita sobre o legado da escravidão e a perpetuação do racismo estrutural.

Dados

Dados do IBGE revelam que as desigualdades raciais no Brasil estão profundamente enraizadas em áreas como educação, mercado de trabalho e segurança pública, evidenciando o impacto do racismo estrutural. Na educação, a taxa de analfabetismo entre a população negra é significativamente maior do que entre a população branca, refletindo séculos de exclusão do acesso à instrução básica. 

No mercado de trabalho, a disparidade salarial é um reflexo direto do preconceito. Uma vez que o salário médio de um trabalhador negro é 42% menor que de um branco. O dado faz parte do estudo “O Custo Salarial da Desigualdade Racial”, publicado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em agosto deste ano. Além disso, o estudo também revelou que a taxa de desemprego entre homens negros é 1,4 vezes maior que de homens brancos. E entre mulheres, é 1,5 vezes maior entre negras.

A violência também reflete essa realidade desigual. Segundo o Atlas da Violência 2024, a cada 10 vítimas de homicídio no Brasil, sete são pessoas negras. Ainda assim, Em 2022, 76,5% dos homicídios do Brasil foram contra negros. O percentual representa 35.531 negros mortos intencionalmente no país. As mortes de pessoas não negras são 19,4% do total de mortes com registro racial.

Mudanças

Apesar desse cenário desafiador, o movimento negro brasileiro tem alcançado conquistas notáveis ao longo das décadas. A implementação da Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) é um marco que ampliou significativamente o acesso da população negra às universidades públicas e institutos federais. Essa política tem desempenhado um papel crucial na redução das desigualdades educacionais e na formação de uma geração mais capacitada para enfrentar os desafios do racismo estrutural.

Outro avanço importante é a Lei nº 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Essa medida visa resgatar e valorizar as contribuições dos negros para a formação da identidade nacional, promovendo um maior reconhecimento de sua importância histórica e cultural.

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Os resultados das eleições municipais de 2024 revelaram um leve avanço na representatividade racial entre os eleitos. Segundo dados do TSE, 26.789 vereadores negros (pretos e pardos) foram eleitos, representando 45,86% do total, um aumento em relação aos 44,46% registrados em 2020. No entanto, essa proporção ainda é inferior ao percentual de candidaturas negras, que chegou a 52% em 2024, mostrando que há desafios para traduzir o número de candidatos em mais eleitos.

Entre os prefeitos, 1.865 se autodeclararam negros, equivalente a 33,5% do total, o maior índice já registrado pela Justiça Eleitoral. Esse número cresceu 1,6 ponto percentual em relação a 2020 e 4,4 pontos em comparação a 2016. Apesar do progresso, a representatividade negra segue distante de refletir a diversidade racial da população brasileira, indicando a necessidade de ações contínuas para ampliar a inclusão e a igualdade racial na política.

Sendo assim, o Dia da Consciência Negra é uma oportunidade para confrontar a história, reconhecer as contribuições da população negra e imaginar um futuro mais justo. Uma vez que o racismo não é apenas uma questão individual, mas um problema sistêmico que exige mudanças profundas em todos os níveis da sociedade.

Para que o Brasil avance, é essencial que essa data seja utilizada como uma plataforma para debates construtivos, celebrações culturais e ações concretas que promovam a igualdade racial.

 

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