O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

terça-feira, 3 de dezembro de 2024
PublicidadePublicidade
Operação Deméter

Golpes milionários contra produtores rurais levam casal à lista da Interpol

O grupo criminoso movimentou aproximadamente R$ 19 bilhões em três anos

Postado em 3 de dezembro de 2024 por Renata Ferraz
Casal
Foto: Divulgação/PCGO

A Polícia Civil de Goiás segue intensificando as buscas por Vinicius Martini de Melo e Camila Rosa Melo, casal suspeito de liderar um esquema criminoso milionário que lesou produtores rurais em Rio Verde. O casal está foragido e tiveram seus nomes incluídos na lista da Interpol. A investigação, parte da operação Deméter, expõe crimes como sonegação fiscal, estelionato e lavagem de dinheiro, com estimativa de movimentação ilícita de R$ 19 bilhões em apenas três anos. 

As apurações tiveram início em junho de 2023, quando surgiram denúncias de que produtores pagavam por grãos que nunca eram entregues. De acordo com o delegado Márcio Marques, responsável pelo caso, o casal utilizava empresas de fachada e “laranjas” para emitir notas fiscais falsas e evitar o recolhimento de impostos. “Quem pagava a conta era o Estado, que arcava com o prejuízo gerado pela sonegação fiscal”, explicou.

Entre os dias 28 e 29 de novembro, a operação Deméter cumpriu 34 mandados de busca e apreensão e realizou quatro prisões em cidades como Rio Verde, Morrinhos, Goiânia, e até em locais fora do Brasil. Durante as diligências, foram confiscados bens estimados em R$ 200 milhões, incluindo 468 veículos, duas aeronaves, sete imóveis de luxo, caminhões bitrens avaliados em mais de R$ 1 milhão cada, além de joias, documentos e armas.

As investigações apontam que o grupo criminoso liderado pelo casal operava com grande sofisticação. O esquema envolvia não apenas a sonegação fiscal, mas também o uso de estratégias para lavagem de dinheiro. A prática consistia em adquirir grãos por valores inflacionados e revendê-los abaixo do preço de mercado, sem recolher os tributos devidos.

Esse modelo de operação gerou um impacto duplo: prejuízo ao Estado e aos agricultores, que, além de não receberem os valores prometidos, tiveram sua produção revendida para terceiros. “Eles compravam as safras e não pagavam; em seguida, revendiam para outros produtores, gerando um ciclo de prejuízo generalizado”, detalhou o delegado Márcio Marques.

Pelo menos 13 produtores já formalizaram denúncias, mas acredita-se que o número de vítimas seja muito maior, dado o receio de alguns agricultores em expor suas perdas. Informações preliminares indicam que a empresa do casal adquiriu mais de 3 milhões de sacas de grãos a cerca de R$ 60 por unidade, com promessa de pagamento futuro, mas muitos contratos não foram honrados.

Enquanto acumulavam dívidas e ampliavam os danos financeiros, Vinicius e Camila mantinham uma vida de luxo, exibindo bens caros e viagens em suas redes sociais. A ostentação pública gerou ainda mais revolta entre as vítimas do golpe. A Polícia Civil confirmou que o casal fugiu para os Estados Unidos, onde continuaram suas atividades fraudulentas antes de entrarem na lista de procurados da Interpol.

O caso não é isolado e reflete um crescimento de fraudes financeiras no setor agropecuário em todo o Brasil. Dados do DataSenado apontam que entre junho de 2023 e junho de 2024, cerca de 24% da população brasileira acima de 16 anos sofreu algum tipo de crime cibernético, incluindo fraudes ligadas ao agronegócio.

Especialistas explicam que, com o aumento do acesso ao crédito rural, os golpistas encontram novas oportunidades para explorar vulnerabilidades. Entre os métodos mais comuns estão sites falsos, que imitam páginas de instituições financeiras para roubar dados bancários e pessoais, e mensagens fraudulentas que oferecem crédito urgente em troca de pagamento antecipado.

O pedido de adiantamentos para liberação de empréstimos ou insumos agrícolas também é um dos golpes recorrentes. Produtores são orientados a desconfiar de ofertas excessivamente vantajosas e a sempre verificar a autenticidade das empresas ou instituições envolvidas nos processos.

A operação Deméter marca um esforço significativo para combater esses crimes. O bloqueio de R$ 19 bilhões, valor estimado como movimentação suspeita do grupo e do casal, segue em análise pela Justiça. Paralelamente, a Polícia Civil reforça que as investigações continuam, tanto para localizar os foragidos quanto para identificar outras ramificações da organização criminosa.

Leia mais: PCGO prende no Mato Grosso suspeito de matar jovem por engano

O delegado Márcio Marques afirmou que a ação também serve de alerta para produtores e autoridades. “Esse tipo de crime afeta não apenas os envolvidos diretamente, mas toda a economia do Estado e do setor agropecuário”, concluiu.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também