Goianienses enfrentam falta de leitos e servidores reclamam atrasos salariais
Nos últimos meses, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de vagas em UTIs, evidenciando a gravidade da situação na crise da saúde de Goiânia
Goiânia tem enfrentado, nos últimos meses, um verdadeiro caos na saúde pública. Há falta de leitos em UTIs, superlotação nos CAIS (Centros de Atenção Integral à Saúde), médicos com atrasos salariais e falta de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além de diversos outros problemas que agravam a situação.
Nos últimos meses, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de vagas em UTIs, evidenciando a gravidade da situação. A cidade também lida com superlotação em hospitais, interrupção de atendimentos domiciliares e fechamento de leitos por falta de pagamento a fornecedores.
A situação da saúde pública em Goiânia é classificada como calamitosa pelo Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindsaúde-GO). A rede municipal enfrenta uma crise generalizada, com escassez de medicamentos, insumos e falta de profissionais. Além disso, os trabalhadores relatam atrasos nos pagamentos e condições precárias nas unidades de saúde.
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De acordo com o Sindsaúde, profissionais de diversas áreas estão sem receber benefícios básicos, como o vale-alimentação, há mais de cinco meses. A incerteza sobre o pagamento dos salários de dezembro agrava ainda mais o cenário, já que o atual secretário municipal de saúde informou que as contas estão bloqueadas, o que pode comprometer a folha de pagamento.
Entre os médicos, a insatisfação com atrasos salariais também tem levado a mobilizações. A prefeitura regularizou recentemente a última competência dos pagamentos, mas débitos anteriores continuam pendentes. Essa situação tem provocado paralisações e pode culminar em greve. Segundo o sindicato, os atrasos não se restringem aos médicos, afetando todos os trabalhadores da saúde, como equipes de limpeza, enfermeiros e técnicos, que enfrentam condições adversas e falta de salários.
A crise de abastecimento nas unidades de saúde é grave. Há relatos de falta de medicamentos essenciais, como insulina, dipirona e antibióticos. No Cais Amendoeiras, por exemplo, a ausência de insumos compromete até o funcionamento da Sala Vermelha, destinada a casos de emergência. “A situação é preocupante, e ainda faltam mais de 20 dias para a posse do novo prefeito”, afirma o Sindsaúde.
Além da precariedade estrutural, os trabalhadores enfrentam sobrecarga e pressão constante. “Os profissionais de saúde estão absolutamente pressionados pela população, pois são eles que enfrentam a cobrança direta por medicamentos, insumos e vagas que não existem”, destaca o sindicato. O estresse físico e mental afeta médicos, enfermeiros e todos os trabalhadores da linha de frente.
Apesar dos esforços do Sindsaúde para buscar soluções, não houve posicionamento da prefeitura sobre a crise. Tentativas de contato com membros da atual gestão e da equipe de transição foram infrutíferas. “A vice-prefeita informou que só haverá diálogo após a posse. Até lá, os trabalhadores e usuários permanecem sem respostas e com condições deterioradas”, lamenta o sindicato.
A situação da saúde em Goiânia, segundo o Sindsaúde, demanda ação imediata, tanto para garantir melhores condições de trabalho aos profissionais quanto para atender às necessidades urgentes da população usuária do SUS.
O jornal O Hoje esteve no Cais Amendoeiras na sexta-feira (06), onde ocorreu uma mobilização dos funcionários relacionada ao atraso nos pagamentos e ao possível fechamento da unidade. Após uma reunião entre a Secretaria de Saúde e a responsável pela unidade, ficou decidido que o Cais permanecerá com atendimento aberto até o dia 31/12.
Duas funcionárias de limpeza, que preferiram não se identificar, compartilharam as dificuldades enfrentadas após ficarem sem receber trabalho por dois meses .
“Eu tive que procurar outro emprego, mas ainda não recebi nenhum outro. Minha família está me ajudando com a cesta básica. Agora as contas estão todas penhoradas”, revelou uma das trabalhadoras. Questionada sobre sua situação familiar, ela contou que tem filhos e que os pagamentos da babá também estão atrasados.
Um colega reforçou o relato: “As contas estão atrasadas, cartão atrasado, e não temos de onde tirar. Eu trabalho só nesse aqui mesmo.”
Sobre o posicionamento da empresa ou do sindicato, ambas expressaram descrição. “Eu não participo de sindicato, porque o salário já é pouco e, com o desconto do sindicato, fica ainda menor”, afirmou uma delas.
Segundo a funcionária, a empresa responsável pela contratação teria emitido uma nota explicando que os pagamentos foram bloqueados devido a questões judiciais. “Eles disseram que o repasse já foi feito, mas está bloqueado e estão aguardando a liberação para o dinheiro cair na conta.”
MPGO requer intervenção do Estado na área da Saúde
O Ministério Público de Goiás (MPGO) protocolou pedido de intervenção estadual na saúde pública de Goiânia, devido à grave crise no setor. A solicitação, apresentada pelo procurador-geral Cyro Terra Peres ao Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), aponta notoriamente sistemáticas aos direitos à vida e à saúde, ao descumprimento de decisões judiciais e à má gestão financeira.
Entre os problemas destacados estão a superlotação, falta de insumos básicos, precariedade estrutural e paralisação de médicos. A crise foi agravada pela prisão de membros da Secretaria Municipal de Saúde, atrasos nos repasses de palavras e abandono de reformas. Apesar das decisões liminares exigindo melhorias, a prefeitura não cumpriu integralmente as obrigações.
A vereadora Daniela da Gilka expressou preocupação com a crise na saúde pública em Goiânia e os rumores sobre o fechamento de uma unidade de saúde na região Leste da cidade.
“Será que realmente há fechamento, como vamos atender a população? A região Leste inteiro, juntamente com a Norte, ficaram sem atendimento. Essa população precisa de socorro, de ajuda. A saúde está em crise, mas a população não pode pagar o preço por uma má gestão”, afirmou Daniela.
O MPGO justifica a medida devido ao fracasso de tentativas anteriores, como notificações e acordos, e busca normalizar os serviços essenciais e garantir os direitos constitucionais da população. O TJGO avaliará o pedido.
O Sindicato dos Médicos no Estado de Goiás (Simego) anunciou que, a partir da próxima segunda-feira (09), os profissionais credenciados junto à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) irão paralisar os atendimentos. Enquanto isso, os trabalhadores enfrentam dificuldades para sustentar suas famílias e manter as contas no dia, aguardando uma solução definitiva para o problema.