1º de maio: o trabalho em transformação e o alerta para a saúde mental
Em 1º de maio, o Brasil se une a outros países para celebrar o Dia do Trabalho, uma data que representa as conquistas e desafios da classe trabalhadora. O feriado nacional, garantido por lei, não apenas presta homenagem à luta histórica por direitos, como também incentiva a discussão sobre as mudanças atuais no mercado de […]
Em 1º de maio, o Brasil se une a outros países para celebrar o Dia do Trabalho, uma data que representa as conquistas e desafios da classe trabalhadora. O feriado nacional, garantido por lei, não apenas presta homenagem à luta histórica por direitos, como também incentiva a discussão sobre as mudanças atuais no mercado de trabalho e o papel vital dos trabalhadores na sociedade. Em 2025, o país prepara uma programação que mescla eventos culturais, manifestações sindicais e debates sobre o impacto da tecnologia e da economia nas relações de trabalho.
A origem da data remete ao final do século XIX, período marcado por intensas mobilizações operárias em diferentes regiões do mundo. No Brasil, o 1º de maio foi oficializado como feriado em 1924, durante a gestão de Artur Bernardes. Desde então, sua importância cresceu, impulsionada por marcos como a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Atualmente, além de atos reivindicatórios por melhores salários e condições de trabalho, o Dia do Trabalho é celebrado com atividades que destacam o valor social do trabalho.
As ruas brasileiras tradicionalmente se tornam cenário para protestos e manifestações organizadas por sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais. Entre as principais bandeiras estão a valorização salarial, a defesa de direitos trabalhistas e o combate à precarização, que afeta sobretudo os trabalhadores de aplicativos e do setor informal. Em tempos de profundas transformações no mundo do trabalho, o 1º de maio reafirma seu papel como espaço de resistência e reflexão.
Desafios
As celebrações do Dia do Trabalho em 2025 abrem espaço para debates urgentes sobre o futuro das relações profissionais no Brasil. A transformação digital, a informalidade crescente e o esgotamento mental entre trabalhadores pautam as discussões em um cenário cada vez mais desafiador para o mercado de trabalho.
A automação desponta como um dos principais vetores dessa mudança. Máquinas e softwares vêm substituindo funções humanas em setores diversos, da indústria ao comércio, exigindo que milhões de trabalhadores se adaptem a uma nova realidade.
Estimativas da Organização Internacional do Trabalho indicam que até 20% dos postos de trabalho no mundo podem ser automatizados nos próximos anos. No Brasil, esse avanço tecnológico impõe a necessidade urgente de políticas voltadas à requalificação profissional e ao acesso à educação técnica.
Enquanto isso, a informalidade atinge níveis alarmantes. Segundo o IBGE, cerca de 38 milhões de brasileiros atuam hoje sem carteira assinada, sem proteção previdenciária ou garantias trabalhistas básicas. Motoristas de aplicativo, ambulantes e trabalhadores do setor de serviços integram essa massa de profissionais que vivem à margem dos direitos conquistados nas últimas décadas. Essa realidade escancara a urgência de medidas que incentivem a formalização e garantam condições mínimas de dignidade no trabalho.
Outro ponto que deve movimentar os debates em 1º de maio é a escalada dos casos de burnout, síndrome relacionada ao esgotamento crônico provocado pelas pressões do ambiente profissional. Apenas em 2023, 421 trabalhadores foram oficialmente afastados por esse motivo, segundo o INSS o maior número registrado em uma década.
O crescimento dos diagnósticos é atribuído a uma combinação de fatores: maior conscientização sobre saúde mental, reconhecimento da síndrome como doença ocupacional pela OMS, ambientes de trabalho mais exigentes e, em alguns casos, falhas na distinção entre o burnout e outros transtornos psicológicos.
Levantamentos apontam que até 40% da população economicamente ativa no país apresenta sinais da síndrome. Para especialistas, esse dado revela a face oculta de um mercado marcado por sobrecarga, metas agressivas e escassez de apoio emocional nas empresas.
Burnout
Para que o diagnóstico de burnout seja confirmado, o paciente precisa apresentar pelo menos uma das três dimensões que definem essa síndrome. A primeira é a exaustão emocional, caracterizada por um cansaço extremo relacionado à atividade profissional, quando o indivíduo sente que já não possui a energia necessária para lidar com as demandas do trabalho.
A segunda é a despersonalização, marcada pelo distanciamento afetivo em relação a colegas, clientes ou à própria equipe, e que configura um traço distintivo do burnout em relação ao estresse comum. A terceira dimensão envolve a sensação de baixa realização profissional, quando a pessoa passa a se perceber como inadequada ou ineficaz, alimentando sentimentos de fracasso, incompetência e queda na autoestima.

Pacientes com burnout costumam apresentar diversos sintomas físicos, entre eles a fadiga persistente, a insônia, a tensão e as dores musculares, além de cefaleia, alterações gastrointestinais e mudanças no apetite, que podem se manifestar tanto em forma de aumento quanto de perda da fome. Dois sinais adicionais que ajudam a diferenciar o burnout de um quadro de simples exaustão são o crescente desprezo pelo trabalho realizado e a visão negativa que o indivíduo passa a desenvolver sobre si mesmo.
Além disso, a falta de autonomia para tomar decisões diárias reforça a sensação de impotência, enquanto a ausência de reconhecimento ou recompensas gera a percepção de ser apenas uma peça invisível em grandes projetos, sem qualquer conexão com o resultado final.
Relações profissionais fragilizadas, seja com supervisores, colegas, clientes ou pacientes, criam ambientes tóxicos e dificultam a resolução de conflitos, aumentando a exposição a práticas de intimidação.
Situações de injustiça, como discriminação ou falta de oportunidades de crescimento, também figuram entre os fatores que alimentam o burnout. Para completar o quadro, muitos trabalhadores enfrentam o dilema ético de atuar em funções ou empresas que contrariam seus valores, o que intensifica o sentimento de frustração e desgaste emocional.
No contexto do Dia do Trabalhador, o tratamento do burnout ganha ainda mais relevância, pois reforça a importância de condições dignas e saudáveis de trabalho. A recuperação envolve o afastamento do ambiente estressor, o acompanhamento psicológico e, quando necessário, o uso de medicamentos. A terapia auxilia na reconstrução da autoestima e no enfrentamento das pressões profissionais.