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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Prato havaiano

Poke em alta

Prato havaiano com influência asiática se populariza no Brasil com foco em saúde, personalização e consumo urbano

Luana Avelarpor Luana Avelar em 22 de maio de 2025
Foto: Sabor na mesa
Foto: Sabor na mesa

No cruzamento entre o improviso de pescadores havaianos e a precisão milenar da culinária asiática, nasceu o poke, prato que hoje ocupa um lugar cativo no cardápio de restaurantes urbanos e nas entregas por aplicativo no Brasil. Servido em tigelas e composto por peixe cru em cubos, arroz, vegetais e molhos, o poke se consolidou como uma das expressões mais emblemáticas da gastronomia globalizada: uma comida prática, fresca, personalizável e carregada de simbologia cultural.

No idioma havaiano, “poke” significa “cortar em fatias”, referência direta ao modo como o peixe é preparado. Originalmente, era uma refeição dos pescadores do arquipélago do Pacífico, que utilizavam os peixes recém-capturados e os temperavam com sal marinho, limu (um tipo de alga) e nozes kukui. A receita foi se transformando com a chegada de imigrantes japoneses, chineses e coreanos ao Havaí, principalmente a partir da década de 1970, quando ingredientes como molho de soja, óleo de gergelim, cebola roxa e wasabi passaram a integrar o prato.

O resultado foi uma fusão culinária que transcendeu fronteiras. A partir dos anos 2000, o poke começou a se espalhar pelos Estados Unidos continental e, na década seguinte, chegou ao Brasil, onde encontrou um público ávido por refeições saudáveis e leves. Segundo um levantamento da consultoria Kantar, o número de estabelecimentos que oferecem poke cresceu 47% entre 2020 e 2023 nas capitais brasileiras.

O sucesso também se reflete no mercado de delivery. Dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) indicam que, apenas em 2023, os pedidos de poke cresceram 29% nas principais plataformas de entrega do país. O modelo de darkkitchen, cozinhas voltadas exclusivamente para entregas, tem impulsionado esse crescimento, permitindo que pequenos empreendedores comercializem o prato sem necessidade de estrutura física tradicional.

Um dos atrativos está na versatilidade. O consumidor pode escolher a base (arroz branco, integral ou quinoa), a proteína (atum, salmão, frango ou tofu), os acompanhamentos (edamame, manga, abacate, pepino, entre outros) e os molhos (teriyaki, ponzu, maionese picante). Essa possibilidade de personalização atende tanto ao paladar quanto a restrições alimentares e preferências individuais.

Além disso, o poke é associado a benefícios nutricionais. Peixes como atum e salmão são ricos em ácidos graxos ômega-3, que ajudam a reduzir os níveis de colesterol, melhoram a função cerebral e têm efeito anti-inflamatório. O Ministério da Saúde recomenda o consumo regular de peixes como parte de uma alimentação equilibrada, e estudos da Fiocruz indicam que refeições com base em alimentos frescos e minimamente processados estão associadas à menor incidência de doenças crônicas.

O prato também ganhou espaço nas redes sociais. Com aparência colorida e montagem estética, o poke se tornou um dos alimentos mais fotografados no Instagram e no TikTok. Essa popularidade visual contribui para sua disseminação entre jovens e pessoas com estilo de vida urbano.

No entanto, o crescimento do poke no Brasil também levanta discussões sobre apropriação e descaracterização cultural. Em muitos estabelecimentos, versões tropicais do prato incluem ingredientes como batata palha, molhos prontos ou proteínas empanadas, o que distancia a receita das suas raízes havaianas. Especialistas em cultura alimentar alertam para a importância de reconhecer a origem do prato e compreender suas transformações sem apagamento cultural.

Apesar disso, o poke permanece como símbolo de uma nova era gastronômica. Ele reflete a fusão entre tradição e contemporaneidade, entre práticas ancestrais e demandas modernas. Seu sucesso no Brasil é, em parte, resultado de uma mudança no comportamento alimentar, que prioriza leveza, diversidade e rapidez, mas também do desejo de se conectar com sabores do mundo sem sair da rotina.

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