O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
saúde

Fumaça disfarçada: médicos alertam para os perigos do cigarro eletrônico

Com embalagens chamativas e sabores adocicados, vapes impulsionam uma nova geração de dependentes e mantêm o tabagismo como uma ameaça ativa à saúde pública no Brasil, especialmente em Goiás, onde o índice de fumantes supera a média nacional

Luana Avelarpor Luana Avelar em 22 de maio de 2025
WhatsApp Image 2025 05 22 at 16.27.43

O combate ao tabagismo no Brasil vive um momento ambíguo: se por um lado o consumo do cigarro tradicional registra queda contínua, por outro, os cigarros eletrônicos, também chamados de vapes ou pods, ganham popularidade, especialmente entre os jovens. Apresentados como alternativas modernas e menos nocivas, esses dispositivos estão criando uma nova geração de dependentes da nicotina, alimentando uma crise silenciosa na saúde pública.

Em Goiás, o cenário é especialmente preocupante. Dados do primeiro Inquérito de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), publicados em 2023, mostram que 13,1% dos adultos no estado são fumantes, um a cada oito goianos. O número está bem acima da média nacional, estimada em 9%. A prevalência é maior entre os homens (15,5%) do que entre as mulheres (10,7%).

O uso de cigarros eletrônicos aparece como tendência crescente. Segundo o mesmo levantamento, 4,6% da população goiana relatou usar dispositivos eletrônicos para fumar ou vaporizar, com destaque para a faixa etária entre 18 e 24 anos, onde o índice chega a 16%. A pesquisa, realizada com mais de cinco mil adultos entre janeiro e abril do ano passado, indica que, embora os índices de tabagismo estejam em declínio em várias regiões, o vape ameaça reverter esse progresso.

A preocupação entre especialistas é evidente. “Estamos enfrentando uma nova geração de dependentes”, afirma o pneumologista Matheus Rabahi. “O apelo visual e a falsa sensação de segurança fazem com que muitos adolescentes iniciem o uso do vape muito cedo, comprometendo a saúde pulmonar antes mesmo da vida adulta”.

Os cigarros eletrônicos, ao contrário do que muitos acreditam, podem conter ainda mais nicotina que os cigarros convencionais. Além disso, abrigam substâncias químicas tóxicas que provocam inflamações nas vias respiratórias e aumentam o risco de doenças pulmonares graves. Estudos recentes já identificam, entre usuários de vapes, sinais de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), além de quadros inflamatórios persistentes e dependência química precoce.

A DPOC é uma enfermidade progressiva e irreversível, que engloba condições como bronquite crônica e enfisema pulmonar. Tem como principal causa a exposição prolongada à fumaça do cigarro, seja ela ativa ou passiva. Os sintomas mais comuns incluem falta de ar progressiva, tosse crônica, chiado no peito e cansaço contínuo. “É uma doença debilitante, que compromete a capacidade de realizar atividades simples do dia a dia e pode evoluir para necessidade de oxigênio contínuo”, alerta Rabahi.

O tabagismo continua sendo responsável por mais de 50 doenças diferentes, como câncer de pulmão, de boca, de laringe, de esôfago, de estômago, de pâncreas, de rim e de bexiga, além de enfermidades cardiovasculares e respiratórias crônicas. Os efeitos não se limitam aos pulmões: fumantes frequentemente apresentam mau hálito, escurecimento dos dentes, alterações no paladar, cansaço crônico e envelhecimento precoce da pele.

A exposição ao fumo passivo também impõe riscos consideráveis. Pessoas que não fumam, mas convivem com fumantes, têm até 30% mais chance de desenvolver câncer de pulmão. Em crianças, o contato frequente com a fumaça está associado ao desenvolvimento de doenças respiratórias, como asma, e a prejuízos no desenvolvimento pulmonar.

Apesar da gravidade do quadro, há caminhos possíveis para reverter os danos. Parar de fumar, ainda que tardiamente, traz benefícios quase imediatos ao organismo. Em 20 minutos, a pressão arterial tende a se normalizar. Após 12 horas, o monóxido de carbono no sangue retorna a níveis seguros. Em poucas semanas, a função pulmonar melhora, e a circulação sanguínea se fortalece. “Nunca é tarde para parar de fumar. Os benefícios para a saúde são significativos em qualquer idade, e a qualidade de vida melhora consideravelmente”, reforça o pneumologista.

O processo de cessação, porém, exige suporte. Tratamentos que combinam atendimento médico, acompanhamento psicológico e apoio em grupo têm mostrado bons resultados. A dificuldade de abandonar o cigarro, ou o vape, não é apenas uma questão de força de vontade: envolve dependência química, aspectos emocionais e fatores sociais. Campanhas públicas, programas de prevenção e acesso a tratamento gratuito são importantes para que mais pessoas consigam se libertar do vício.

Ainda que o cigarro tradicional esteja em declínio, a paisagem do tabagismo no Brasil mudou — e talvez mais perigosa por se apresentar sob novos disfarces. O vapor perfumado dos pods esconde a mesma armadilha de sempre: uma dependência que se instala sorrateira e compromete o corpo inteiro. Combater o fumo, agora, significa também desmistificar o cigarro eletrônico e impedir que ele substitua o vício que o país tanto lutou para reduzir.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também