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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
CARTA PÚBLICA | HOMENAGEM

Sebastião Salgado é homenageado pelo MST por legado em livro que ajudou a erguer a ENFF

Obra “Terra”, organizada após o massacre de Eldorado dos Carajás, financiou a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes e se tornou símbolo da luta camponesa

Luana Avelarpor Luana Avelar em 25 de maio de 2025
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A morte do fotógrafo Sebastião Salgado, aos 81 anos, gerou comoção no Brasil e no exterior, mas sua ausência física não encerra o vínculo com os movimentos sociais do país. Em uma carta pública divulgada na última sexta-feira (24), a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), centro de formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), homenageou o fotógrafo e destacou sua contribuição decisiva para a história da instituição, fundada nos anos 1990.

A construção da escola, localizada em Guararema, interior de São Paulo, foi viabilizada em grande parte graças à venda do livro Terra, publicado em parceria com Salgado após o massacre de Eldorado do Carajás, em 1996. Naquele episódio, 21 trabalhadores rurais foram assassinados pela Polícia Militar do Pará durante uma marcha em direção a Belém.

A comoção gerada pela violência estatal impulsionou uma onda de solidariedade internacional ao MST, consolidada na campanha global em torno da publicação, que reuniu fotografias emblemáticas da luta camponesa no Brasil. Uma das imagens mais conhecidas é a da entrada dos trabalhadores sem-terra, com foices erguidas, pela porteira da fazenda Giacometi, em Rio Bonito do Iguaçu (PR), numa das maiores ocupações da história do movimento.

“O livro com encarte de disco e exposição fotográfica percorreu mais de 100 países, articulado por comitês de solidariedade e grupos de amigos do MST”, afirma a carta assinada por Carlos Bellé, em nome da Brigada Apolônio de Carvalho, equipe de trabalho da escola. “A luta pela terra no Brasil irmanou-se aos trabalhadores do mundo”.

A publicação contou com prefácio do escritor português José Saramago e teve como trilha sonora um disco de Chico Buarque. O projeto editorial transformou-se em uma ferramenta de mobilização política e financeira, além de consolidar o nome de Salgado como aliado da causa agrária.

Na homenagem, o MST reconhece que o impacto da obra foi além da captação de recursos. “Nem tudo é passageiro nas frágeis circunstâncias da vida; algumas ações calam fundo na alma e nos movem a seguir”, diz o texto. A carta também destaca o valor de Salgado como parte do que chama de “coletivo construtor da Exposição Terra”.

Salgado, que se exilou na França durante a ditadura militar brasileira e formou-se economista antes de dedicar-se à fotografia documental, é reconhecido por sua abordagem humanista e por registrar as consequências da pobreza, da migração forçada e da degradação ambiental. Nos últimos anos, dedicou-se a retratar a Amazônia e povos originários, trabalho que resultou no livro Amazônia (2021), feito em parceria com sua esposa e curadora, Lélia Wanick Salgado.

A relação de Salgado com o MST remonta a uma história compartilhada de denúncia e resistência. Para a ENFF, essa ligação permanece viva. “Semente não morre; transforma-se”, conclui a carta.

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