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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
PRESSÃO

Mabel recebe críticas e pressão de servidores por salários e direitos

Com denúncias de assédio moral, atrasos salariais e cortes em direitos, áreas da Educação e da Saúde enfrentam desgaste

Micael Silvapor Micael Silva em 29 de maio de 2025
Sandro Mabel tem enfrentado dificuldades para equilibrar as contas públicas e manter o funcionalismo satisfeito Foto: Divulgação/Secom
Fabrício Rosa: “A má gestão se dá no sentido de que ele não consegue dialogar com os servidores e com a população acerca do que ele pretende fazer”. || Foto: Divulgação/Secom

Desde que assumiu a Prefeitura de Goiânia, Sandro Mabel tem enfrentado dificuldades para equilibrar as contas públicas e manter o funcionalismo satisfeito. Uma das primeiras polêmicas de sua gestão foi o não pagamento de parte dos acertos de 2024 a comissionados e temporários, a medida gerou ruído interno e levantou questionamentos sobre a prioridade do governo na gestão de recursos humanos.

Agora, a pressão se intensifica com a insatisfação crescente dos servidores efetivos, especialmente das áreas da Educação e da Saúde. Os trabalhadores cobram recomposição salarial, pagamento retroativo de direitos e, sobretudo, melhores condições de trabalho.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, detalha a realidade enfrentada pelos profissionais da educação. Segundo ela, a insatisfação decorre, principalmente, da sobrecarga de trabalho causada pela ampliação da rede municipal sem a devida reposição de pessoal.

“A principal queixa é a sobrecarga. Ampliaram vagas nos CMEIs e nas escolas, mas não houve contratação suficiente. Temos merendeiras cozinhando, lavando e fazendo tudo sozinhas para mais de 300 crianças. Isso gera exaustão e adoecimento. Quando alguém adoece, não há substituição. A equipe já reduzida tem que dar conta do trabalho de quem ficou doente, e a situação só piora”, denuncia.

Outro ponto levantado por Bia é a rigidez na concessão de licenças médicas, o que tem gerado tensão e constrangimento entre os servidores. “Há uma empresa contratada para avaliar os atestados médicos, mas temos recebido muitas denúncias de exigências indevidas. Pessoas em recuperação de cirurgias são pressionadas a apresentar justificativas absurdas, mesmo em período de convalescença. Isso dá a sensação de que a administração não se preocupa com a saúde do trabalhador. Não se trata de moralizar, mas de punir quem já está fragilizado”, afirma.

Apesar das críticas, a presidente reconhece que há, por parte da atual gestão, uma tentativa recente de estabelecer diálogo: “Estive com o prefeito Sandro Mabel duas vezes, e a equipe da Educação e da Fazenda tem se reunido com o sindicato. Pela primeira vez vimos o secretariado realmente sentado com os trabalhadores para ouvir e discutir. A negociação do piso e da data-base está em andamento, assim como o plano de carreira dos técnicos. Ainda há muito o que resolver, mas vejo disposição em dialogar”, conclui.

Crise na Saúde: servidores denunciam abandono e assédio moral

Entre os servidores da saúde, a insatisfação também é alta. Eles denunciam a ausência de respostas concretas da gestão, o não pagamento da data-base de 2025, o atraso no auxílio-alimentação dos plantonistas, a exclusão de agentes comunitários de saúde e de endemias do plano de carreira da Saúde (Lei 8.916/10) e a falta de convocação de aprovados em concurso. 

Há ainda queixas sobre o congelamento de gratificações, precarização das condições de trabalho, e deficiências no funcionamento do Imas  com dificuldades para agendamento de consultas, exames e outros procedimentos.

A categoria também relata denúncias graves de assédio moral nos locais de trabalho, que, segundo os servidores, não têm sido tratadas com a devida seriedade. A postura do prefeito diante da crise na saúde tem sido criticada por tentar transferir aos trabalhadores a responsabilidade pelos problemas do sistema, desqualificando os profissionais da linha de frente.

Outros entraves incluem o achatamento salarial, a estagnação na progressão de carreira, unidades de saúde com infraestrutura precária, sobrecarga de trabalho, ausência de segurança e um déficit crônico de pessoal. O Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde) cobra a instalação de uma Mesa Municipal de Negociação Permanente do Sistema Único de Saúde (SUS), mas afirma que falta diálogo efetivo com a atual gestão, o que tem ampliado a frustração da categoria.

A recomposição salarial, que deveria ter sido paga em maio, ainda não foi efetuada nem discutida com os sindicatos. A entidade reivindica reposição de 5,53%, com base no  Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O atraso, somado ao cenário de desgaste, tem afetado a motivação dos profissionais, que já lidam com jornadas exaustivas, riscos e perdas salariais, o que impacta diretamente a qualidade do serviço prestado à população.

Diante do impasse, o Sindsaúde mantém a mobilização, realiza reuniões com a base e aciona o Ministério Público e a Justiça sempre que necessário. No dia 27 de maio, uma audiência pública discutiu a situação dos servidores municipais. Segundo representantes da categoria, se não houver avanços nas negociações, paralisações e atos públicos não estão descartados.

Vereadora questiona critérios da Prefeitura na gestão da crise na saúde

A vereadora Aava Santiago (PSDB) também levantou questionamentos sobre os critérios adotados pela Prefeitura para lidar com a crise na saúde pública. Para ela, há uma evidente contradição entre o discurso de contenção de gastos e as recentes movimentações financeiras do Executivo.

“Recentemente a prefeitura fez um aporte de quase 10 milhões de reais para custear o cachê de shows na Pecuária. A prefeitura fez aditivos em contratos sem licitação. A prefeitura fez a contratação do Sesi, empresa que era presidida pelo próprio prefeito alguns meses atrás, para substituir a junta médica. Tudo isso enquanto há um decreto de calamidade na saúde vigente. Esse decreto é o que justifica esses cortes. E, na minha avaliação, não é justificável”, afirmou.

A parlamentar disse ainda que, justamente por considerar sua avaliação limitada do ponto de vista técnico, decidiu acionar o governo federal: “Foi por isso que eu recorri ao Denasus, para que a gente tenha uma avaliação imparcial, consistente e que, sobretudo, garanta que o serviço seja reestabelecido.”

Em entrevista ao O HOJE, a secretária de Governo da Prefeitura, Sabrina Garcez, informou que o órgão tem mantido diálogo com os servidores e que há compreensão mútua quanto às demandas.

 

Mabel inicia mandato sob crise e Rogério Cruz teve superávit

O primeiro quadrimestre da gestão de Sandro Mabel na Prefeitura tem sido marcado por instabilidade fiscal e tensões com o funcionalismo, contrastando com o início do mandato de Rogério Cruz em 2021, que, embora também tenha enfrentado críticas, apresentou indicadores mais positivos em relação à estabilidade financeira e à execução orçamentária. 

Cruz começou com superávit de R$ 280 milhões, investiu em saúde e educação, concedeu reajustes salariais e pagou datas-bases, mesmo em meio à pandemia. Já Mabel adotou medidas impopulares, como o não pagamento de acertos a servidores comissionados e temporários, além de atrasar benefícios como a data-base de 2025 e o auxílio-alimentação. 

Sua gestão também é alvo de denúncias de má administração no Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (IMAS) e assédio moral, sob o argumento de um decreto de calamidade na saúde. 

A comparação mostra que Cruz conseguiu gerar confiança inicial com ações concretas, enquanto Mabel enfrenta, desde o início, críticas intensas, instabilidade administrativa e questionamentos políticos, inclusive na Câmara Municipal. 

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