O consumo de ultraprocessados aumenta em 30% o risco de depressão
Os ultraprocessados afetam a microbiota intestinal e prejudicam neurotransmissores do humor
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), com base nos dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), revelou uma forte ligação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento do risco de depressão, além da persistência da doença ao longo dos anos. Publicada em maio no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, a pesquisa acompanhou mais de 14 mil pessoas em três períodos: 2008-2010, 2012-2014 e 2017-2019.
Os resultados indicaram que os indivíduos que consumiam maior quantidade desses produtos no início do estudo apresentaram 30% mais chances de desenvolver depressão. No entanto, o dado mais relevante para os pesquisadores foi a associação entre o consumo elevado de ultraprocessados e a depressão persistente, aqueles que ingeriam mais desses alimentos tinham 58% mais probabilidade de apresentar episódios recorrentes ao longo do tempo.
O estudo reforça que alimentos ultraprocessados, ricos em sódio, gorduras saturadas, açúcares e aditivos químicos, comprometem a microbiota intestinal, fundamental na produção de neurotransmissores como a serotonina, que regula o humor. A alteração dessa flora pode provocar neuroinflamação via eixo intestino-cérebro, ativando respostas inflamatórias e elevando os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, o que agrava os sintomas depressivos.
Essas descobertas evidenciam que uma dieta inadequada não só pode desencadear episódios depressivos, mas também dificultar sua remissão, mostrando a importância do estilo de vida na psiquiatria moderna. Segundo especialistas, mesmo com tratamentos farmacológicos, a falta de uma alimentação equilibrada e de exercícios físicos pode impedir a melhora clínica completa devido à persistência da inflamação sistêmica causada por maus hábitos alimentares.
Impacto da alimentação
Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) também investigou o efeito da substituição alimentar na prevenção da depressão. Por meio de simulações matemáticas, os pesquisadores apontaram que substituir 5% da ingestão calórica de ultraprocessados por alimentos minimamente processados poderia reduzir o risco da doença em 6%. Caso essa troca alcance 20%, a redução do risco estimada chega a 22%.
Alimentos minimamente processados são aqueles que passam por poucas modificações industriais, preservando sua estrutura original e a maior parte dos nutrientes. Entre eles estão arroz, café, feijão e leite, que podem ser submetidos a processos como secagem, fermentação, moagem ou ensacamento, sem o acréscimo de aditivos antes da comercialização.
A pesquisa também avaliou o impacto de variáveis sociodemográficas no desenvolvimento da depressão. Os dados indicam maior propensão à doença entre jovens, mulheres, pessoas negras ou pardas, fumantes, indivíduos com maior ingestão calórica e índice de massa corporal elevado (IMC). Por outro lado, pessoas com ensino superior, casadas e que praticam atividades físicas regularmente apresentaram menor risco.
Especialistas interpretam esses resultados como um reflexo da realidade observada em consultórios e estudos clínicos: grupos socialmente vulneráveis ou com hábitos de vida menos saudáveis tendem a apresentar maior incidência de transtornos mentais. A combinação de má alimentação, obesidade, sedentarismo e baixa qualidade de vida contribui para a cronicidade da depressão nesses indivíduos.