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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Condenação

O racismo recreativo consiste em disfarçar discursos de ódio como piadas

Manifestações artísticas que violam direitos devem ser responsabilizadas legalmente

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 5 de junho de 2025
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O racismo recreativo consiste em disfarçar discursos de ódio como piadas. | Foto: Reprodução/Istock

O humorista Léo Lins foi condenado a oito anos e três meses de prisão por ter feito piadas consideradas preconceituosas em um vídeo publicado em seu canal no YouTube. Além da pena em regime fechado, a Justiça determinou que ele pague uma multa no valor de R$ 1,4 milhão, além de uma indenização de R$ 303,6 mil, a título de reparação por danos morais coletivos.

O caso é apontado por especialistas como um exemplo clássico de racismo recreativo, expressão utilizada para descrever práticas que tentam minimizar ofensas racistas sob o pretexto de entretenimento. Embora o termo não tenha sido mencionado expressamente na sentença, a conduta do humorista, segundo estudiosos, ilustra perfeitamente esse conceito.

O racismo recreativo caracteriza-se por mascarar discursos de ódio, preconceito e discriminação, atribuindo o caráter de piadas ou manifestações artísticas. A ideia implícita é de que o contexto humorístico justificaria conteúdos ofensivos e violentos, sobretudo contra grupos socialmente vulneráveis.

Na decisão, a magistrada responsável pelo caso enfatizou que o humor não pode ser utilizado como salvo-conduto para disseminar discursos discriminatórios. Segundo ela, manifestações artísticas que violam direitos fundamentais devem ser responsabilizadas legalmente, independentemente de serem ou não travestidas de humor.

Esse tipo de prática ocorre, por exemplo, quando a imagem do homem negro é associada de forma estereotipada à figura do assaltante, ou quando a mulher negra é retratada de maneira hipersexualizada. Nessas circunstâncias, não é incomum que os autores das chamadas “piadas” tentem se isentar de responsabilidade, alegando não serem racistas e justificando suas falas como simples piadas inofensivas.

Entretanto, segundo o conceito de racismo recreativo, essas piadas não se limitam ao campo do riso: elas integram um projeto racial que reforça estigmas e diminui a humanidade de pessoas não brancas. A percepção acadêmica aponta que o racismo se manifesta de diferentes formas e o humor é uma delas.

Esse fenômeno ajuda a explicar por que muitos riem dessas piadas preconceituosas. Para uma parcela do público, não há ali qualquer manifestação de preconceito, mas apenas uma expressão de “liberdade”. Por outro lado, há quem utilize o humor como uma maneira socialmente aceita de exteriorizar preconceitos que, de outra forma, seriam mais facilmente condenados.

 

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