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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

‘Macunaíma’ escapa do vestibular e reaparece como crítica ao Brasil moderno

Luana Avelarpor Luana Avelar em 16 de junho de 2025
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Lançado em 1928, Macunaíma segue desafiando leitores quase cem anos depois. A obra-prima de Mário de Andrade, símbolo do modernismo brasileiro, é muito mais do que um item nos vestibulares: é uma crítica ao Brasil, feita por meio da figura de um anti-herói contraditório, preguiçoso e astuto. O livro, estruturado como uma rapsódia — forma narrativa que mistura contos e episódios sem linearidade rígida —, desmantela a ideia de um Brasil homogêneo e revela as múltiplas camadas que formam a identidade do país.

A história começa na floresta, com o nascimento de Macunaíma, um personagem que muda de cor, costumes e linguagem conforme avança pela narrativa. O enredo, que inclui viagens a São Paulo e ao Rio de Janeiro em busca de uma muiraquitã perdida, é apenas pano de fundo para o mergulho nas contradições sociais, étnicas e culturais brasileiras. O personagem, que ao mesmo tempo representa o povo e zomba dele, percorre espaços urbanos e selvagens em uma trajetória que mistura o trágico e o cômico.

Segundo análise do Guia do Estudante, a riqueza da obra está no uso inventivo da linguagem. Andrade emprega expressões populares, falares regionais e elementos do folclore brasileiro para compor um texto que foge às normas cultas, mas atinge profundidade estética e crítica. Macunaíma, enquanto símbolo, é a negação dos heróis europeus: não possui moral estável, nem projeto político definido — apenas o impulso do prazer imediato e da sobrevivência, o que o torna tão desconcertante quanto familiar.

A crítica ao colonialismo cultural também está presente. Ao compor um herói nacional com base em referências indígenas, africanas e populares, Mário de Andrade rompe com a tradição literária europeia e propõe uma arte autenticamente brasileira. Essa atitude marcou o movimento modernista e influenciou gerações de artistas, escritores e intelectuais que buscaram desvincular a produção nacional dos padrões importados.

Embora o livro tenha sido escrito em apenas seis dias, sua elaboração levou anos de pesquisa e reflexão. A obra continua a ser revisitada por críticos, educadores e leitores justamente por sua complexidade e sua capacidade de provocar. Ao unir erudição e oralidade, humor e denúncia, Macunaíma permanece uma chave de leitura para compreender o Brasil — e talvez por isso nunca tenha deixado de ser atual.

O autor 

Mário Raul de Morais Andrade foi um poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Um dos fundadores do modernismo no país, ele praticamente criou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua Pauliceia Desvairada em 1922.

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