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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Símbolo das festas juninas

Origem da canjica ainda divide estudiosos

Símbolo das festas juninas, prato à base de milho doce tem receita conhecida e etimologia incerta entre indígenas, africanos e asiáticos

Luana Avelarpor Luana Avelar em 16 de junho de 2025
14 MATERIA CREDITOS Coisas da Leia

Ela aparece todos os anos entre bandeirolas, fogueiras e sanfonas. Servida quente ou gelada, simples ou incrementada com coco e leite condensado, a canjica doce é um dos pratos mais populares do ciclo junino brasileiro. Sua presença é tão garantida quanto o milho no campo, mas a origem da receita e até mesmo da palavra ainda é alvo de controvérsias entre estudiosos.

Para o sociólogo Gilberto Freyre, a canjica é herança direta dos povos indígenas brasileiros, especialmente os Tupinambá. Em obras como Casa-Grande & Senzala, ele afirma que os nativos já preparavam pastas e mingaus de milho muito antes da chegada dos colonizadores. O termo canjica, segundo essa linha, viria do tupi acanjic. A hipótese, no entanto, carece de fontes primárias que a comprovem.

Pesquisadores da língua portuguesa defendem outra origem. Para Nei Lopes, autor do Novo Dicionário Banto do Brasil, o nome do prato tem raízes africanas e deriva do quicongo kanzika, usado em Angola e no Congo para designar uma papa grossa de milho. A teoria também é defendida por Mário Eduardo Viaro, professor da USP, que associa o vocábulo às línguas bantas quimbundo e umbundo, predominantes entre os povos trazidos como escravizados ao Brasil.

Há ainda uma terceira vertente. O filólogo Antonio Geraldo da Cunha propõe que a canjica tem origem asiática. O termo viria de kanji, do malaiala, idioma falado na costa sudoeste da Índia. A teoria se apoia nas rotas comerciais mantidas por Portugal com Goa a partir do século 16. O prato original, à base de arroz com água, teria sido adaptado no Brasil com milho e leite de coco. Os condimentos que completam a receita, como cravo e canela, também vieram do Oriente.

Apesar das disputas etimológicas, há um consenso sobre a razão de a canjica ter se tornado prato típico de junho. Junho marca a primeira colheita do milho em diversas regiões do Brasil, o que o torna abundante nas roças e presente nas festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Preparado em grandes panelas e servido em porções generosas, o prato também reforça o caráter comunitário das celebrações.

Hoje, a canjica é preparada em escolas, feiras e festas populares, com pequenas variações nos ingredientes, mas sem alterar sua essência. A chef Lidiane Leite, que ensina o preparo do prato em oficinas de culinária, destaca sua popularidade. Quando se fala em festa junina, a canjica vem logo à cabeça. A canjica doce, servida gelada, é um concorrente forte demais entre todas as delícias da festa junina. Muitos gostam, mas pouco sabem fazer, então preparei um passo a passo.

A receita começa com milho branco demolhado por 24 horas, seguido de cozimento com cravo e canela. Depois, junta-se leite, açúcar, coco e leite condensado. Por fim, o creme de leite entra para dar cremosidade. O resultado é um prato simples, mas carregado de camadas culturais.

Mais do que um alimento sazonal, a canjica é síntese da história alimentar brasileira. Híbrida, adaptada e resistente. Sua origem pode ser incerta, mas seu lugar na memória coletiva está garantido.

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