A palavra “Tekoá”, de origem guarani, pode significar aldeia, modo de ser, território sagrado. No livro homônimo lançado por Kaká Werá, escritor e ativista indígena, o termo ganha novas camadas: torna-se filosofia, poesia e convite à introspecção. Mais do que um conjunto de narrativas pessoais, Tekoá se estrutura como um guia para quem deseja repensar sua forma de estar no mundo.

Kaká compartilha suas primeiras experiências de convivência com os Guarani, mostrando como o contato com essa cosmovisão transformou sua maneira de perceber o tempo, o corpo e a relação com o ambiente. O livro articula memórias, reflexões espirituais e observações sobre a vida em comunidade, sempre sob o prisma da busca por harmonia. A ideia central do “tekoá porã”, viver bem, surge como um contraponto ao individualismo e à lógica de dominação da natureza que moldam a sociedade contemporânea.

Escrito em tom lírico e acessível, o livro traduz conceitos complexos de forma sensível. Não se trata de uma tentativa de romantizar a cultura indígena, mas de reconhecer nela uma sabedoria ainda viva, potente e essencial. “Fazemos parte de um grande círculo”, escreve Kaká, em um dos trechos mais impactantes. “A respiração que nos dá vida é a mesma que agita as folhas das árvores e causa a dança das ondas do mar”.

Tekoá desafia o leitor a abandonar a visão antropocêntrica e a reconectar-se com a ancestralidade. Mais do que um exercício intelectual, a proposta de Kaká é um gesto de cura: integrar as partes fragmentadas do ser, corpo, mente e coração, em diálogo constante com a natureza e com o coletivo.

Em tempos marcados por crises ambientais, isolamento urbano e desinformação sobre os povos originários, a leitura de Tekoá se torna um gesto de resistência e escuta. Não há soluções prontas em suas páginas, mas há perguntas urgentes e caminhos possíveis. É, como o próprio autor define, um guia para a vida.

O autor

Kaká Werá Jecupé, é uma figura multifacetada: escritor, ambientalista, educador, conferencista, empreendedor social e líder indígena brasileiro. Sua trajetória é marcada por uma profunda conexão com a espiritualidade, a natureza e a ancestralidade. Nascido em São Paulo em 1º de fevereiro de 1964, Kaká Werá pertence ao povo tapuia. Fundou o Instituto Arapoty, uma organização dedicada à promoção da cultura indígena e ações voltadas para a sustentabilidade. Em 2003 foi premiado como empreendedor social da rede Ashoka, pela implementação de soluções inovadoras para questões socioambientais.