Livros ganham lugar entre grades como ferramenta de ressocialização
Com doação de 1,5 mil obras, iniciativa da Secretaria de Cultura de Goiás leva literatura e educação ao sistema prisional, apostando na leitura como ponte para a reintegração social
A partir desta semana, o sistema prisional de Goiás passa a contar com um novo reforço em sua política de ressocialização: a leitura. A Secretaria de Estado da Cultura (Secult) doou 1,5 mil livros à Polícia Penal, com obras que vão desde romances e contos a textos religiosos e de autoajuda. A entrega foi marcada para a manhã de quarta-feira (25), no Patronato Metropolitano, no Setor Sul de Goiânia.
Os livros foram disponibilizados por meio de uma parceria entre o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas, o Centro Universitário de Goiás (UNIGoiás) e o Instituto Federal Goiano (IF Goiano). A escolha dos títulos seguiu critérios pedagógicos e humanitários, com o objetivo de garantir conteúdos acessíveis e positivos, evitando abordagens violentas ou traumáticas. Entre os gêneros selecionados estão literatura brasileira, poesia, literatura infantil, histórias em quadrinhos e obras religiosas de diferentes vertentes, como catolicismo, espiritismo e cristianismo evangélico. Títulos de psicologia e autoajuda também integram o acervo.
A ação se insere em um contexto nacional em que o acesso à leitura nos presídios tem se mostrado um instrumento importante de reintegração social. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), mais de 40 mil presos no Brasil participaram de programas de remição de pena por meio da leitura em 2023. A cada livro lido e resenhado, os detentos têm direito a uma redução de quatro dias na pena, com limite de 48 dias por ano.
Em Goiás, a iniciativa busca ampliar o alcance das atividades educativas nos presídios. Ainda neste ano, cerca de 700 livros oriundos do Hospital Alberto Rassi (HGG) devem se somar à remessa inicial. A previsão é que o material seja distribuído entre as unidades prisionais do estado, fomentando a criação e o fortalecimento de bibliotecas internas.
Para além do benefício penal, especialistas em educação prisional apontam que a leitura regular pode contribuir significativamente para a saúde mental dos apenados, fortalecendo o senso crítico, promovendo autoestima e criando possibilidades reais de reinserção após o cumprimento da pena.
O Brasil conta atualmente com mais de 800 mil pessoas privadas de liberdade, de acordo com o último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Boa parte desse contingente tem escolaridade básica incompleta e acesso limitado a atividades culturais. Por isso, ações como a da Secult ganham relevância por seu impacto simbólico e prático: levar livros para dentro das celas é também uma forma de afirmar que a educação deve atravessar muros.