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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
combate

Goiânia e Aparecida intensificam combate ao cerol com apreensões e prisões

Mais de 600 carretéis com linha cortante foram apreendidos

Micael Silvapor Micael Silva em 25 de junho de 2025
As ações, que seguem até o fim de agosto, têm como foco não apenas a repressão, mas também a conscientização sobre os riscos à vida causados pelo uso de cerol Foto: Divulgação/GCM
As ações, que seguem até o fim de agosto, têm como foco não apenas a repressão, mas também a conscientização sobre os riscos à vida causados pelo uso de cerol Foto: Divulgação/GCM

Com a aproximação das férias escolares, pipas voltam a colorir o céu de Goiás. No entanto, por trás da prática tradicional, uma ameaça recorrente exige a atenção das autoridades: o uso de linhas cortantes como cerol ou linha chilena. Em apenas 10 dias, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Goiânia apreendeu 310 carretéis com esse tipo de material perigoso durante a 17ª edição da Campanha Pipa Sem Cerol. Em Aparecida, a Guarda Municipal prendeu um homem suspeito de fabricar e vender as linhas, e também deu início à 14ª operação “A Vida por um Fio”.

As ações, que seguem até o fim de agosto, têm como foco não apenas a repressão, mas também a conscientização de crianças, adolescentes e adultos sobre os riscos à vida causados pelo uso de cerol. Na capital, as regiões Oeste e Noroeste lideram as apreensões, com 120 e 100 carretéis recolhidos, respectivamente. As demais regiões de Goiânia somaram outros 90, totalizando o equivalente a 155 km de linha cortante.

“O empinar de pipas é uma brincadeira comum, mas o uso de cerol transforma isso em uma prática criminosa. Motociclistas, ciclistas, pedestres e até animais são vítimas recorrentes”, afirma o comandante da GCM, Gustavo Toledo. A campanha conta com apoio de instituições como Detran-GO, Equatorial Energia, Corpo de Bombeiros e ONG Guardiões do Verde, entre outras.

Em Aparecida, a Guarda Civil Municipal fiscalizou 120 pontos mapeados e, neste mês, prendeu um homem no setor Jardim Olímpico por fabricar e vender linhas cortantes ilegalmente. Os agentes apreenderam mais de 300 carretéis e notificaram o estabelecimento por funcionar sem licença ambiental.

A prática, além de perigosa, é ilegal. No Estado, diversas cidades têm legislações específicas que proíbem a venda e o uso de cerol. Em Aparecida, a Lei Municipal nº 3.393/2017 estabelece multas para quem descumprir as normas. No âmbito penal, o Código Penal brasileiro prevê punições como detenção de 3 meses a 1 ano para quem provocar lesão corporal com uso de linha cortante. Se houver morte, o responsável pode responder por homicídio culposo.

Dados históricos da GCM de Goiânia mostram que a campanha tem surtido efeito. Desde sua criação, houve anos sem nenhuma vítima fatal, como 2009, 2012 e 2014. Em 2021, foi registrada a última morte, e de 2022 até o momento em 2025, não houve novos óbitos na capital.

“A ausência de mortes não significa que o perigo desapareceu. A linha pode matar em segundos, por isso o trabalho educativo é essencial”, lembra o inspetor Sobral, da GCM de Aparecida. A corporação mobiliza cerca de 25 viaturas por dia durante o período da operação.

A população pode colaborar denunciando o uso de cerol pelo telefone 153, canal emergencial da Guarda Civil. Em ambos os municípios, o recado é claro: empinar pipa é permitido, desde que seja feito com responsabilidade — e sem colocar vidas em risco.

Um menino de 7 anos ficou gravemente ferido após ser atingido por uma linha de pipa com cerol, em 7 de julho de 2024, em Anápolis, a cerca de 55 quilômetros de Goiânia. A criança, identificada pelas iniciais M.V.S., brincava com os irmãos em um campo de futebol quando passou por baixo da linha cortante e sofreu um corte profundo no pescoço.

Segundo familiares, o irmão mais velho usou a própria camisa para estancar o sangramento até a chegada do socorro. O menino foi levado inicialmente ao Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Heana) e, em seguida, transferido para o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia.

De acordo com boletim médico, o garoto passou por cirurgia, recebeu pontos na região do corte e ficou internado em Estado regular, consciente e respirando espontaneamente. 

O cerol é uma mistura de cola com pó de vidro moído, aplicada à linha da pipa para cortar as linhas de adversários. No entanto, esse material também corta o que encontra pela frente: pescoços de motociclistas, mãos de crianças e até coleiras de animais. Em casos recentes, crianças e adultos foram gravemente feridos, e tragédias com mortes voltaram a chocar o Estado.

 

Uso de cerol pode render multa de até R$ 5 mil e prisão

Brincar de empinar pipa pode parecer inofensivo, mas o uso de cerol transforma essa prática em um risco real à vida. Em Goiás, leis estaduais e municipais endureceram a fiscalização e impuseram penalidades severas para quem fabrica, vende ou utiliza cerol, linha chilena ou linha indonésia — todas cortantes e altamente perigosas.

No Estado, a Lei Estadual nº 17.700/2012 proíbe expressamente o uso de cerol. O decreto estadual nº 9.316/2018 regulamenta a aplicação de multas que variam entre R$ 100 e R$ 2 mil, podendo dobrar em áreas de maior risco, como próximas a hospitais, escolas e avenidas movimentadas. A penalização pode atingir também os responsáveis por crianças e adolescentes flagrados com o material.

Além disso, uma nova lei estadual sancionada em 2021 ampliou a punição, prevendo multas de até R$ 4 mil para quem fabricar, vender ou utilizar qualquer tipo de linha cortante.

No interior, algumas cidades reforçaram ainda mais as regras. Em Aparecida, por exemplo, a Lei Municipal nº 3.393/2017 estipula multa de R$ 3 mil para quem usar ou comercializar cerol. O infrator também pode ter o material apreendido e ser detido pela Guarda Civil Municipal.

Em fiscalizações recentes, a prefeitura de Aparecida iniciou uma campanha chamada “A Vida Por Um Fio”, com blitzes educativas e repressivas em regiões com alto índice de uso. Somente em uma semana, dezenas de pipas e carretéis com linha cortante foram apreendidos.

Projeto federal propõe prisão

Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei 339/2024, que visa tornar crime o uso e a comercialização de cerol e linhas cortantes em todo o País. O texto prevê pena de detenção de 1 a 3 anos, além de multa que pode chegar a R$ 30 mil, especialmente para empresas ou pessoas jurídicas envolvidas com a fabricação ou venda do produto.

Segundo a proposta, a punição se estende a quem portar o material fora de áreas apropriadas, como locais de competição supervisionada, o que praticamente proibiria o uso em espaços públicos.

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