Goiânia sedia encontro que marca a consolidação dos Agentes Territoriais de Cultura no Centro-Oeste
Evento reúne bolsistas e gestores públicos para discutir descentralização da cultura e fortalecimento das redes comunitárias
Até sexta-feira (27), Goiânia recebe das principais ações de articulação cultural da região Centro-Oeste. Trata-se do I Encontro Regional de Agentes Territoriais de Cultura, organizado pelo Instituto Federal de Goiás (IFG) em parceria com o Ministério da Cultura (MinC), que reúne cerca de 120 participantes, entre eles os 56 bolsistas do projeto federal que atuam como representantes da cultura em diferentes territórios da região. Em Goiás, 22 agentes estão distribuídos em 17 localidades, promovendo ações de mobilização cultural em municípios onde historicamente a presença do Estado na área da cultura é mínima.
O projeto integra o Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), lançado oficialmente em 2024 pelo MinC. A proposta é ambiciosa: territorializar a política cultural brasileira por meio de uma rede de agentes locais, selecionados via editais públicos e remunerados com bolsas mensais. Cada agente representa uma realidade específica, com recorte étnico-racial, social, de gênero e cultural que reflita a diversidade do território em que atua. A seleção, organizada pelo IFG, priorizou pessoas com trajetória de atuação cultural e compromisso com as comunidades onde vivem.
Durante o evento em Goiânia, os agentes participam de oficinas, rodas de conversa, apresentações culturais e atividades de formação. O foco está na qualificação das práticas desenvolvidas nos territórios, na troca de experiências e no fortalecimento das redes de colaboração entre agentes, tutores e instituições públicas.
A iniciativa surge como resposta à desigualdade estrutural na distribuição de recursos e equipamentos culturais no Brasil. Segundo o MinC, dos 5.570 municípios brasileiros, a maioria não possui sequer um teatro, cinema ou centro cultural. Quando muito, contam com uma biblioteca pública. É nesse vácuo institucional que os agentes territoriais se inserem, funcionando como pontes entre o poder público e as comunidades locais.
A experiência de agentes como Kaemy, rapper de Uruaçu (GO), exemplifica o impacto da política. Com 14 anos de trajetória no hip-hop e envolvida desde 2023 no projeto, ela passou a desenvolver ações voltadas à juventude periférica de sua cidade. Para ela, o encontro em Goiânia tem ampliado seu repertório e fortalecido seu papel como produtora cultural. Casos como o dela evidenciam o potencial do programa de impulsionar talentos locais e construir processos educativos a partir da realidade vivida nos territórios.
O PNCC estrutura-se a partir das Regiões Imediatas Prioritárias, uma categorização definida pelo IBGE, que visa orientar a atuação dos agentes com base em critérios territoriais. Os bolsistas atuam em jornadas semanais de 20 horas, que incluem formações continuadas, planejamento, execução de ações comunitárias e sistematização de atividades. Os contratos têm duração de até dois anos, com bolsas mensais de R$ 1.200, além de auxílio digital.
Em meio a um cenário nacional ainda marcado por assimetrias no acesso à cultura, o encontro em Goiânia sinaliza um esforço concreto de descentralização. Mais do que um evento formativo, trata-se de um marco político: a consolidação de uma política pública que reconhece a diversidade cultural como eixo estruturante do desenvolvimento regional. O fortalecimento dessa rede no Centro-Oeste poderá servir de modelo para outras regiões, especialmente aquelas com menor inserção nos circuitos tradicionais de fomento cultural.