Como um estúdio caseiro em Uberlândia formou um dos produtores mais influentes do sertanejo
Em entrevista ao podcast MandaVê, Newton Fonseca relembra a infância entre gravações e ônibus de turnê, a trajetória ao lado de Gusttavo Lima e a consolidação como produtor de hits em um mercado competitivo
A história de Newton Fonseca, contada na última quarta-feira (25) durante o episódio do podcast MandaVê, apresentado por Juan Allaesse, começa com a porta de casa sendo aberta para ônibus de turnê. Ainda menino, Newton observava os veículos estacionando para buscar seu pai, guitarrista e produtor musical que já havia trabalhado com Zezé Di Camargo. Os ônibus, para ele e os irmãos, eram festas ambulantes e portais para um mundo fascinante que, com o tempo, se tornaria seu ofício.
Natural de Uberlândia, Newton viveu entre idas e vindas até se estabelecer de vez em Goiânia em 2024. Sua imersão na música foi cedo. Quando não havia com quem deixá-lo, o pai o levava para o estúdio. À época, as sessões longas o entediavam. Hoje, ele reconhece que aquele ambiente técnico e metódico foi sua primeira escola. Mesmo sem o glamour dos palcos, o estúdio foi onde Newton aprendeu a escutar.
A convivência com o pai não se restringiu à observação passiva. Aos poucos, ganhou acesso ao home studio que ele havia montado, e com isso vieram os primeiros exercícios práticos. Tentou aprender guitarra, quase desistiu, mas persistiu com a ajuda indireta do pai, que só intervinha quando percebia que o filho estava mesmo tentando. Com revistas de cifras nas mãos e autodidatismo como guia, construiu uma base sólida de conhecimento musical.
A entrada em uma banda aos 17 anos, por sugestão do próprio pai, foi um marco: ali desenvolveu a percepção sonora e começou a atuar com artistas ainda em formação. Era a chance de colocar em prática o que havia aprendido. Ganhou experiência de palco, aprimorou a percepção sonora e começou a se envolver mais diretamente com os bastidores. Na mesma época, passou a acompanhar o pai em projetos com artistas regionais e logo assumiu a direção musical de uma dupla sertaneja. A função exigia planejamento de shows, coordenação de ensaios e pagamento de músicos. A sede de trabalho o levou a organizar reuniões na sala da avó. Tudo ainda era feito de forma caseira, mas com profissionalismo crescente. Em pouco tempo, Newton mergulhou no papel. Com as responsabilidades vieram as oportunidades.
Entre 2012 e 2013, já comandava seu próprio estúdio. Teve vários, sempre buscando expandir a estrutura e melhorar a qualidade do que produzia. A virada decisiva veio em 2015, quando um amigo percussionista o apresentou a Gusttavo Lima, que deixava a Audiomix e buscava novos caminhos. O encontro resultou na produção do DVD “Buteco 2”, com a faixa “Apelido Perigoso”, e depois em parcerias duradouras. Newton ajudou a estruturar o novo estúdio do cantor e, com isso, ganhou espaço como produtor de faixas que rapidamente estouraram no mercado.
Entre os sucessos produzidos por ele para Gusttavo Lima estão músicas como “Apelido Carinhoso”, “A Gente Fez Amor”, “Respeita o Nosso Fim” e “Termina Comigo Antes”. A relação entre os dois foi marcada por confiança mútua. Ao ver o primeiro DVD finalizado, Newton se recorda da satisfação de ter contribuído com um projeto que impulsionaria ainda mais a carreira do cantor. O momento também selou sua decisão de abandonar definitivamente as turnês e se dedicar exclusivamente ao trabalho em estúdio.
A busca por estabilidade na criação sonora o levou ao encontro com Zé Felipe, após ser indicado por um amigo. Na Talismã, escritório que gerencia a carreira do cantor, firmou uma nova fase da sua trajetória, produzindo sucessos com o aval de Poliana Rocha, empresária e esposa de Leonardo. O caminho se abriu também para colaborações com artistas como Humberto & Ronaldo, Léo Santana e Michel Teló — sendo este último responsável por uma faixa que chegou à abertura da novela Fuzuê, exibida pela TV Globo.
Hoje, Newton carrega no currículo mais de uma década de estrada e bastidores, transitando com fluidez entre o comercial e o criativo. Ainda que os desafios do mercado não tenham cessado, ele reconhece que o segredo está na constância: manter-se em movimento, mas sem a ilusão de que os altos e baixos da carreira podem ser totalmente controlados. O importante, segundo ele, é continuar produzindo — de forma técnica, cuidadosa e apaixonada.