Massoterapia com cannabis vira alternativa para tratar autismo e câncer no Brasil
Tratamento tópico com extrato da planta é utilizado por associações para amenizar sintomas em pacientes que não respondem bem ao óleo por via oral
A massoterapia com extrato de cannabis tem ganhado espaço como alternativa complementar no tratamento de pacientes com autismo, câncer e doenças neurodegenerativas no Brasil. O uso tópico da planta, em cremes aplicados durante sessões de massagem, tem sido adotado por associações terapêuticas como uma estratégia para contornar as limitações da administração oral, especialmente em pessoas com dificuldades gastrointestinais ou sensoriais.
A técnica consiste na aplicação do extrato em pontos específicos do corpo, aproveitando a presença de receptores endocanabinoides espalhados pela pele. A absorção ocorre sem a necessidade de passar pelo sistema digestivo, o que evita perdas de eficácia em pacientes com vômitos recorrentes, inflamações intestinais ou dificuldade de deglutição — condições comuns em tratamentos de quimioterapia ou em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O método tem sido particularmente promissor em crianças não verbais ou com resistência à ingestão oral de óleo de cannabis. Nessas situações, a massagem tópica contribui para a regulação sensorial, diminuição da ansiedade, melhora do sono, redução de dores físicas e aumento do bem-estar geral. A resposta corporal ao toque também pode sinalizar desconfortos que essas crianças não conseguem expressar verbalmente, ampliando o entendimento clínico por parte da equipe de saúde.
Em pacientes oncológicos, a técnica ajuda a reduzir náuseas, estimular o apetite e controlar sintomas de ansiedade, sobretudo quando a imunidade baixa inviabiliza a continuidade do tratamento oral. O toque terapêutico com cannabis tem sido aplicado em paralelo a outras terapias integrativas, como auriculoterapia, fisioterapia e fonoaudiologia.
A atuação das associações é hoje uma das principais vias de acesso ao tratamento com cannabis no país. Ao contrário da importação ou da compra em farmácias, que envolvem altos custos e pouca personalização, essas instituições promovem atendimento humanizado com equipes interdisciplinares. A troca de informações entre médicos, terapeutas e cuidadores permite estratégias mais eficazes e individualizadas.
A ausência de políticas públicas amplas ainda limita o alcance desse tipo de abordagem. O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre apenas alguns casos específicos, e o estigma em torno da planta dificulta sua adoção em larga escala. Ainda assim, a prática vem sendo documentada em pesquisas observacionais e se consolida como ferramenta promissora no cuidado a pessoas neurodivergentes e com doenças crônicas.
Mais do que alívio dos sintomas, a massagem com cannabis tem oferecido um espaço de acolhimento, escuta corporal e vínculo terapêutico. Uma prática que, aos poucos, transforma não só o tratamento, mas também a forma de se relacionar com o cuidado.