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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Alimentação

Entre benefícios e riscos: o que está por trás do avanço do veganismo

7 milhões de brasileiros seguem o veganismo

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 5 de julho de 2025
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Entre benefícios e riscos: o que está por trás do avanço do veganismo. | Foto: REprodução/Istock

Embora os dados globais ainda sejam limitados, estima-se que, em 2018, os veganos representassem cerca de 3% da população mundial. No Brasil, segundo levantamento do IBOPE, aproximadamente 14% da população se declara vegetariana, um aumento de 75% em relação a 2012. Embora o número de veganos seja menor, o crescimento também é significativo. Uma estimativa da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) indica que cerca de 7 milhões de brasileiros seguem esse estilo de vida, colocando o país na liderança do veganismo na América Latina.

Nos Estados Unidos, uma pesquisa do instituto Gallup revelou que 1% da população adotava uma dieta vegana em 2023. No Reino Unido, dados da Sociedade Vegana apontam que aproximadamente 3% da população, cerca de 2 milhões de pessoas, aderiu a esse padrão alimentar.

O avanço do veganismo ultrapassa os hábitos individuais e se reflete no setor empresarial. De acordo com o Ministério da Fazenda, o número de empresas com o termo “vegano” no nome cresceu mais de 500% nos últimos dez anos. Atualmente, o Brasil lidera em oferta de opções veganas na América Latina, com mais de 2.900 restaurantes e estabelecimentos voltados para esse público. São Paulo e Rio de Janeiro se destacam como as cidades mais acolhedoras para veganos.

Entre os fatores que impulsionam a adesão à alimentação vegana estão as preocupações ambientais, éticas e de saúde. A produção de carne e laticínios é considerada altamente prejudicial ao meio ambiente, enquanto dietas baseadas em vegetais oferecem uma alternativa mais sustentável. Também pesam nessa escolha as questões ligadas ao bem-estar animal e os potenciais benefícios à saúde. Quando bem planejadas, dietas veganas podem ser nutricionalmente adequadas e vantajosas, segundo estudos científicos.

Apesar disso, o tema ainda gera controvérsias, especialmente em relação à alimentação infantil. Casos isolados de desnutrição grave em bebês alimentados com dietas veganas reacenderam o debate sobre sua segurança. As recomendações variam conforme o país: enquanto organizações de saúde nos Estados Unidos e Reino Unido consideram a dieta segura para crianças, desde que adequadamente planejada, autoridades sanitárias de países como Alemanha, França, Bélgica e Polônia adotam uma postura mais cautelosa.

A dieta vegana é definida pela exclusão total de produtos de origem animal, como carnes, peixes, ovos e laticínios, e pelo consumo de vegetais, grãos, legumes, sementes, nozes, fungos, algas e até bactérias. Alimentos como pães, massas e homus, por não conterem ingredientes animais, são frequentemente classificados como “acidentalmente veganos” e fazem parte do cardápio.

Os benefícios mais evidentes da dieta estão relacionados à saúde cardiovascular. Pesquisas mostram que veganos apresentam níveis mais baixos de colesterol LDL (“ruim”), menor risco de obstruções arteriais, infartos e AVCs. Também tendem a manter um peso corporal mais saudável e têm menor propensão à obesidade.

As dietas vegetais ainda estão associadas à redução do risco de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2, e certos tipos de câncer, como o colorretal. Esses efeitos positivos são atribuídos, em parte, ao alto consumo de fibras, nutriente que falta na alimentação da maioria das pessoas, e à presença de polifenóis, compostos antioxidantes que ajudam a combater inflamações e doenças crônicas.

Outro aspecto relevante é o menor consumo de gorduras saturadas, mais presentes em produtos de origem animal. Quando ingeridas em excesso, essas gorduras elevam o colesterol LDL e aumentam o risco de doenças cardíacas.

Especialistas ressaltam que, ao avaliar um alimento, é importante considerar o conjunto de nutrientes e compostos que ele oferece. Um bife, por exemplo, fornece proteínas, ferro e zinco, mas também traz gorduras saturadas e substâncias como a carnitina, envolvida na produção de energia, mas associada a processos inflamatórios intestinais. Por outro lado, alimentos como o edamame, um tipo de soja verde, oferecem uma combinação vantajosa de proteínas vegetais, fibras e compostos bioativos benéficos, como vitaminas, minerais e polifenóis.

Vitamina B12

Apesar dos benefícios, nutricionistas alertam para as limitações nutricionais de uma dieta exclusivamente vegetal. Alguns nutrientes essenciais, como vitamina B12, ferro heme, ômega-3 de cadeia longa, estão presentes apenas, ou de forma mais biodisponível, em alimentos de origem animal. Isso significa que o veganismo, embora saudável, exige planejamento rigoroso e, frequentemente, suplementação.

A vitamina B12 é um dos pontos críticos. Produzida por bactérias presentes no organismo dos animais, ela é encontrada naturalmente apenas em alimentos de origem animal. Embora existam alternativas no universo vegano, como levedura nutricional, alga nori e alimentos fortificados, a ingestão costuma ser insuficiente sem suplementação.

A carência de B12, muitas vezes silenciosa em adultos, pode levar anos para se manifestar, mas em crianças, especialmente em bebês amamentados por mães veganas não suplementadas, os sintomas podem surgir precocemente. Há relatos clínicos de casos em que a deficiência resultou em comprometimentos neurológicos graves. 

Ômega-3

A falta de acidos graxos ômega-3 também é preocupante. Essas gorduras poli-insaturadas integram a membrana lipídica que envolve as células do corpo e são consideradas essenciais para o funcionamento do cérebro, entre outras funções vitais.

Os tipos de ômega-3 mais associados a benefícios à saúde, EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosa-hexaenoico), são encontrados principalmente em peixes e algas. Já o ALA (ácido alfa-linolênico), uma versão vegetal do ômega-3 presente em sementes como chia e linhaça, além de folhas verdes, não oferece os mesmos efeitos protetores à saúde que o EPA e o DHA.

Além dos ácidos graxos, outros nutrientes como cálcio, vitamina D e iodo, embora estejam presentes em alguns alimentos vegetais, costumam aparecer em concentrações reduzidas.  Por isso, especialistas reforçam a importância da orientação profissional e do uso adequado de suplementos em dietas veganas, sobretudo durante a gestação, lactação e infância.

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