Estudo detecta partículas químicas no corpo humano
Entre os produtos que mais preocupam estão os PFAS, conhecidos como “químicos eternos” por não se degradarem naturalmente
Uma pesquisa internacional, publicada na revista Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology, reforça os alertas sobre a exposição humana a compostos químicos sintéticos presentes nos alimentos. De acordo com os cientistas envolvidos no estudo, alimentos processados, armazenados ou embalados em contato com certos materiais podem ser uma das principais vias de entrada de substâncias nocivas no organismo.
A análise detectou a presença de aproximadamente 3.600 produtos químicos diferentes em amostras humanas. Desses, cerca de 100 foram classificados como de “alta preocupação” devido ao seu potencial de provocar efeitos adversos à saúde, como câncer, distúrbios endócrinos, problemas reprodutivos e mutações genéticas.
Os compostos analisados pertencem à categoria conhecida como food contact chemicals (FCCs), ou “químicos em contato com alimentos”, na tradução para o português. Esses produtos estão presentes em embalagens de plástico, papel, vidro, metal e até tintas de impressão utilizadas na rotulagem. De difícil degradação, muitos desses elementos podem se acumular no corpo humano com o tempo.
O levantamento contou com pesquisadores da Suíça, Reino Unido e Estados Unidos, ligados à organização Food Packaging Forum (FPF). A equipe cruzou dados de 14 mil compostos químicos catalogados com bancos de dados que monitoram a presença dessas substâncias em organismos humanos. O resultado revelou que cerca de um quarto dos compostos listados já foram detectados no corpo das pessoas.
Entre os produtos que mais preocupam estão os PFAS, conhecidos como “químicos eternos” por não se degradarem naturalmente, e o bisfenol A (BPA), substância reconhecida por causar desregulação hormonal e que já foi banida pela Anvisa em mamadeiras fabricadas no Brasil. Ambos estão em processo de restrição na União Europeia.
Outros compostos, como os oligômeros, ainda carecem de estudos mais aprofundados. Não há quase nenhuma evidência sobre os efeitos desses produtos químicos na saúde.
Além dos compostos intencionais, a pesquisa também mapeou subprodutos e impurezas, substâncias adicionadas de forma não intencional durante o processo de fabricação, mas que ainda assim entram em contato com os alimentos. Essas substâncias estão sempre presentes em plásticos, revestimentos de latas, embalagens e tintas. Elas acabam migrando para os alimentos e, consequentemente, para os seres humanos. E nós conseguimos medi-las.
Apesar dos resultados, os especialistas reforçam que não é necessário eliminar por completo os alimentos processados. O foco, segundo eles, deve estar na redução da exposição a substâncias químicas de alto risco e na exigência por maior transparência na cadeia de produção de alimentos, com dados mais confiáveis sobre os materiais utilizados em embalagens e utensílios.