Mesmo campeão, Weslley Dantas segue fora do radar das marcas de surfe
Com trajetória vitoriosa no Brasil e no exterior, atleta denuncia racismo estrutural no esporte e agradece apoio do rapper L7NNON, único a patrocinar sua carreira
Weslley Dantas tem no currículo títulos que muitos surfistas passam a vida tentando conquistar. Campeão brasileiro em 2023, bicampeão da Taça Brasil em 2024 e vencedor do ISA World Surfing Games Júnior em 2016, o atleta de Ubatuba (SP) voltou a vencer na última quinta-feira (10), ao superar sua bateria na fase com 32 atletas do Layback Pro Prainha 2025, torneio disputado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ainda assim, segue sem apoio das grandes marcas do segmento.
Em entrevista ao Portal Terra, Weslley foi direto: “Nenhuma marca de surf nunca me deu apoio por causa da minha cor”. A afirmação, tão grave quanto verdadeira, aponta para um problema antigo, mas raramente tratado com a seriedade que exige. O racismo estrutural dentro do surfe profissional permanece, mesmo em um esporte que consagra ídolos pelas manobras nas ondas. A cor da pele continua sendo um filtro que define quem recebe apoio e quem precisa contar com a sorte ou com amigos.
Foi o que aconteceu com ele. Weslley fez questão de agradecer publicamente ao rapper e ator L7NNON, que, por meio da gravadora Hip Hop Hare, tornou-se seu patrocinador. “Hoje ele me dá a oportunidade de competir que nenhuma marca de surf me deu. Por isso, eu tenho gratidão”. O vínculo entre os dois vai além do contrato. Segundo Weslley, a amizade com o músico começou antes da fama, e o apoio, mesmo que apenas moral, esteve presente desde os primeiros campeonatos. “Ele me dava apoio moral e eu conseguia ganhar. Ele sabe disso. Sempre quando estou com ele, eu agradeço pela pessoa que ele é comigo e pela pessoa que ele me tornou”.
A trajetória de Weslley no surfe começou ainda na infância, nas águas de Itamambuca, em Ubatuba. Foi nas mesmas praias que ele desenvolveu o talento que, anos depois, lhe renderia reconhecimento internacional. Em 2016, aos 18 anos, conquistou o título mundial júnior no ISA World Surfing Games, realizado nos Açores, Portugal. Desde então, coleciona títulos: campeão paulista em 2014, campeão do Circuito Maresia Paulista em 2016, além dos mais recentes troféus nacionais.
Nada disso, porém, foi suficiente para abrir as portas das grandes marcas esportivas. Sua denúncia revela um padrão que já se insinua em outras modalidades: a seletividade racial dos patrocínios. A ausência de negros em campanhas de surfe, tanto no Brasil quanto fora dele, evidencia um recorte social e simbólico que persiste, mesmo com a diversidade crescente nas competições.
No caso de Weslley, talento e resultados não foram obstáculos para o preconceito. E a presença de L7NNON, além de fundamental para que ele continue competindo, representa também uma inversão de papéis. A música, historicamente marginalizada, hoje sustenta o atleta ignorado por um esporte que se vende como democrático, mas ainda seleciona seus protagonistas a partir de critérios que pouco têm a ver com performance.